Conforme a lei eleitoral de nosso país, é proibido “portar aparelho de telefonia celular, máquinas fotográficas e filmadoras, dentro da cabina de votação”. A explicação desta regra é para proteger o livre exercício do direito ao voto secreto, protegendo o eleitor contra eventuais fiscalizações de pessoas mal-intencionadas. Como, por exemplo, de um patrão que possa constranger seus funcionários a votar no candidato dele, e poderia exigir um comprovante caso o voto fosse público.
Assim, o voto dos eleitores brasileiros neste mês de outubro é uma escolha pessoal. Nossa igreja, a IELB, tem uma orientação ajuizada nesse tema político tão relevante, que foi debatido e reafirmado na sua última Convenção Nacional. Ou seja, as congregações e os pastores não devem tomar posição, influenciar nem exercer função política partidária. Bem diferente de outras igrejas e religiões, e, por isso, tanta confusão e divisão no campo político-religioso nestes tempos extremistas e polarizados.
Conforme a lei eleitoral, igrejas, templos e espaços religiosos são classificados como “bens de uso comum”, assim como cinemas, lojas, estádios e mercados. Nesses espaços, é proibido veicular propaganda política partidária de qualquer natureza em época de campanha eleitoral. Mas não é o que acontece, com nítido descumprimento das regras. Nós, da IELB, além de entender que esta lei é justa e sábia, temos as nossas orientações definidas no regimento da igreja e no código de conduta pastoral.
Foi Lutero quem nos deixou este equilíbrio. Há dois escritos básicos do reformador, o “Magnificat” e “Da Autoridade Secular” (Obras de Lutero, v.6), que expõem o entendimento bíblico do reformador sobre a ética política e econômica. Ele sustenta que a direção da igreja “não é outra coisa que pregar a palavra de Deus e com ela conduzir os cristãos, e vencer a heresia”. Já o estado é uma instituição humana que “não pode estender-se ao céu e sobre a alma, mas somente sobre a terra, o convívio externo dos seres humanos, onde pessoas podem ver, reconhecer, julgar, opinar, castigar e salvar”. Por isso a tese de Lutero: “Tem que se distinguir cuidadosamente esses dois regimes e deixá-los vigorar; um que torna justo (cristão), o outro que garante a paz exterior e combate as obras más”.
E se devemos dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus, o Senhor Jesus nos permite ir tranquilos à urna eletrônica, conscientes da importância de escolher segundo a nossa consciência, na liberdade que o Estado e Deus nos oferecem. Sem nunca aceitar que a igreja ou o pastor exerçam sua influência no direito de escolha que cada cidadão tem, segundo a lei dos homens e segundo a lei de Deus.
Percebe-se assim que, mesmo diante das decepções pessoais com o resultado das urnas, vivemos num país com regime democrático, regido por três poderes, executivo, legislativo e judiciário. Nunca será um governo perfeito, sempre com seus erros e injustiças num mundo sob o pecado e suas consequências. E aí vem o papel da igreja na função profética, sem estar comprometida com o poder político, de alertar, orientar e clamar por justiça. Além de orar pelos governantes para que sejam justos e sábios, a igreja deve manifestar seu desejo pela paz e ordem social, ter a coragem de apontar os erros dos políticos e a sabedoria de indicar os caminhos do bem comum.
Sem dúvida, uma grande razão para a igreja nunca tomar partido na política, caso contrário, comprometida, poderá estar com o “rabo preso”.