Por vezes fico pensando em quem é mais feliz. Pode ser aquele que está sempre correndo contra o relógio, cumprindo sua agenda cheia de compromissos e que chega sempre tarde da noite em casa. Mas aí me lembro daquele que vive a vida simples, com os gastos controlados, que mora longe do bairro nobre e que possui uma grande riqueza: tempo. Tempo para si, para a família, para os filhos, para os amigos. Tempo para Deus. E quem sabe por aí seja possível definir algo parecido com felicidade. Ou, no mínimo, algo chamado de qualidade de vida.
Nesta retomada da vida, como em um ensaio para o pós-pandemia, corremos o risco de sermos sufocados, novamente, por nossas rotinas. E, neste mês em que é celebrado o Dia das Crianças, o alerta também vale para nós, pais. As correrias do trabalho, as inúmeras reuniões virtuais, a rotina de estudos e o tempo fora do lar podem até fazer pais ficarem mais ricos. Mas, ao mesmo tempo, tão pobres. Pobres de tempo. E tempo precioso, que jamais irá se repetir na sua vida. Tempo de jogar bola, de brincar de boneca, de ir à sorveteria juntos, de dar colo, de fazer cócegas, de assistir ao mesmo filme pela décima vez – só porque é o filme predileto dos filhos. Eles crescem. E este tempo precioso se vai. E poderá fazer falta aos filhos, aos pais, ao desenvolvimento saudável de um lar cristão.
Precisamos confessar que várias vezes terceirizamos o tempo com nossos filhos. Isso é entregar a outros o tempo que é nosso e de nossos filhos. Por favor, entendam-me bem. Creches, babás, escolas e até mesmo o cuidado da vovó são bênçãos de Deus no auxílio da criação. Mas eles jamais irão suprir a ausência de pais sem tempo para seus filhos. Ausência que também não será suprida com presentes caros e as perigosas horas diante de uma tela.
Seja lá qual for o nosso ritmo de vida, tenhamos tempo. Tempo para amar, educar e ensinar a fé cristã. Esta é a recomendação bíblica: “Não as esconderemos dos nossos filhos, mas falaremos aos nossos descendentes a respeito do poder de Deus, o SENHOR, dos seus feitos poderosos e das coisas maravilhosas que ele fez” (Sl 78.4). A fé cristã não é algo restrito ao culto do final de semana. A fé de nossos filhos, bem como a nossa, é fortalecida, lapidada e aplicada à vida na rotina diária. Isso se dá na história bíblica contada na cama, antes de dormir; na oração feita antes da refeição em família; no aplicar a fé cristã aos conflitos e dilemas que acontecem na escola e, especialmente, em preparar nossos filhos para viver nesta sociedade pós-moderna e avessa aos princípios cristãos. Crer em Jesus é algo que as crianças aprendem no colo dos pais tanto quanto nos bancos de nossas congregações. E, para que tudo isso aconteça, é preciso tempo. Tempo precioso. E tempo para estar no culto com nossos filhos.
Pais, recorramos ao sangue do Cordeiro de Deus. Nele e apenas nele há o perdão para todos os pecados. Também por termos falhado na boa administração do tempo. Em Jesus está a nova vida, que começa aqui e será plena na eternidade. E, nesta nova vida, o Espírito Santo nos enche de sabedoria para termos um relacionamento saudável entre a vida corrida e o tempo precioso com nossos filhos. “Tudo neste mundo tem o seu tempo; cada coisa tem a sua ocasião” (Ec 3.1). Há tempo de rotinas corridas. Mas há também tempo de ser pai e mãe. E este é um tempo precioso. É um tempo feliz.