No dia 21 de março deste ano, um avião com 132 pessoas caiu na China, tirando a vida de todos os passageiros e tripulantes. O acidente chamou a atenção pela forma da queda. O que teria acontecido? Após três meses de investigação, uma conclusão chocante. “O avião fez o que foi mandado por alguém na cabine”, disse um perito que analisou a caixa preta. Uma tragédia semelhante ao desatino de um copiloto alemão que, em março de 2015, derrubou deliberadamente nos Alpes franceses o avião que pilotava, causando a própria morte e de outras 149 pessoas.
São histórias chocantes entre tantas que nos deixam aflitos numa sociedade com sérios transtornos mentais. Como foi o caso de um empresário em Porto Alegre, no último mês de abril, que matou a esposa, a mãe, o filho e a sogra, e depois cometeu suicídio. No dia seguinte, não muito longe do local, um policial militar fez a mesma coisa quando, antes de cometer suicídio, matou a mulher, o sobrinho, e feriu o filho. Existe grande discussão sobre o contágio destas notícias veiculadas, com potencial para provocar histórias semelhantes. Em todo o caso, situações como estas assustam nestes tempos com tanta gente transtornada.
Não sou alguém capacitado para falar desses temas, no entanto, na tarefa do aconselhamento pastoral, me sinto cada vez mais provocado sobre o que se passa na mente do ser humano numa sociedade que hoje se caracteriza pelos transtornos mentais. É preciso dizer que o Brasil lidera o ranking mundial nas “doenças do século 21”, ou seja, somos campeões em problemas de ansiedade, depressão e outros transtornos. Um psicólogo e doutor em saúde coletiva sugere que “as mudanças nas relações interpessoais e na organização dos processos de trabalho fazem com que algumas pessoas fiquem mais vulneráveis ou sofram maior impacto na sua qualidade de vida e na sua saúde mental”. Diante disso, quando somos também campeões no uso das redes sociais, estudos comprovam os impactos negativos da utilização excessiva dessas plataformas na internet na saúde mental dos usuários.
Cabe a nós, da igreja, compreensão e sensibilidade com esta nova e complexa situação humana. Somos convocados a ir por todo o mundo e pregar o evangelho. E a boa notícia do amor de Deus que vem da cruz de Cristo nos leva a seguir o exemplo do bom samaritano, quando as feridas da mente causadas pelos salteadores da modernidade precisam ser curadas – para que esta cura alcance também a alma. Num tempo quando as doenças agrediam mais o corpo, Paulo recomendou para não viver como as pessoas do mundo, e completou: “Deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom e agradável a ele” (Rm 12.2). A completa mudança da mente é a transformação que o evangelho provoca na vida de uma pessoa através do perdão dos pecados. Essa certeza do amor de Deus também coopera na cura de muitas doenças psíquicas.
Vale dizer o que a Organização Mundial de Saúde define como saúde mental: “Um bem-estar no qual o indivíduo desenvolve suas habilidades pessoais, consegue lidar com os estresses da vida, trabalha de forma produtiva e encontra-se apto a dar sua contribuição para sua comunidade”. Nós, cristãos, não temos dúvida disso, aquele que conhece e vive a vontade de Deus tem grandes habilidades pessoais para enfrentar os problemas e, assim, ter saúde mental. E certamente poderá contribuir com alegria e eficácia na sua comunidade. Afinal, foi para isso que Deus nos entregou um corpo e uma mente, para servir aos outros, levando a vida e não a morte.