Pastor Daniel Norberto Flor

Nasci no dia 6 de março de 1937, como nono filho do pastor Benjamin Germano Flor e de dona Olinda Hermina Erig Flor, no berço da IELB em Colônia São Pedro, município de Pelotas (hoje Morro Redondo), no Rio Grande do Sul.

Desta família, restam hoje apenas os irmãos: pastor David Jonathan Flor, eu e o irmão caçula, o pastor Elmer Nicodemos Flor.

Os seis irmãos mais velhos haviam nascido em Bom Jesus, São Lourenço, RS. Os cinco últimos, a partir do David, nasceram em São Pedro, Morro Redondo.

Como a Paróquia de São Pedro possuía um lote de 13 hectares de terra, meus pais nos levavam à roça para plantar, capinar, colher e cuidar das vacas, cavalos e galinhas. É claro, além do trabalho na igreja e na escola da Comunidade, pois, além de pastor, meu pai também era professor na escola paroquial que funcionava junto à igreja.

Eu cursava a 3ª série, em 1946, quando meu pai recebeu e aceitou o chamado da Paróquia de Morro Pelado, Taquara (hoje Parobé), RS. O sistema era quase o mesmo da localidade anterior, porém, havia pouca terra e apenas um lote de meio alqueire, mais um potreiro dos vizinhos para os cavalos e as vacas.

Havia também a escola paroquial, onde cursei os últimos anos. Nós, irmãos, às vezes até dávamos aulas quando nosso pai atendia as congregações do interior em fins de semana. Geralmente ajudávamos a tomar a lição dos alunos menores. Terminei o curso primário em fins de 1950, quando também fui confirmado.

Como eu queria ser marceneiro, meu pai me fez optar: “Se você for para o Seminário eu te confirmo, do contrário, não”. E, claro, minha opção foi ir ao Seminário.

No Seminário de Porto Alegre, de 1951 até 1954, cursei o Ginasial. Foram os anos da adolescência que firmaram meu caráter. Os anos de 1955 e 1956 foram os de Segundo Grau (Ensino Médio). O terceiro ano nos foi cortado por causa da necessidade de obreiros no campo. Assim, entramos no curso de Teologia no ano de 1957. O ano de estágio foi adiantado para 1958, em Trombudo Central, SC. Foi uma boa experiência para meu futuro ministério. Tive a feliz experiência de atender a 14 comunidades (incluídos pontos de pregação) com uma caminhoneta Ford Modelo A para condução.

No final dos anos 50, mais precisamente de julho a setembro de 1959, fui designado a atender a Paróquia de Cerro Branco, RS, mais de 4.000 membros. Eles estavam sem pastor, e, assim, alguns alunos, teologandos da minha turma no Seminário, atenderam a Paróquia nesse ano.

De volta ao Seminário, nos anos de 1959 e 1960 concluí os estudos de Teologia, formando-me pastor. A formatura se deu em 11 de dezembro de 1960, junto com 13 formandos. Nesse mesmo ano, cursei o primeiro ano de Pedagogia, na Universidade Federal de Porto Alegre, RS, que não concluí porque recebi o chamado de Maripá, PR, nova Paróquia que se desmembrou de Mal. Cândido Rondon, PR.

Em fevereiro de 1961, viajei ao Paraná, levando junto minha saudosa companheira de vida, Rita Zimmer Flor. O casamento se deu em 28 de janeiro desse mesmo ano, em Alto Rolante, RS. Deus abençoou nosso casamento com três filhos, Vitor Joel, Jairo Elias e César Edison, e mais três filhas, Ester Suzana, Elen Cristiane e Leila Adriane.

O culto de ordenação e instalação em Maripá deu-se em 12 de março de 1961, com a presença dos pastores Christiano Joaquim Steyer e Armindo Grams.

A nova Paróquia começou com seis congregações: Maripá, Nova Santa Rosa, Nova Três Passos, Palotina, Palmital e Vila Nova. A Paróquia de Maripá cresceu rapidamente com a afluência de famílias do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e outras localidades do Paraná, atendidas inicialmente de bicicleta, a cavalo, de ônibus de linha regular, depois motocicleta e, mais tarde, com um valente jipe.

