Fogos em festa

Andamos por corredores, ruas, estradas, prados, escalamos montes, atravessamos mares, mergulhamos no azul celeste, visitamos o inusitado, encontramos novas fisionomias, estabelecemos outras relações. Aceleram-se transformações, a vida surpreende do nascimento à morte. Solicitações aparecem, mudam, somem, ressurgem. Multiplicam-se ocupações. Seduzem-nos apelos, acertamos e erramos, a aprendizagem é de vida inteira. Unidades se fragmentam, caminhos se diversificam. Saberes acarretam dissabores, garantias provocam ruínas. Enviamos ao espaço aparelhos em busca de territórios que nos acolham quando a falta de água converter o globo terrestre em deserto. A cada avanço declara-se o tamanho da nossa pequenez. Pessoas vivem distanciadas da pátria, do lar, de amigos, de Deus, de tudo. O sentimento contemporâneo é de exílio. A incerteza leva a espaço vazio. Transtornados buscam na droga alguns minutos de prazer. A tempestade de opiniões desperta o desejo de segurança.

O golpe que feriu Adão abala-nos da cabeça aos pés. A desorientação nos precipita na angústia. Os que recorrem às armas para resolver conflitos andam por descaminhos. Desorientados mancham a terra de sangue, destroem lares, condenam crianças a passar dias atormentadas pelo calor, pelo frio, por doenças, pela fome, pela ameaça de morte violenta. Guerras arrasam o futuro.

A história da humanidade se divide em antes e depois de Cristo. A carentes, Cristo garante: eu sou o caminho. A voz não vem de um Deus distante, fala o Deus conosco. Cristo fala a pessoas que não caminhavam porque estavam presos à lei, na lei se sentiam seguros. Libertos, Cristo aponta a pátria. Andamos entre a escravidão e a pátria. Quem está no caminho, está em Cristo. Cristo é o Deus que vem, que vive, que morre, que ressuscita. Cristo fala aos que o seguem e sabe o que lhes falta. Não buscamos a salvação, a redenção nos põe em movimento, estar salvo é o começo da jornada, a verdade se revela aos que andam. Conhecemo-nos em falta, carência é nossa verdade, Cristo nos revela o que somos, caminhar é vida, Cristo é vida da nossa vida. Caminhamos com outros, estendemos a mão e somos amparados, vínculos afetivos nascem do afeto que nos contempla.

O exilado, lançado a ambiente de difíceis ou impossíveis relações, subsiste arrancado do que lhe familiar. Perdas provocam tristeza. Exilados fixam os olhos em horizontes vazios. Cristo dá pátria aos que andam. Se derramo lágrimas sobre o corpo de um companheiro que tomba não me comporto como estranho. Caminhantes elaboram projetos. A esperança conduz os que trabalham. O Criador, depois de cada etapa, declarou bom o que fez, bom é cada um dos acertos, distante está o bem final. Em momentos divide-se o que o que recebemos, o que fazemos, Cristo une as etapas. Caminhamos em espaços que se transformam. Caminhos se expandem em possibilidades que se renovam. A Palavra restaura a vida, abranda a dor. A Palavra vive na fala, no canto, no brilho das estrelas, no sorriso das crianças. A Palavra nos dá palavras para socorrer aflitos. Muitos se detêm antes do fim, prendem-se a poderes. O poder do Redentor supera todos os poderes, revela-se na alegria e na dor.

A alegria eclode no trabalho, nas atividades em andamento. Alegria que dura é projeto a ser concluído. A alegria presente é recompensa dos que marcham rumo ao que ainda não é. A alegria dá sentido à dor, fortalece os que andam. A tristeza isola, a alegria une, dissemina alegrias, acompanha os que retornam do exílio, está em mãos que acolhem, floresce no bem que levamos aos que sofrem. Acolhidos moram na alegria mesmo que as tarefas sejam penosas.

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