Setembro é o mês no qual somos desafiados a refletir mais profundamente sobre a nossa pátria, afinal, foi no dia 7 de setembro de 1822 que foi proclamada a independência do Brasil.
Neste ano em que celebramos os 199 da independência do Brasil, vemos o nosso país mergulhado numa profunda crise política, econômica, social, moral e ética. E o que é pior: as autoridades (do executivo, do legislativo e do judiciário), que deveriam estar atuando para reverter a situação, estão cada vez mais em rota de colisão, enfraquecendo cada vez mais as estruturas que dão sustentação à nossa nação.
O incrível é que o caos está se instalando num país em que mais de 80% da população se declara cristã. O que está errado? Será que Deus não está correspondendo às expectativas e às necessidades do povo brasileiro? Será que Deus não está realizando o que ele prometeu no versículo 12 do salmo 33? É evidente que o problema não está em Deus, nem na sua Palavra! O problema certamente está em nós, brasileiros.
É importante frisar que Deus – em seu poder, amor e graça – tem as suas formas de agir. Muitas vezes ele age de forma imediata, sem meios, para realizar a sua soberana vontade. No entanto, muitas vezes, ele age de forma mediata, através de meios, para realizar a sua santa vontade. Quando deu mandamentos aos seus filhos (Êx 20.1-17), ele mostrou claramente o quanto quer agir em seus filhos e por meio de seus filhos. O reformador Martinho Lutero entendeu bem isso e o transmitiu de forma clara ao dizer na explicação de cada um dos Dez Mandamentos: “Devemos temer e amar a Deus e, portanto…”. Ou seja, o amor de Deus e o temor e amor a ele devem nos mover a amá-lo acima de todas as coisas e a amar ao próximo como a nós mesmos!
É exatamente aqui que reside o grande problema em nosso país e no mundo: na falta de temor e amor a Deus e, consequentemente, na falta de amor ao próximo. Nos primeiros séculos da era cristã, mesmo sob forte perseguição, os cristãos transformaram o Império Romano e o mundo exatamente com esta receita: temor e amor a Deus e amor ao próximo (At 2.42-47). Não há relatos na história da igreja primitiva de que os cristãos tentaram cristianizar o estado fazendo uso de qualquer estratégia ou da força, mas temos muitos relatos que mostram a forma como eles recebiam o evangelho, viviam o evangelho e compartilhavam o evangelho em palavras e ações. E era este estilo de vida, moldado no evangelho, vivendo em Cristo e por Cristo, que fazia deles sal da terra, luz do mundo, o bom perfume de Cristo, e desta forma Deus exercia o seu senhorio e alcançava mais e mais pessoas; alcançando, inclusive, o imperador, Constantino, por volta do ano 312. A história nos mostra que “o povo que Deus escolheu para a sua herança” é um povo que tem um jeito diferente de viver, um jeito moldado na graça a e na santa vontade de Deus, e é neste povo e por meio deste povo que Deus reina e faz a nação ser abençoada e feliz.
Portanto, não é por decretos nem por pacotes governamentais que se constrói uma nação próspera, justa e feliz, embora eles também sejam importantes. Também não é através de um artigo na Constituição Federal que se estabelece que Deus é o Senhor da nação. A presença e o reinado de Deus acontecem no povo e por meio do povo que ele escolheu para sua herança, isso, por meio da vida cristã, justa e piedosa de seus filhos e filhas.
Geraldo W. Schüler
Pastor presidente da Igreja Evangélica Luterana do Brasil