Aos poucos, a Paróquia aumentou para mais de 20 localidades. Foram se formando novas Paróquias: Nova Santa Rosa (1965), Assis Chateaubriand (1966), Palotina (1979), Novo Tupãssi, Guaíra, Santa Rita D’Oeste, Mundo Novo (MS), Katuetê (Paraguai) e Pérola Independente.

Em 1970, no primeiro semestre, tivemos a ajuda do estagiário Ary Gueths, e, no segundo semestre, do teologando Raul Blum. Em 1977, auxiliou-nos o teologando Dério Krause.

Fui eleito em Convenção Sinodal como pastor conselheiro do Distrito Sete Quedas, de 1970 a 1973, e uma vez mais nos anos de 1978 a 1981.

Em 1978, a Paróquia chamou o segundo pastor, Adolfo Griep. Trabalhamos juntos por um ano e, em 1979, ele passou a atender a futura Paróquia em formação: Palotina.

Em fins de 1982, em assembleia da Comunidade, pedi demissão. Desde 1969, tornei-me também professor de Letras no Colégio da Campanha Nacional de Educandários da Comunidade, lecionando inglês e português.

Em 1971, lecionei no Ginásio Estadual de Palotina, Extensão Maripá. Aos poucos, o estado do Paraná começou a exigir diploma para poder lecionar. Como tinha família grande para sustentar, vi-me obrigado a estudar Letras Anglo-Portuguesas na Unipar, em Umuarama, PR, de 1973 a 1976. Assim, também me tornei funcionário público do estado do Paraná. Para não prejudicar o trabalho paroquial, optei pela entrega do meu cargo de pastor na Paróquia; foi chamado, então, para pastor da mesma, o pastor Curt Albrecht, de Naviraí, MS, no ano de 1983. Em 1986, devido à transferência do pastor Curt para São Leopoldo, RS, atendi uma vez mais a Paróquia de Maripá por meio ano, até a vinda do pastor Neldo Schmidt.

Em julho e agosto de 1973, tive a ventura de ir aos Estados Unidos com 20 pastores e leigos do Distrito Brasileiro (IELB), como membros votantes na Convenção Mundial da Lutheran Church-Missouri Synod, onde preguei 8 vezes (dois sermões por domingo), em diversas localidades. Foram anos de muita crise na igreja de lá, devido ao liberalismo, sendo fechado o Seminário de Saint Louis, Missouri, devido à desistência dos professores, restando apenas cinco professores ortodoxos.

Aposentei-me como professor do estado do Paraná no ano 2000. Ainda segui lecionando até 2004, quando encerrei definitivamente a carreira de professor.

Tenho sido fiel à minha igreja até hoje. Recebi da Diretoria Nacional da IELB, em 18/02/2013, o título de Pastor Emérito, como reconhecimento pelo trabalho aqui realizado nas congregações e paróquias do Oeste do Paraná.

Sou grato por Deus ter-me abençoado a mim e à minha Família, apesar de ter levado para o lar eterno minha querida esposa Rita, em 3 de junho de 2020, mãe de meus 6 filhos e sacerdotisa do nosso lar. Deus nos abençoou com dez netos e seis bisnetos.

Sempre participei do canto coral: nas escolas primárias São Pedro e Morro Pelado, onde sempre cultivávamos o canto com até três vozes diferentes. No Seminário, eu participava do coral misto da Comunidade Concórdia, do coral masculino do Seminário, dirigido por pai e filho Rottmann, o Coral Juvenil (Hans G. Rottmann), o Coral Misto Luterano de Porto Alegre (Hans G.R.). Cheguei a cantar no Coral da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Também em Cerro Branco e em Trombudo Central tive a ocasião de dirigir corais. Aqui em Maripá, sempre ensaiei diversos corais. A Comunidade de Maripá teve coral desde o começo, dirigido por mim e depois pelos pastores que me sucederam. Até hoje ainda canto neste coral, ciceroneado por dois cantores com mais de 90 anos.

Embora não tivesse tido a oportunidade de fazer curso de pós-graduação em Teologia e Letras, consegui-o em Pedagogia Religiosa pela Universidade São Francisco, de Bragança Paulista, SP – que oferecia cursos periódicos em Curitiba, PR, durante os anos 1987-1990 – com a finalidade de lecionar Ensino Religioso, o que fiz por alguns anos no Colégio Estadual Pio XII, em Maripá.

