Quando imaginaríamos que, lá nos abraços de feliz 2020, teríamos um ano tão diferente? Mas nessa rotina de se reinventar em um novo normal, o tempo vai passando e já estamos no mês de setembro. E neste mês o Senhor Deus nos brinda com uma época especial, que serve como bálsamo, colírio e perfume aos nossos sentidos e também ao coração. Setembro é tempo de primavera, de flores coloridas e perfumadas, de novas folhas verdinhas e cheias de vida, de pássaros cantando a festejar pela intensidade da vida que está de volta, mais uma vez.
Esta estação das flores é ainda mais acentuada aqui no sul do Brasil, pois ela contrasta com um inverno úmido, frio e cinzento. E é justamente nesse cenário de inverno que a natureza parece se recolher, onde árvores ficam sem folhas, onde os jardins não são tão coloridos e os pássaros parecem cantar discretamente. Mas basta chegar a primavera, que esse cenário vai sendo transformado lentamente. Aos poucos, a intensidade da vida é percebida em uma nova primavera com a qual Deus nos brinda.
Com essa maravilha da natureza bem diante de nossos olhos, somos lembrados pela própria criação de que a vida nem sempre se vive de forma intensa. Às vezes é preciso recolher-se, perder folhas e diminuir o ritmo. Quem sabe seja assim que nos sintamos em plena pandemia. Os dias de Covid-19 são como os dias pesados e cinzentos de inverno, sem calor humano, com temores diversos, tempo de pessoas distantes e sem abraços. Ah, como aguardamos ansiosamente pelos dias de primavera, do retorno da intensidade da vida, dos encontros, das igrejas lotadas, dos congressos maravilhosos, dos abraços, das visitas!
Nesse contraste entre inverno e primavera, entre pandemia e a tão desejada vida normal, há um versículo que renova nossa esperança no Senhor. É o salmo 30.5, que nos diz assim: “A sua ira dura só um momento, mas a sua bondade é para a vida toda. O choro pode durar a noite inteira, mas de manhã vem a alegria”. A vida também é composta por noites de choro, por invernos cinzentos, por uma pandemia e seus desdobramentos – como a nossa geração está experimentando. Mas a fé em Cristo nos convida a erguer o olhar, mesmo que esteja cansado e com lágrimas, e a perceber que a manhã da alegria chegará com seus encantos.
Depois do choro arrependido, é tempo de desfrutar do perdão salvador. Depois da solidão, é tempo de desfrutar da boa companhia. Depois das fraquezas e das dúvidas na fé, é tempo de estar fortalecido em Cristo. Depois de estar longe do Senhor, é tempo de abrigar-se em sua proteção. Depois de carregar fardos de dor e saudade, é tempo de reencontrar com os que nos fazem falta. Depois de sofrer com a morte, é tempo de festejar a ressurreição. Consolador é saber que estes novos tempos de alegria e consolo não são frutos de nosso intelecto, mas presentes de Deus, conquistados por Jesus, que carregou em sua cruz os nossos dias mais cinzentos e horrendos.
A primavera celeste e a derradeira manhã da alegria já começaram, foram inauguradas com a ressurreição de Jesus. Quem sabe ainda não sintamos em sua totalidade os perfumes desta primavera celestial, mas já podemos ouvir de longe os pássaros cantando a cada momento em que somos abraçados pelos meios da graça. A cada ouvir da Palavra temos nossos sentidos e nosso coração abastecidos com o amor de Deus que nos lembra: os dias de primavera virão!
Bruno Serves
Pastor em Candelária, RS