Histórias da vida e do trabalho de pastores da IELB

Histórias da História

São 23 biografias, dezenas de relatos e mais de 200 fotografias que mostram o cotidiano, o linguajar, a geografia, a fauna, a flora, a economia, o ambiente político e social de um período importante da igreja e da história do brasil. São narrativas pessoais, testemunhos vivos, sentimentos francos e emoções vividas pelos missionários e suas famílias, resgatando as circunstâncias mais íntimas e veladas de então, algo que as narrativas estatísticas e os relatos oficiais publicados na época nem sempre evidenciaram. Histórias da História traz retratos da vida e do trabalho de pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). Os relatos revelam:

– a coragem e a dedicação com que os recém-formados pastores, muitas vezes sem treinamento adequado, abraçaram o desafio de atender espiritual e culturalmente as famílias dos imigrantes que tinham abandonado a Europa e desbravavam os sertões do Brasil;

– os sentimentos e as emoções das esposas que acompanharam seus maridos a terras inóspitas e distantes; enfrentaram saudades da família, falta de comodidades domésticas já existentes na pátria longínqua e carência de medicamentos e recursos médicos para seus filhos;

– a emoção dos filhos que, embora sofressem muito com a ausência do pai no dia-a-dia do lar, reconheceram o zelo e o carinho de seus pais para com a missão, adequando-se também a uma vida não raro distante de avós, tios e primos, e submetendo-se ainda a fazer novas amizades com colegas, alunos e vizinhos desconhecidos toda vez que o pai aceitava um chamado para outra localidade, sob outras condições;

– o romantismo das narrativas de longas viagens, caminhos e atalhos incrustados na mata, agruras da vida selvagem, rios, regiões desabitadas ou povoadas por assaltantes;

– a grande carência e absoluta necessidade que as famílias dos colonos assentados de então passavam sem igreja para sua família, sem escola para seus filhos, sem vida cultural e social apropriadas para quem já estava privado materialmente de tanta coisa;

– a calorosa acolhida que a maioria das congregações e famílias dispensava ao pastor que atendesse seu chamado, buscando compensar a falta de utensílios domésticos com carinho e generosa hospitalidade.

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Leia a introdução do livro

Nos meios empresariais modernos costuma-se dizer que “só olha para o passado quem não tem mais futuro”. Tal pensamento enfatiza o espírito empreendedor tão presente na construção de sonhos, famílias, empresas, comunidades e vidas. O espírito dinâmico agrega valores e conteúdos à pessoa em particular, e favorece o desenvolvimento de núcleos coletivos, nos quais indivíduos estão inseridos. O desenvolvimento do intelecto e o aumento de posses, tanto quanto a formação de empresas, sociedades e dinastias, têm como mola propulsora o olhar direcionado à frente, ao futuro. Esta ideia de progresso tem, embutida em si, a fronteira da vanguarda que, constantemente, vai desbravando o futuro, o aperfeiçoamento e a otimização.

Nosso Senhor Jesus concorda com este prisma ao afirmar: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus (Lucas 9.62)”.

Por outro lado, não é menos importante registrar a origem e as circunstâncias destes sonhos, famílias, empresas, comunidades e vidas. Fatos, números, atos e objetos são testemunhas no tempo. Indicam a direção e o contexto que os eventos, personalidades, situações e sentimentos tomam rumo ao futuro. Sem este registro do ontem, como entender o hoje que potencializa o amanhã? Documentos, objetos, pinturas, fotografias, mapas, livros, filmes, escolas, cursos, treinamentos, pesquisas, bibliotecas e museus, corporificam este registro. Bem entendia o estatístico e historiador da IELB, Rev. Carlos Henrique Warth, de que “quem não honra o passado, não tem direito ao futuro”.

O apóstolo Paulo a isto se refere ao declarar: “Pois tudo quanto outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência, e consolação das escrituras, tenhamos esperança (Romanos 15.4).” E “estas coisas lhes sobrevieram como exemplos, e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos tem chegado (1 Coríntios 10.11).”

Desde que Adão e Eva passaram a seus descendentes boa parte do que Deus lhes concedera vivenciar, tornou-se importante, precioso e vital, o repasse das informações, para benefício do povo de Deus, da história e da cultura humana. E o fizeram oralmente, de pai para filho, de avô para neto. Moisés e os profetas, inspirados por Deus, passaram a registrar, por escrito, os ensinamentos do Senhor e a história do povo de Deus. Quando o Senhor Jesus enviou seus discípulos a todas as nações, também as ações dos apóstolos e discípulos bem como a doutrina do evangelho salvador “foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome (João 20.31).” O próprio cânon do Novo Testamento, depois dos quatro evangelhos que contam as ações e ensinamentos do Filho de Deus, arrola, antes das epístolas, o livro que tem como conteúdo o próprio título “Atos dos Apóstolos” registrando a história das comunidades apostólicas e do povo de Deus.