Também recebi uma homenagem especial da Prefeitura e Câmara Municipal de Maripá, como o primeiro pastor do município, em 28/08/2008.

Recebi de diversas congregações da Paróquia certificados com homenagem de gratidão pelo trabalho realizado. Agradeço a elas e especialmente a Deus por ter-me capacitado e habilitado a trabalhar em seu Reino.

Aposentado e como pastor emérito, continuo contando com a presença de Deus em minha vida e na de meus familiares. Procurarei servi-lo até estar com ele em seu Reino Celestial! (Daniel Norberto Flor)

 

Depoimento do irmão caçula Elmer

Fomos buscar o depoimento do irmão caçula Elmer, que é o sétimo dos irmãos Flor a se formar pastor. Ele é pastor emérito da FELSISA, igreja luterana irmã da África do Sul, tendo exercido por sete anos o pastorado na Congregação St Paul’s, de Johanesburgo. Ele diz:

 

“O mano Daniel foi meu companheiro de infância na Colônia São Pedro, em Morro Redondo, na mais antiga congregação da IELB, quando nosso pai pastoreou ali por 14 anos. Tenho lembranças calorosas de nossa vida em família e dos primeiros anos de escola, tendo nosso pai como professor.

 

Daniel foi mentor e guia fraterno nos meus primeiros anos de pré-seminário, como irmão conselheiro. Foi centroavante do time de futebol do Seminário e primus (primeiro lugar) de sua classe nos estudos. Formou-se pastor quatro anos antes e recebeu o chamado de Maripá, PR, tendo sua classe sido a mais numerosa a se formar até então. As solenidades de formatura eram sempre realizadas na capela do Seminário, no Mont’ Serrat. A sua turma foi a primeira a celebrar a formatura no templo da Comunidade Cristo, em Porto Alegre, RS. Lembro que a maioria deles recebeu chamado para o oeste e norte do estado do Paraná. 

 

O pastor Daniel atuou em Maripá numa verdadeira frente missionária, e várias filiais, a partir de Maripá, constituíram paróquias, hoje em pleno florescimento. Dedicou-se à música e formou corais nas congregações. Seu filho Vitor seguiu as pegadas do pai, e hoje atua no pastorado em Criciúma, SC, destacando-se igualmente na área da música e do canto coral. Também exerceu a atividade de professor de línguas em escolas de Maripá.

 

Somos, juntamente com David, os remanescentes dessa geração de sete irmãos pastores, filhos do também pastor Benjamin Germano Flor, que emigrou da Ucrânia para o Brasil como bebê de 9 semanas, em 1890, e de sua esposa Olinda Erig Flor, mãe dedicada e parteira de mais de mil partos, e que em seu parco lazer se dedicava à pintura, deixando diversos quadros que honram a sua memória.

 

Este meu relato é de fundo histórico, mas cito ainda a fé e a esperança que nos unem em nossa missão comum, de levar Cristo para todos, uma missão de vida que continua, mesmo como eméritos, enquanto o bom Deus o permitir.”

 

(Obs.: Com o apoio dos filhos Jairo e Vitor (pastor) e do irmão Elmer)

 

Carlos Walter Winterle

Pastor emérito

[email protected]

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias Relacionadas

Ações de Graças em todo tempo

Célia Marize BündchenPresidente da Região Catarinense “Graças dou por esta vida.” Assim inicia um belo hino que certamente todos nós gostamos de...

Veja também

Ações de Graças em todo tempo

Célia Marize BündchenPresidente da Região Catarinense “Graças dou por esta...

No coração, a guerra. Na Bíblia, a paz

Assista à reflexão do pastor Paulo Teixeira, secretário de Relações Institucionais da SBB, baseado em 2Co 5.18

Aos aflitos

Ao corpo de Cristo pertencem pessoas que se lembram de nós que se aproximam de nós com afeto. A presença do Criador em suas criaturas afasta o medo. João nos garante que podemos caminhar com absoluta confiança, mesmo em época de crise.