O que estão olhando?


Waldemar Garcia Carvalho Júnior
Pastor da IELB
Copacabana, Rio de Janeiro, RJ

A cena é estranha e comovente. Após quarenta dias de aparições, Jesus sobe ao céu à vista dos discípulos. Eles ficam parados, com os olhos fixos para cima. Até que dois anjos aparecem com uma pergunta desconcertante: “Homens da Galileia, por que vocês estão olhando para o céu?” (At 1.11). Em outras palavras: “O que estão olhando?!”

Essa pergunta continua ecoando nos ouvidos da Igreja hoje. A Ascensão de Jesus não é um convite à contemplação passiva, mas à fé ativa. Cristo não está ausente; está exaltado. Ele não foi embora; está reinando — à direita do Pai, com poder e autoridade sobretudo. E isso muda tudo.

A visão luterana da Ascensão é clara: Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, subiu ao céu corporalmente. Não para se afastar da sua Igreja, mas para estar ainda mais presente — agora de modo pleno, universal, espiritual e eficaz. Conforme o Catecismo Maior de Lutero: Cristo está presente e governa em todo lugar, especialmente entre os seus cristãos na Palavra e nos sacramentos. Ele é o Senhor exaltado, que reina por nós.

Na vida diária, isso tem implicações profundas. Em tempos de incerteza, lembramos: Jesus reina. Em meio à dor, lembramos: Jesus está à direita do Pai, intercedendo por nós. Quando o mundo parece perdido, olhamos para o alto, não com nostalgia ou lamento, mas com confiança: nosso Rei vive, reina e em breve voltará.

Mas a pergunta dos anjos nos sacode: “Por que estão olhando?” A Ascensão é também um chamado à missão. O mesmo Jesus que subiu ao céu prometeu voltar. Até lá, não estamos parados. Estamos em movimento. Como discípulos, somos enviados ao mundo com a Palavra da reconciliação. A Ascensão nos tira da inércia espiritual. Envia-nos às ruas, às casas, às redes, às praças — como testemunhas do Cristo vivo.

Olhamos para o céu, sim — mas com os pés firmes na terra. Vivemos pela fé no Senhor exaltado, que governa todas as coisas por amor à sua Igreja.

E não estamos sozinhos nessa fé. Há quase 1.700 anos, os cristãos do mundo inteiro, geração após geração, confessam no Credo Niceno: “…Subiu aos céus, está sentado à direita do Pai e virá novamente em glória a julgar os vivos e os mortos, cujo Reino não terá fim.” Essa é a fé da Igreja de todos os tempos. A fé que confessamos no culto, ensinamos em casa e levamos ao mundo.

Então, o que estamos olhando? Para o Cristo que reina. Para o mundo que espera. E para o futuro que já começou na cruz, no túmulo vazio… e se confirmou na gloriosa Ascensão.

Mas enquanto esse dia glorioso não vem, olhemos também para os lados — para aqueles que ainda não conhecem esse Rei. Que a nossa vida, como filhos amados de Deus e como povo da sua Igreja, seja marcada não só por olhos voltados ao alto, mas por corações voltados ao próximo. Porque quem vive na esperança da volta de Jesus, vive hoje como instrumento de sua presença e salvação no mundo.

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