Qualquer desastre natural tem como característica a imprevisibilidade de sua extensão e grau. E a consequência imediata são as perdas. Mesmo quem não é afetado sofre, pois é natural envolver-se na reconstrução da vida das pessoas atingidas.
Toda a criação, em especial os seres humanos, convivem com catástrofes desde a queda em pecado, no jardim do Éden. O veredito de Deus à desobediência de Adão e Eva é: “Maldita é a terra por sua causa; em fadigas você obterá dela o sustento durante os dias de sua vida” (Gn 3.17). O apóstolo Paulo se reporta ao tema dizendo: “Porque sabemos que toda a criação a um só tempo geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.22,23).
Os desastres acompanham a vida humana. E quando acontecem para uma família, uma cidade ou uma pequena localidade, geram o mesmo sofrimento aos atingidos, como a de maio de 2024, que atingiu centenas de municípios e milhares de pessoas.
A dor da perda é medida por quem foi atingido e não pelo número de atingidos. Aprendemos que, em um desastre, a cidade fica tomada por memórias e histórias de pessoas, amontoadas pelo caminho, que de forma descuidada nós chamamos de entulho ou lixo.
Em situações isoladas ou de grande extensão, algumas coisas se repetem. A dor de quem perdeu e a voluntariedade para ajudar. Ao lado disso também o rápido esquecimento da parte daqueles que não foram afetados. O outro aspecto é o que escolhemos lembrar de cada desastre.
As marcas da perda doem. E as ações de amor e de solidariedade aliviam a dor. Nós podemos escolher algumas marcas para guardar. Podemos marcar o ano de 2024 na nossa vida pelas perdas que milhares de pessoas tiveram nas enchentes no Rio Grande do Sul, ou podemos marcá-lo pelas milhares de toneladas de doações e milhões em dinheiro que foram doados para proteger e reconstruir a vida das pessoas atingidas. Podemos falar da experiência ímpar vivida na ajuda à cidade de Mimoso do Sul, no Espírito Santo, e a mobilização das congregações da IELB no estado capixaba, que enquanto buscava atuar na sua região, foi inundada pelas necessidades no Rio Grande do Sul. Podemos falar da seca que assolou muitas regiões do Brasil, como também as queimadas na região norte, que praticamente foram ignoradas como desastres, mas causaram perdas gigantescas para muita gente, como também tomaram parte importante do orçamento familiar para tratar de problemas respiratórios e outras doenças causadas.
Ao olharmos para fora do Brasil, percebemos que os tornados nos Estados Unidos foram acima da média e por longo tempo. E se olharmos para as guerras e as injustiças que geraram sofrimentos e perdas, sofremos junto.
Por isso, o nosso foco é a gratidão!
Certamente muita coisa poderia ter sido diferente e até melhor, mas quando olho ao redor vejo pastores, servas, leigos, jovens e crianças ainda atuantes, seja na região atingida, como no Brasil afora, enviando doações e recursos financeiros. Os departamentos destinaram muitas doações: escola dominical, jovens, leigos e servas. Em especial, muitos departamentos de servas adotaram como seu projeto de multiplicação de talentos os desafios da resposta a desastres. Já registramos R$ 2.850.296,68 (até 30.09.24) de doações por meio do Fundo de Resposta a Desastres da IELB, mas reconhecemos que um grande volume de recursos foi doado diretamente a famílias e congregações nas regiões atingidas.
A comoção passou. Os dividendos políticos que estavam em pauta, passaram. O voluntarismo que necessitava de constantes postagens para mostrar-se envolvido, passou. É preciso afirmar: existem sim, pessoas, organizações, igrejas e governos locais atuando. Mas eu quero destacar que o nosso povo luterano (IELB) continua atuando. Todas as semanas, pastores e congregações continuam atuando e planejando ações de restauração de vidas. Todas as semanas, vêm doações, e são destinados recursos. O desastre ainda não passou porque ainda tem pessoas precisando das nossas orações, apoio e doações. A resposta ao desastre ocupa pessoas na linha de frente, mas também em lugares distantes, onde orações e doações continuam sendo mobilizadas.
Todas as congregações já têm cultos em seus templos, embora ainda falte reconstruir muito em alguns templos. As famílias vão reestruturando sua vida. As lavouras destruídas não darão colheitas por algum tempo. Mas as mãos dadas nos fortalecem mutuamente.
Pastores e lideranças se mostraram fortes e gigantes na proteção à vida. A atuação recebe respeito de autoridades que homenageiam e reconhecem a atuação despretensiosa e ousada em meio ao caos. Irmãos de outros países, como Estados Unidos, Canadá, México, Alemanha, Portugal, Argentina, Panamá, Paraguai, Uruguai e tantos outros, oraram a Deus pelo nosso povo, mas também mobilizaram recursos e doaram para reconstruir histórias de pessoas e famílias.
Reconhecendo o papel dos pastores no cuidado humano em meio ao desastre, irmãos da LCMS ofereceram e financiaram uma conferência de cuidado humano a pastores e esposas, realizada em julho. E estão auxiliando na produção de conteúdo e treinamentos em 2025.
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