A guerra na Faixa de Gaza começou faz tempo, foi lá quando Isaque e Ismael se desentenderam na partilha da herança feita pelo pai Abraão. Desde o tempo bíblico, são quatro mil anos de brigas entre os descendentes destes irmãos por disputas de terras – conflitos que ecoam em todos os lugares, seja por desavenças familiares, discórdias na sociedade, brigas políticas – enfim, neste mundo de confusão onde cada qual luta por “seus direitos”.
O atual conflito nas terras onde Jesus pisou, no entanto, levanta um assunto oportuno com respeito a certas promessas na Bíblia. Não é por nada que igrejas levantam a bandeira de Israel e ostentam a estrela de Davi, tudo por conta de interpretação bíblica incorreta sobre a “restauração de Israel”.
Todos sabem que o principal ensinamento cristão está baseado na promessa feita a Abraão de que dele nasceria o Messias, uma bênção para as pessoas do mundo inteiro (Gn 12.3). Esta promessa se cumpriu em Jesus, conforme a fé nas revelações do Novo Testamento. O judaísmo e o islamismo, no entanto, ainda aguardam a chegada do messias, descendente de Isaque ou de Ismael. Seria apenas uma disputa religiosa entre os que seguem a Torá e os que seguem o Alcorão se a Terra Prometida não fosse a mesma herança nessa confusão milenar. Mas, e as igrejas cristãs que apoiam o atual Estado de Israel? Onde entram nesta história?
O sionismo cristão acredita que o retorno dos judeus à Terra Santa e o estabelecimento do Estado de Israel em 1948 são cumprimentos finais da profecia bíblica sobre a restauração de Israel. Por isso, tais religiosos defendem os judeus de hoje como “povo de Deus”, e os palestinos, como “inimigos de Deus”. Essa interpretação errada da Bíblia tem solo fértil na teologia da prosperidade, que promete a “terra prometida” pela conquista da riqueza material, saúde, paz e felicidades terrenas, pregação que atrai multidões. E por isso, também, a invasão dessas igrejas no campo da política partidária, convencendo seus seguidores que elas são representantes de Deus e os opositores são seguidores do diabo.
Antes de subir aos céus, Jesus deixou claro aos seus discípulos sobre quando ele iria “devolver o Reino para o povo de Israel”. Disse que isso não interessava para eles, mas que deveriam ser suas “testemunhas” em todo o mundo (At 1.8). O reino terreno de Israel no Antigo Testamento foi apenas uma testemunha, um instrumento do amor de Deus concretizado em Jesus – amor que contraria a paixão humana por glórias terrenas, poder, reinos, enfim, por tudo isso que gera ganância, ódio e guerras. Por isso, então, a resposta do Salvador a Pilatos: “O meu reino não é deste mundo”.