Somos protestantes, sim!

Todos nós acompanhamos, durante a Copa das Confederações em 2013, os inúmeros protestos que aconteceram por todo o país. O que começou como um protesto contra o aumento das tarifas de transporte público tomou uma proporção gigantesca e se generalizou num protesto contra tudo.

Alguns falam que o Brasil acordou, diante da grande desigualdade e corrupção; outros, que não passa de uma luta política contra o atual governo; os mais conservadores, por sua vez, dizem que é apenas uma forma de vandalismo. É provável que todos tenham um pouco de razão, pois nos protestos vimos de tudo, cartazes que defendiam inúmeras causas. E também vimos muito vandalismo, onde até a bandeira do Brasil foi queimada.

Não há como julgar com clareza o verdadeiro ideal de todos que fizeram parte da multidão no protesto. Com certeza, muitos protestaram de maneira correta e outros se aproveitaram desta situação. Mas o que sabemos, como cristãos, é que o protesto tem que ser pacífico, defendendo o bem social para todo o povo, respeitando o direito de todos e agindo de forma moral e ética.

Pensando um pouco em nossa história, é interessante falarmos sobre protesto, porque nós, cristãos luteranos, há quase 500 anos somos chamados de “protestantes”, junto com as demais igrejas históricas oriundas da Reforma (“protestantes” nasceu do latim protestari, que significa declaração pública/protesto). Lutero foi chamado de protestante, e de fato fez um protesto pacífico na porta da Igreja de Wittenberg, quando pregou as 95 teses. Os príncipes alemães, por sua vez, protestaram contra a decisão da 2º da Dieta de Spira, de 1529, que reafirmara o Edito de Worms, de 1521 (na Dieta de Worms Lutero foi considerado herege, e seus livros deveriam ser queimados). Podemos dizer que foram ações contra grandes problemas doutrinários e éticos que a igreja enfrentava no seu tempo. Foram ações pacíficas, mas foram ações!

O que Lutero e os príncipes fizeram no seu tempo talvez seja uma atitude que nos falta hoje. Se olharmos bem à nossa volta, vamos ver muitas situações sobre as quais nós, cristãos, precisamos protestar: a indiferença do ser humano em relação a Deus, a libertinagem, a desigualdade social, a desvalorização da vida, isso sem contar os grandes e diversos problemas doutrinários que vemos por aí. São tantas coisas pelas quais devemos lutar, mas muitas vezes vivemos indiferentes. Não saímos às ruas com cartazes criticando, por exemplo, a libertinagem. Mas por que não? Por que não lutar por aquilo que é correto e justo? Por que não lutar pelo que a Palavra de Deus nos ensina, com o mesmo amor e dedicação com que lutou boa parte daquela grande multidão?

Não é por falta de exemplo bíblico que somos indiferentes. Pois até Jesus Cristo protestou de forma enérgica no templo contra a venda de mercadorias e a falta de ética dentro da Casa de Deus (Mt 21.12-17; Mc 11.15-18; Lc 19.45-48). O Apóstolo Paulo foi outro que não se calava, e nas praças públicas proclamava a Palavra de Deus sem medo ou receio. E ainda podemos falar de João Batista, de muitos profetas e apóstolos que no seu tempo protestaram contra o mal que assolava o mundo.

Todos eles foram “protestantes” no seu tempo. Não foram coniventes e nem desinteressados. Mas, sim, atuantes na ação para a qual Deus os chamou. Na luta contra o mal e no interesse de levar a Palavra de Deus. Porém o fizeram de maneira correta e digna, e não de forma desenfreada, como alguns fizeram, nos protestos que vimos recentemente.

Hoje, infelizmente, a maioria dos cristãos deixou de ser protestante e tornou-se indiferente às coisas deste mundo. E sabemos que isto é justamente o que o diabo quer: que nos calemos frente às atrocidades que acontecem e que achemos tudo normal. Por isso, devemos nos lembrar das palavras de Paulo, quando diz: “Não vos conformeis com este século” (Rm 12,2). E não se conformar é agir com paixão em prol da vida cristã. Pois somos “protestantes” por natureza e somos defensores da Palavra de Deus na sociedade. E pelo tempo que permanecermos no mundo lutaremos; o mal sempre vai agir, mas nós sempre vamos lutar contra ele em benefício de um mundo com valores cristãos, em que se encontre a paz e a alegria de uma vida consagrada e firme na fé.

Em nossas orações, devemos pedir a Deus que nos inspire nesta luta, como inspirou os grandes profetas e apóstolos, no seu tempo, para lutar pelo que é correto, de maneira pacífica e cristã. Não podemos pensar em ideologias políticas ou em vandalismo, como vimos nestes últimos acontecimentos. Mas devemos lutar e agir como cristãos em favor da Palavra, defendendo nossas famílias contra a influência deste mundo mau. Somos chamados a agir com firmeza e coragem na luta cristã! E como cristãos, podemos dizer: Somos protestantes, sim!

Walduino P. Littig Jr

Pastor da IELB em Guarapuava, PR

*Texto publicado no Mensageiro Luterano, edição de agosto de 2013.

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