Um Berço para a Soja

A partir do ano de 1905, a Colônia Guarani, em Santa Rosa, RS, recebeu centenas de famílias de imigrantes de origem alemã, vindos de uma mesma região da Rússia: Volínia, atualmente Ucrânia. Essas famílias vieram em busca da realização de seus sonhos, como serem proprietários de terras, terem liberdade religiosa e poderem manter sua bagagem de cultura alemã. Eram evangélicos, luteranos e batistas.

Hospedavam-se na Casa dos Imigrantes, um humilde casarão, que abrigava até 20 famílias simultaneamente. Abriram as picadas à foice e facão, desbravando a mata. De dia preparavam as terras para o cultivo de alimentos e, à noite, sob a luz do luar, cortavam tábuas e tabuinhas para a construção de suas casas. Surgiram pequenos comércios e indústrias, especialmente os moinhos e serrarias. Construíram igrejas, que também serviam como escolas.

Foi neste contexto que Edmundo Pilz, um comerciante da Vila 14 de Julho (atual cidade de Santa Rosa), solicitou à IELB atendimento religioso. Em 1915, o jovem pastor norte-americano Albert Ernst Heirich Lehenbauer chegou até a Colônia Guarani, em Santa Rosa. Ali já havia uma Comunidade Evangélica Luterana, a Trindade, assistida pelo pastor Paulo Weber, que em seguida retornou aos Estados Unidos.

Lehenbauer precisou organizar uma paróquia e preparar líderes e professores para auxiliarem nas atividades das comunidades. Ensinou adultos e crianças a lerem e escreverem em alemão e português, confeccionou pequenos livros para seus alunos e importou livros doutrinários da Alemanha e dos Estados Unidos. Além disso, fundou comunidades e escolas, corais e grupos instrumentais.

Casou-se, em 1918, com Helene Priebe. Cunhado do imigrante Reinholdo Fischer, o pastor Albert Lehenbauer estudava formas de melhorar a agricultura, a pecuária, a apicultura, a criação de peixes e o cultivo de hortas, flores e pomares. Em companhia do comerciante Edmundo Pilz, do novo pastor Emílio Krieser e do professor Ernesto Trommenschlager, iniciaram uma cooperativa colonial, filiada à Liga das Uniões Coloniais do RS, na localidade 23 de Julho, em 15 de Novembro.

Eles reuniam-se à noite com os colonos para discutirem as dificuldades na nova colônia. Adquiriam sementes, maquinário agrícola, livros e revistas. O pastor Lehenbauer experimentou plantar com familiares sementes de soja que trouxe dos Estados Unidos em 1923. Naquela época, ninguém queria experimentar o desconhecido grão. Plantava-se milho, feijão, cevada e batatas, e a produção era para subsistência.

Lehenbauer leu para os colonos, reunidos na União Colonial, o livro A Importância dos Feijões, editado no Rio de Janeiro, capital do Brasil em 1918. O material apresentava os diferentes cultivos de feijão experimentados em Escolas Agrícolas e também de Agronomia do país, o que era feito sempre em pequenas porções, de forma que o Feijão Soja não constava nos Índices de Produtos Agrícolas do Brasil.

Os colonos Bruno Schwartz, Gustavo Bessel, João Muller e Emannuel Brachmann aceitaram o desafio e encomendaram 2 quilos, que Lehenbauer retirou na Casa Comercial Schöenwald, na Rua das Hortículas, em Porto Alegre, entre os anos de 1930 e 1931. Eles combinaram com o pastor que, após a primeira colheita, devolveriam ao pastor parte da mesma. E assim o fizeram.

O pastor Lehenbauer continuou a distribuir os grãos para quem o quisesse provar. E assim foi distribuído pelos pastores no seu amplo campo missionário e igualmente nas uniões coloniais do município. O feijão soja se tornou importante como vermífugo para os porcos, como alimento misturado com abóboras, ou misturado na farinha para o pão, leite e queijo.

O comerciante Orttmann, membro da Associação Colonial, comprou o excedente da produção e encaminhou a indústrias de óleos vegetais. E também exportou sacas para a Europa, o que já serviu de incentivo aos pequenos colonos produzirem mais e mais.

O feijão soja começou a aparecer nos Índices de Produtos Agrícolas do RS. Na década de 1950, a região compreendida pela Grande Santa Rosa foi a que mais produziu o grão em toda a América do Sul.

Com o surgimento da Incobrasa, em Canoas, RS, e a necessidade de matéria-prima, Shu Ming Ling, sócio da empresa, transferiu sua residência para Santa Rosa, a fim de incentivar maior produção de soja e a aquisição do produto. Também incentivou a abertura do Banco do Brasil no município, para facilitar a compra de mais terras e maquinário agrícola. Com a falta de terras para produzir, muitas famílias se mudaram para o Paraná, Mato Grosso, Paraguai e outros locais, levando consigo o desejo de plantar muita soja.

Em 1966 foi realizada a 1ª Festa Nacional da Soja, para comemorar este grão agora conhecido. A cidade embelezou-se com canteiros e vasos com soja. E Santa Rosa passou a ser conhecida como o Berço Nacional da Soja, tendo sido também a Capital da Soja.

Anete Rosane Krebs Guimarães

Tecnóloga em Turismo

Museu Municipal e Arquivo Histórico de Santa Rosa, RS

Confira nos links a seguir mais sobre esta história:

https://abre.ai/fenasoja2022

https://abre.ai/caminhosdasoja

https://abre.ai/entrevistacomafamilia

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