“Fomos enganados”. Essa é uma dura confissão de soldados russos capturados na Ucrânia. “Na televisão de nosso país dizem que lutamos por uma boa causa, mas não é nada disso. Meus olhos só se abriram aqui”, expõe o lamento da maioria deles. Ou, como disse outro prisioneiro ao repórter: “Ninguém nos disse para onde estávamos indo”.
A decepção desses iludidos combatentes nos instiga numa importante reflexão quando as guerras neste mundo conflituoso vão muito além dessas travadas por tanques, mísseis e metralhadoras. Tanto que esses prisioneiros agora estão livres da mentira, mas seus compatriotas, soltos em seu país, vivem encarcerados nos enganos de um governo autocrata que acabou com a liberdade de expressão. A guerra, portanto, está na mente de um povo que perdeu a competência de viver as verdades.
Todos estamos em combate, desde o dia de nossa concepção até o dia de nossa morte. Só que, nos campos de batalha, as vezes não sabemos por que e contra quem estamos lutando. São guerras inglórias. Arranjadas por mentiras que tentam sugar a liberdade de pensar, agir, viver. Com objetivos de honra, poder, dinheiro. Ou, simplesmente, pelo prazer de dominar.
No Pentecostes, a igreja cristã lembra a vinda do “Espírito da Verdade”, o Deus que “bombardeia” o mundo com o fogo da Palavra e convoca para a guerra contra a mentira. Jesus já tinha anunciado que o “Auxiliador” iria “convencer as pessoas do mundo de que elas têm uma ideia errada a respeito do pecado e do que é direito e justo” (Jo 16.8). Disse isso falando contra a mentira das mentiras. Como escreveu Paulo, que nós “não estamos lutando contra seres humanos, mas contra as forças espirituais do mal […] que dominam completamente este mundo de escuridão” (Ef 6.12). E por isso, então, “toda a armadura” de Deus, sobretudo empunhando a Palavra que é “a espada que o Espírito Santo dá”.
Bem aparelhados nesta guerra contra “as forças espirituais do mal”, jamais seremos enganados e nunca ficaremos decepcionados. Ao contrário, Deus nos coloca no front da batalha para vencermos os enganos do pai da mentira. Paulo sublinha que, com as armas e as forças que Deus nos dá, podemos resistir aos ataques do inimigo.
Mas não podemos esquecer que também estamos no meio das batalhas físicas – no campo pela sobrevivência do pão de cada dia. Na luta contra a fome, injustiça social, corrupção, má política, inflação, doenças, violência, desemprego – batalhas que nunca dão trégua. “Estamos em perigo de morte o dia inteiro”, avisa o apóstolo na carta aos Romanos, ao citar o Salmo 44. Mas daí as célebres palavras: “Nada poderá nos separar do amor de Deus”.
É nessas lutas de “carne e sangue” que também precisamos do Espírito da Verdade, pois é ele que nos orienta nas decisões do dia a dia. Por isso o pensamento de Salomão, que “a sabedoria vale mais do que armas de guerra, mas uma decisão errada pode estragar os melhores planos” (Ec 9.18).
É o que tanto precisamos para não entrarmos em guerras provocadas pela mentira.