Pintar casquinhas de ovo e rechear com amendoim doce é uma tradição continuada em várias congregações pelo Brasil, principalmente nas cidades com forte influência germânica. Encanto para os olhos, com sabor de Páscoa. Mas o trabalho e as pessoas envolvidas nem sempre ficam tão evidentes para quem adquire e compra uma dúzia de casquinhas coloridas e recheadas.
O Departamento de Servas Bom Pastor, de Umuarama, PR, desenvolve esse trabalho há mais de vinte anos. E mesmo sendo realizado por poucas mãos, o volume de trabalho é grande, assim como o que é possível realizar com o valor arrecadado com a venda dos doces.
Confira o relato de Norma Gunsch de Moura, tesoureira do Departamento.
“No início, lá no ano 2000, conseguimos juntar 50 dúzias entre os membros da igreja. No ano seguinte, já conseguimos o dobro. Até que veio uma ideia: pedir para uma confeitaria, que utiliza muitos ovos em sua produção, para juntar as casquinhas. Como é um processo trabalhoso e que provavelmente atrasaria o serviço de quem prepara os bolos, eu conversei com o gerente do supermercado e me dispus a quebrar os ovos para separar as casquinhas. Ele aceitou e eu comecei.
Depois de deixar meus filhos na escola, ia direto para a confeitaria do supermercado. Entrava às 8h da manhã e separava os ovos, conforme a necessidade para cada receita e a orientação do confeiteiro. Algumas precisavam de vinte, outras de trinta ovos. Em alguns dias, em uma única manhã, eu já conseguia 50 dúzias de casquinhas. Eu ficava cerca de duas horas por dia trabalhando lá.
Depois, quando não precisava mais levar os filhos à escola, eu ia mais cedo para o mercado, às 6h, porque era a hora que começava a produção de pães de queijo, então tinha muita quebra de ovos. Eles pediam para eu separar cinco, sete ou dez baldes com 30 ovos em cada. O chefe da confeitaria sempre me orientava.
Saía do supermercado com as caixas de ovos e ia direto para a igreja, onde as colocava de molho nas bacias grandes, e, depois do almoço, a gente lavava as casquinhas. Quando tínhamos a quantia que queríamos, nos reuníamos para pintar. Depois de prontas, as servas iam, à tarde, preparar o amendoim doce, e, à noite, todos os membros da comunidade ajudavam a encher. Em algumas noites, a gente enchia 100 dúzias. Ao longo dos anos, o máximo foi 526 dúzias.
O valor arrecadado com a venda das casquinhas é somado com aos do Café Alemão, realizado em junho, e aos do Chá Alemão, em novembro. Esses são os eventos que as servas preparam durante o ano. Todo valor arrecadado é revertido para a própria igreja. Já colocamos o piso no salão, que não tinha; trocamos todos os ventiladores e lâmpadas; e equipamos toda a cozinha. Algumas vezes até ajudamos no caixa da igreja. Todas as melhorias do templo foram com dinheiro arrecadado pelas servas. Isso é bastante, se pensarmos que é um grupo pequeno, com menos de dez servas, mas que trabalha muito.
Neste ano fizemos 200 dúzias, sendo que algumas casquinhas são usadas para outros artesanatos, como guirlandas e demais enfeites. Hoje tem muita gente que procura pelos nossos ovinhos. Às vezes, quando queremos vender, vamos ao centro da cidade, oferecendo de porta em porta.
O trabalho continua. Fui ao mercado quebrar ovos por 18 anos. Agora uma outra serva, mais nova, está indo em meu lugar. São poucas pessoas, mas o trabalho é muito abençoado.”
Feira de Páscoa promove integração
Em outra cidade no Paraná, em Marechal Cândido Rondon, a Feira da Páscoa é realizada há mais de 30 anos pelo Departamento de Servas Cristo. Durante o ano, as servas guardam as casquinhas dos ovos que consomem. No início, as atividades eram concentradas no pavilhão, onde as casquinhas eram pintadas e preparava-se o recheio de amendoim doce. Algumas servas reuniam-se em casas e faziam a pintura. Atualmente, hotéis e colégios juntam as casquinhas.
O trabalho tem como objetivo manter a tradição trazida pelos antepassados, fortalecer a amizade e a comunhão entre as servas, promover a integração e a troca de experiências, com o ensino e a aprendizagem de técnicas diferentes. Cerca de 30 servas participam diretamente do trabalho.
O grupo já chegou a produzir até 200 dúzias. Hoje existem mais grupos de outras igrejas na cidade realizando a atividade, além de outras servas terem criado microempresas que vendem o produto pela cidade. O trabalho não foi realizado nos últimos dois anos em razão da pandemia.
Os recursos arrecadados com a venda das casquinhas são utilizados para melhorias na cozinha e no centro de eventos, que, ao longo dos anos, já receberam forno industrial, equipamentos, utensílios, louças, toalhas para mesas e térmicas.
As casquinhas são vendidas entre as servas e por elas, que alcançam toda a comunidade da cidade. Em cada embalagem é colocado um cartão com a mensagem da ressurreição de Jesus. Durante a Semana Santa deste ano, as servas visitaram idosos e enfermos, levando uma mensagem de Páscoa e uma casquinha recheada.
A pintura, recheio e venda de casquinhas na Páscoa é uma tradição continuada em diversas cidades pelo Brasil. Aqui destacamos apenas duas. Você também pode compartilhar mais atividades realizadas em sua congregação. Entre em contato conosco e envie seu relato.