77.745 vezes “Vem, Senhor Jesus”

Este é o número de vezes que eu provavelmente devo ter orado a oração da mesa antes das refeições. Se eu contar três refeições por dia, 365 dias por ano, vezes a minha idade (71 anos), é este o número que encontro.

Vem, Senhor Jesus,

sê o nosso convidado

e tudo o que nos dás

nos seja abençoado. Amém.

Há pequenas variantes. Alguns usam o termo “hóspede” em vez de convidado; e outras palavras também.

A importância de orarmos antes das refeições pode ser vista no ministério do próprio Senhor Jesus. Ele orou antes da multiplicação dos pães (Mc 8.6). Ele ensinou a orar pelo pão de cada dia na oração do Pai-Nosso (Mt 6.11). Ele orou antes da instituição da santa ceia (Mt 26.27). Ele orou quando aceitou o convite para jantar com os discípulos a caminho de Emaús (Lc24.30).

Também o apóstolo Paulo nos dá o exemplo quando, em meio a uma tremenda tempestade e sob o risco de um naufrágio, ele, “tomando um pão, deu graças a Deus na presença de todos” (At 27.35).

O fato de orarmos às refeições é um testemunho de que dependemos de Deus para cada fatia de pão que comemos. E este sentimento de dependência rebaixa o nosso orgulho e autossuficiência, fazendo crescer a nossa fé no “Deus Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra”. Lutero comenta na Explicação do Primeiro Artigo do Credo: Creio que Deus me criou a mim e a todas as criaturas; e me deu corpo e alma, olhos, ouvidos e todos os membros, razão e todos os sentidos, e ainda os conserva; além disso, me dá vestes, calçados, comida e bebida, casa e lar, esposa e filhos, campos, gado e todos os bens. Supre-me abundante e diariamente de todo o necessário para o corpo e a vida; protege-me contra todos os perigos e me guarda de todo o mal. E tudo isso faz unicamente por sua paterna e divina bondade e misericórdia, sem nenhum mérito da minha parte. Por tudo isso, devo dar-lhe graças e louvor, servi-lo e obedecer-lhe. Isso é certamente verdade.

Lutero explica também a Quarta Petição do Pai Nosso, dizendo: Deus, na verdade, dá o pão de cada dia, mesmo sem a nossa prece, a todos os homens, também aos ímpios. Mas suplicamos nesta petição que nos faça reconhecê-lo e receber com agradecimento o pão nosso de cada dia. – Que significa o pão de cada dia? – Tudo o que pertence ao sustento e às necessidades da vida, como, por exemplo, comida, bebida, vestes, calçados, casa, lar, campos gado, dinheiro, bens, cônjuge fiel, filhos piedosos, empregados fiéis, superiores piedosos e fiéis, bom governo, bom tempo, paz, saúde, disciplina, honra, leais amigos, bons vizinhos e coisas semelhantes.

Há outras orações para a mesa além dessa que meus pais me ensinaram em alemão e em português. Lutero sugere no Catecismo Menor: Os filhos e os empregados se achegarão à mesa com reverência, juntarão as mãos e dirão: Os olhos de todos esperam em ti, e tu lhes dás o seu mantimento a seu tempo. Abres a tua mão e satisfazes os desejos de todos os viventes. Amém. – Depois se dirá o Pai-Nosso e a oração seguinte: Senhor Deus, Pai celestial, abençoa-nos a nós e a estes teus dons que de tua bondade vamos receber, por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

Fiquei impressionado na África do Sul quantas famílias oram à mesa em restaurantes. Normalmente todos se dão as mãos e oram em conjunto.

Mas já passei por situações constrangedoras: fomos convidados por um casal judeu para um jantar juntamente com a família de nossa filha. Na hora de nos assentarmos à mesa, não sabia se pedia licença para fazer uma oração ou não. Nosso neto de quatro anos veio em nossa ajuda e disse: Vamos comer sem orar? Ao que o hospedeiro solicitamente respondeu: Podem orar. Sei que os cristãos e judeus ortodoxos sempre oram à mesa.

Outra vez, fomos convidados por vizinhos chineses xintoístas. Depois de uma boa conversa, na hora de sentarmos à mesa, o velho patriarca da família pediu que eu fizesse a oração. Como eu tinha levado livros bíblicos ilustrados para as crianças da casa, o menino mais velho disse: Deixe que eu faço a oração que eu achei neste livro. – Que oportunidade de testemunho me foi dada naquele momento.

Tão importante como a oração antes das refeições é a oração após as refeições: “Agradecemos ao Senhor, porque ele é bom, e a sua misericórdia dura para sempre. Amém.” (Sl 136.1). Damos graças a Deus por sua bondade em nos alimentar e em nos sustentar.

Se você não faz oração à mesa, ou se perdeu o costume de fazer, comece, talvez na hora da janta, quando todos estão em casa novamente. Acrescente a leitura de uma mensagem do devocionário Castelo Forte ou do Cinco Minutos com Jesus. É um momento sagrado em família que trará muitas bênçãos ao seu lar. Desliga-se a TV, faz-se uma pausa na correria do dia a dia, e presta-se um pequeno culto doméstico ao nosso Deus e Redentor.

O texto desta breve oração pode ter um sentido mais profundo, quando olhamos para Apocalipse 3.20, onde Jesus diz: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”. O fato de convidarmos Jesus a entrar em nossos lares significa salvação, como aconteceu com Zaqueu (Lc 19.1-9). Na hora da refeição, Jesus disse: “Hoje houve salvação nesta casa!”. E significa também uma esperança, como termina o último livro da Bíblia: “Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20). Oramos sem medo, mas com toda a confiança, “como filhos amados ao seu querido Pai”. (Catecismo Menor, Introdução ao Pai-Nosso):

Vem, Senhor Jesus,

sê o nosso convidado,

e tudo o que nos dás

nos seja abençoado. Amém.

Nota: O quadro anexo estava pendurado na sala de jantar dos meus pais, e mostra a menina oferecendo o lugar para Jesus enquanto a família ora. Sempre me impressionou este quadro, quando criança, em casa. O quadro hoje se encontra com minha irmã Dóra (ela mora em Porto Alegre, RS), que me forneceu a foto.

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