Sobreviver com o salário-mínimo no Brasil é uma batalha diária para a maioria dos trabalhadores. O valor desse piso salarial deveria ser cinco vezes maior para que as necessidades básicas de uma família de quatro pessoas fossem supridas. Está na Constituição Federal de 1988, no capítulo dos Direitos Sociais, artigo 7º: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim”.
Informações dizem que 90% dos brasileiros têm renda inferior a três salários-mínimos por mês, 70% ganham até dois salários-mínimos, e 35% ganham até um salário-mínimo. O resultado desta dura realidade, junto com o desemprego que atinge 11% dos brasileiros e a crescente inflação, são 28 milhões de brasileiros abaixo da linha de pobreza, ou seja, que vivem com menos de cinco reais por dia.
O motivo desta triste situação tem nome: pecado. Antes de ser uma injustiça social combatida por movimentos políticos e sindicais, é um grito que repercute nas páginas da Bíblia. Começando lá no Antigo Testamento através das leis israelitas : “Não explore o empregado pobre e humilde, que é pago por dia, seja ele israelita ou um estrangeiro que mora na cidade onde você vive. Pague o salário dele no mesmo dia, antes do pôr do sol, pois ele é pobre e espera ansioso pelo dinheiro. Se você não pagar, ele gritará a Deus, o Senhor, contra você, e você será culpado de pecado” (Dt 24.14,15).
O próprio Salvador reafirmou que “o trabalhador deve receber o seu salário” (Lc 10.7), uma justiça social igualmente reivindicada pelo apóstolo Paulo: “As Escrituras Sagradas dizem: ‘Não amarre a boca do boi quando ele estiver pisando o trigo’. E dizem ainda: ‘O trabalhador merece o seu salário’” (1Tm 5.18). Tiago foi mais direto com a exploração e apontou o dedo: “Nestes últimos tempos vocês têm amontoado riquezas e não têm pagado os salários das pessoas que trabalham nos seus campos. Escutem as suas reclamações! Os gritos dos que trabalham nas colheitas têm chegado até os ouvidos de Deus, o Senhor Todo-Poderoso” (5.3,4).
Estes e outros textos bíblicos mostram que a igreja, que não tem o encargo nem o poder do governo político e civil, tem a incumbência da voz profética. Uma responsabilidade pela prática da justiça e ética social que coloca na consciência e nas mãos dos cristãos a tarefa de pregar e viver o amor ao próximo e, assim, cumprir a quarta petição do Pai-Nosso, “o pão nosso de cada dia nos dá hoje”. O “pão nosso” aponta, sem o mínimo de dúvidas, para um salário justo do trabalhador. Tiago foi explícito: “Se vocês não lhes dão o que eles precisam para viver, não adianta nada dizer: ‘Que Deus os abençoe! Vistam agasalhos e comam bem’. Portanto, a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta” (2.16).