Particularmente, a história da igreja é o registro desta cultura adquirida que permite conhecer, em detalhes e sob enfoques pessoais, as ocorrências e circunstâncias que permitiram a construção de uma trajetória abençoada e rica em atitudes de fé, desprendimento, misericórdia e dedicação a Deus e a seu povo. Escrita, pergaminhos, imprensa e, mais recentemente, a informática, são instrumentos para estudo, educação, investigação e treinamento a bem dos filhos de Deus, o progresso da igreja e o benefício de toda humanidade.

Isto motivou também os autores de primeira hora da Missão Luterana Brasileira. Os missionários que delinearam os primeiros passos da IELB, ao lado do amor às almas e às famílias, revelaram amor ao registro histórico e respeito à cultura em terras brasileiras. Souberam eternizar em fotos e documentos, preservando objetos e exemplares que trazem para hoje os preciosos aspectos da vida, solenidades e belezas da missão luterana que engatinhava no início do século XX no sul do Brasil.

Ao comemorar o primeiro centenário da IELB, a igreja achou por bem publicar registro desta história em dois volumes (Um Grão de Mostarda I[1] e Um Grão de Mostarda II[2]) e a 2ª edição de Crônicas da Igreja (revisada e ampliada)[3]. São obras de fôlego, indispensáveis à consideração por parte de todo aquele que busca conhecer amiúde o trabalho missionário luterano no Brasil e as bênçãos divinas derramadas sobre a vida de suas congregações, entidades e ministério. A ilustração destes textos foi enriquecida graças ao importante e rico acervo do Instituto Histórico da IELB, material gentilmente doado e recolhido, ano a ano, e que está sendo paulatinamente catalogado com vistas ao futuro Museu da IELB.

Ainda a propósito do centenário, o presidente da IELB, Rev. Dr. Carlos Walter Winterle, a partir de uma conclamação publicada em diversos periódicos da LC-MS[4], passou a receber grande número de documentos, testemunhos, cartas, fotos e objetos. Tal material foi gentilmente enviado pelos missionários, familiares ou descendentes dos pioneiros em grande parte residentes nos Estados Unidos. São narrativas pessoais, testemunho vivo, sentimentos francos e emoções vividas pelos patriarcas da IELB, resgatando as circunstâncias mais íntimas e veladas de então, algo que as narrativas estatísticas e relatos oficiais publicados na época nem sempre evidenciaram.

Estava criado um nicho de material importante para a história da igreja: pouco matemático e objetivo em si, mas muito pessoal e cheio de demonstrações de fé e calor missionário. Não seria justo que este material que vem se avolumando à medida que mais colaborações chegam ao Centro Administrativo, ficasse confinado ao Instituto Histórico nem ausente do projeto de resgate histórico da IELB. Assim, decidiu-se publicar este “Histórias da História da IELB”, contemplando a versão diretamente vivenciada, com resgate do enfoque mais familiar, humano e particular.

Estes documentos são mais que apenas fragmentos de nossa história. São relatos fiéis de trabalho, zelo, subjetividade, linguajar, geografia, fauna, flora, economia, política social e educação. Levantam o pano de um período importante da própria História do Brasil e do planeta e nos oferecem uma visão real de uma época muito característica e riquíssima de nosso passado, temperados com emoção. Salientam, sobretudo:

– a coragem e a dedicação dos recém formados pastores, muitas vezes sem treinamento adequado, abraçaram o desafio de atender espiritual e culturalmente as famílias dos imigrantes que tinham abandonado a Europa e desbravavam os sertões do Brasil;

– os sentimentos e emoções das dedicadíssimas esposas que acompanharam seus maridos a terras inóspitas e distantes; enfrentaram saudades da família, falta de comodidades domésticas já existentes na pátria longínqua e absoluta carência de medicamentos e recursos médicos para seus filhos[5];

– a emoção dos filhos que, embora sofressem muito com a ausência do pai[6] no dia-a-dia do lar, reconheceram o zelo e o carinho de seus pais para com a missão, adequando-se também a uma vida não raro distante de avós, tios e primos, e submetendo-se ainda a fazer novas amizades com colegas alunos e vizinhos desconhecidos toda vez que o pai aceitava um chamado para outra localidade, sob outras condições[7];

– o romantismo das narrativas de longas viagens, caminhos e atalhos incrustados na mata, agruras da vida selvagem, rios, regiões desabitadas ou povoadas por bandoleiros;

– a grande carência e absoluta necessidade que as famílias dos colonos assentados de então passavam sem igreja para sua família, sem escola para seus filhos, sem vida cultural e social apropriadas para quem já estava privado materialmente de tanta coisa[8]; e

– a calorosa acolhida que a maioria das congregações e famílias dispensava ao pastor que atendesse seu chamado buscando compensar a falta de facilidades eletrodomésticas com carinho e generosa hospitalidade.

