Dar a César o que é de César

A preocupação dos que se dirigem a Cristo com perguntas sobre a legitimidade de pagar impostos a dirigentes romanos é generalizada. Cristo contorna a questão da convivência conflituada de Estados com o imenso Império Romano. O Mestre leva o debate à reflexão sobre a natureza do reino de Deus em relação a unidades políticas.

Deus opera num universo sem limites. O avanço recente na exploração do cosmo é considerável. O universo observado já sobe a bilhões de galáxias, conjuntos estelares apresentam trilhões de corpos luminosos. O poder de Deus engloba todos. Deus, sem limites, compreende o visível e o invisível. O poder de Deus se mostra na energia, na vida, nas menores partículas. O Criador é soberano e livre, livres são os que atuam no interesse do Criador. O Criador age em pessoas. A liberdade opera em libertados e liberta.

Deus confere ao homem a capacidade de organizar cidades, países. Dar a César significa mais do que pagar impostos. Entendam-se por César quaisquer dirigentes de Estado. Cabe a governantes administrar a justiça, garantir a paz, cuidar do bem-estar de todos. As transgressões são muitas, chefes de Estado costumam apresentar-se como salvadores da pátria, como merecedores de reconhecimento e submissão, perpetuam-se no poder, constroem linhagens, suprimem opositores, requerem homenagem divina. Paixões ultrapassam o respeito devido a investidos de poder, mumificam corpos célebres com a intenção de lhes conferir aparência de imortalidade, levantam pirâmides, mausoléus, estátuas de pedra e de bronze. A riqueza representada pela moeda reveste de ouro cadáveres.

Todos os metais, por mais que durem, são perecíveis, Cristo volta-se à efígie gravada na moeda. A competência de César é limitada. Há outro poder além do poder do imperador. Reverenciar a imagem como exigia César, é considerar o reino de Deus e o Estado uma unidade só. Quem procede assim confunde o bem que excede todos os bens com o bem oferecido pelo Estado. O Estado bem-organizado cuida da circulação, da distribuição de riquezas, do abrigo, da saúde, da instrução. A biopolítica administra a vida dos cidadãos. Totalitário é o governo que restringe liberdades, que invade espaços privados. A vontade de muitos esbarra na liberdade de cada um. Fora do reino de Deus, vive-se no mundo das limitações, das perguntas sem resposta. Contentar-se com os domínios de César é contentar-se com a inconstância, a incerteza, a morte. Quem se limita ao Estado, vive e morre com o Estado. Governantes administram territórios que esbarram em fronteiras, Deus administra o universo.

Defino-me como cidadão e como filho de Deus. Deus é Senhor de vivos. Vivos lutam, sofrem, tombam. O Senhor do universo ampara, socorre, redime. A natureza e o objetivo do reino de Deus revelam-se em ações criativas. A vida sem fim (zoé) está fora da competência do Estado, entra no domínio da vida quem se situa além das ameaças de doenças e da morte, Zoé transcorre como riqueza que envolve a vida inteira.

Cidadãos que habitam o reino de Deus estendem a mão aos demais, empenham-se no bem de todos, aconselham-se com o Criador em projetos que excedem limites, que ampliam horizontes que renovam a vida. Votar, pagar impostos, trabalhar, governar é dar a César o que é de César.

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