O primeiro documento apresentado, a carta de 1942 redigida pelo Rev. Conrad Lehenbauer e remetida a colegas pastores e familiares de pastores que já haviam retornado aos Estados Unidos, é emblemático. Revela amor à missão brasileira, alegria pela chegada de boas notícias, remobilização constante e continuada em forma de Ação entre Amigos, além de divulgar informações que propiciassem angariar maiores recursos a serem encaminhados à Comissão Missionária. A carta evidencia também, por que não, sintomas de saudade e carinho pelo país que conquistou o coração dos que, com sua pregação e pastorado, conquistaram almas para Jesus.

Os demais relatos e documentos foram ordenados de forma cronológica, isto é, obedecendo a sequência de datas do efetivo início de trabalho de cada missionário em terras brasileiras.

As biografias, colocadas imediatamente antes dos textos a que dizem respeito, elencam dados obtidos junto ao próprio texto, ou a correspondências de familiares, publicações e revistas da IELB[9], e dos EUA[10], bem como aos livros “25 Jahre unter dem Christlichen Kreutz”[11] e “Crônicas da Igreja II”.

Somos muito gratos a Deus por ter concedido à sua igreja estes obreiros, pastores e professores e congregados, que – com suas amadas famílias – serviram seu Salvador em terras para eles estranhas e se tornaram para todos nós exemplo e incentivo. Somos gratos à igreja que nos ensejou a oportunidade de registrar pelo menos uma pequena fração das muitas bênçãos divinas daquele período.

Estou certo que estes registros constituem importante contribuição à história da Igreja Evangélica Luterana do Brasil e substancial acréscimo às informações e documentos das congregações arroladas, bem como agradável leitura de edificação pessoal.

Que todos os queridos leitores se sintam incentivados a aceitar desafios evangelísticos em nome do Senhor Jesus e de sua igreja. Que sejam igualmente tomados de grande zelo pelo trabalho missionário realizado por suas congregações, mobilizando dons, conhecimentos e fervor, tanto em orações, ofertas e colaborações em favor de toda igreja e seus programas.

Vendo e vivendo o que os patriarcas já passaram, delineia-se clara e convincentemente a trajetória que nos cabe trilhar, fortalecidos pela experiência de nossos pais, acalentados pela fidelidade de nossas mães, entusiasmados por tantos que, em tantos lugares e junto a tantas famílias fiéis e tementes a Deus, emoldurados pela fé e pela coragem, escreveram esta linda história da IELB.

Finalmente, sintamo-nos todos instigados a registrar também nossas experiências e sentimentos, oferecendo nosso testemunho de como nós estamos sendo usados por Deus no desenvolvimento de sua igreja, cumprindo nosso ministério. Se anjos anunciam e louvam as obras do Senhor, quanto maior deve ser nossa motivação e empenho, uma vez que nós somos o objeto e a finalidade direta do evangelho salvador do Deus encarnado, que traz Cristo para Todos, Ontem, Hoje e Sempre.

Rev. Martinho Krebs

Organizador


[1] Texto de Mario Luis Rehfeldt, Editora Concórdia

[2] Texto de Paulo Wille Buss, Editora Concórdia, no prelo

[3] Texto de Rony Ricardo Marquardt e Carlos Henrique Warth

[4] Lutheran Church – Missouri Synod

[5] quase todos nascidos na própria casa paroquial.

[6] Às vezes por semanas, para atenderem localidades distantes.

[7] Todos, ao encaminhar documentos e fotos, demonstraram alegria e entusiasmo por esta parte histórica de suas vidas. Passados muitos anos, continuam se relacionando com amigos da infância, ofertando e organizando campanhas para levantamento de recursos para a missão no Brasil, e alguns até voltam para um contato direto e amigo aqui em nossa terra.

[8] Algumas famílias viveram grandes frustrações em razão de promessas não confirmadas nem cumpridas e que obrigaram algumas famílias até a retornar ao país de origem.

[9] Kirchenblatt, Mensageiro Luterano e Igreja Luterana.

[10] The Lutheran Witness e New Harwest.

[11] de Otto H. Beer.

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