A ética na vida do cristão

Encontros e desencontros da ética na vida cristã

Neste livro, a ética é aplicada no dia a dia do cristão, na vida de fé e na vida secular, abordando vários aspectos morais da conduta humana e reforçando a importância de princípios e dogmas cristãos.

Encontros e desencontros da ética na vida cristã é uma reflexão sobre fé cristã e vida prática. O cristão não está livre de tentações e, por consequência, dos desencontros da vida.

Todos estamos sujeitos às influências do comportamento uns dos outros. Em um mundo de tempos líquidos, onde tudo muda rapidamente, a tendência é o abandono de princípios e dogmas. A ética trata de questões morais relacionadas à conduta humana. O que cada pessoa crê está em seu interior, mas essa crença se torna visível no exterior.

Nessa tentativa, de fazer interior e exterior se encontrarem e andarem juntos, é possível viver a ética cristã em sua integralidade?

Texto: Eduvino Krause Filho

Páginas: 192

Dimensões: 16 x 23 cm

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Leia a introdução

Este trabalho resulta das observações da vida pastoral do autor. Não tem a intenção de prejulgar as pessoas, mas conduzi-las a uma reflexão sobre fé cristã e vida prática. Reúne considerações éticas e teológicas sobre a vida do cristão, entre encontros e desencontros da vida cristã. É também o aproveitamento de ideias de diferentes autores, cujas citações aparecem neste texto. Jesus fala da máxima contradição entre fé e vida cristã com uma citação do profeta Isaías: o povo que honra a Deus com os lábios, mas o coração está muito distante do Senhor (Mt 15.8). A afirmação não se refere apenas ao culto hipócrita, mas também a todos os relacionamentos humanos incoerentes, à adoção de diferentes tipos de ética que contradizem os ensinamentos de nosso Senhor Jesus Cristo. As atitudes humanas são observadas por todos. A literatura secular é farta em exemplos contraditórios. Rubem Braga, considerado um dos grandes cronistas brasileiros, fala sobre o amor e o desamor. Ele conheceu um casal de idosos, quietos e delicados. Era doce ver os dois sempre juntos, mas ela o odiava, e ele a desprezava. A idade mais avançada limita a vida das pessoas na mobilidade e nos cinco sentidos. Isso, de certa forma, ilustra a vida como ela é. Nem sempre as pessoas sabem lidar com essa realidade. O cristão não está livre de tentações, mesmo na velhice, e, por essa razão, não está livre dos desencontros da vida. Podemos envelhecer bem? É possível viver a ética cristã? Onde está o problema? Podemos olhar as transformações físicas com outro olhar?

Diz-se que os tempos mudaram. Retraduzindo essa frase, o que mudou com o passar dos anos foi a maneira de pensar. A pergunta sobre um ato ser ético do ponto de vista cristão ou não, era normalmente formulada assim: Isso é certo ou errado? Uma das novas formulações passa pelo relativismo: Depende! ou, Isso é politicamente correto? O tema dominante, no Brasil, nos últimos anos, por exemplo, foi a corrupção. Qual é a sua reação quando o cristão é o ator de um ato corrupto? O que você, cristão, faria diante do oferecimento de propinas? O ato de parar e refletir sobre atitudes de um determinado assunto mostra onde cada um está situado, qual é a sua opinião, o que você leva em consideração ou deixa de considerar. Creio que o comodismo do pensamento cristão, a passividade na reflexão, o deixar para os outros, é um prejuízo para o cristianismo e uma perda na reflexão de uma teologia equilibrada. Creio também que o oportunismo de cristãos nas áreas de atuação públicas, quando coautores e compassivos com as ações antiéticas é um prejuízo incomensurável para o futuro da igreja. Considere o que é o politicamente correto: não é uma adequação da fé à vontade humana? Será que a igreja perdeu a capacidade de se indignar diante das questões antiéticas? Será que a igreja se mantém nos desencontros porque é mais cômodo?

A ética trata de questões morais relacionadas à conduta humana. Trata do conjunto de princípios e normas para o bom comportamento moral. O crer de cada pessoa está no interior, e a vivência do crer aparece no exterior. A árvore é vista a partir do seu tronco, folhas, flores e frutos. Mas o que sustenta a árvore são as raízes que não podem ser vistas. Jesus comparou o cristão a uma árvore. A árvore boa produz bons frutos. Ela não pode produzir maus frutos. O cristão, a partir de sua conversão ou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, é a árvore que produz os frutos da fé.

A teologia é o discurso sobre Deus e sua doutrina. É a aplicação da Palavra à vida das pessoas. As considerações teológicas apresentadas neste trabalho são inevitáveis quando se trata de ética cristã. Nem sempre foram aprofundadas. Diversos temas estão abertos e merecem um estudo mais específico. A ética é um galho da filosofia usado para entender a teologia prática ou a vida pública do cristão.

Chama muito a atenção da sociedade, a incoerência entre a fé e a vida do cristão; entre o culto cristão e pós-culto da vida cristã. O questionamento das incoerências entre fé e vida cristã é tão forte a ponto de muitas pessoas duvidarem das Escrituras Sagradas, criticarem fortemente a igreja, não dando crédito algum ao crente ou cristão que confirma na vida diária o “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. O apóstolo João, dentro dessa lógica, escreveu sobre o relacionamento humano: “[…] aquele que não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4.20b). É logicamente o desencontro entre a fé e a vida prática. A fé no Senhor está interiorizada, mas ela reflete no seu exterior a sua essência. Revela exteriormente quem é o cristão.

Considerar é levar em conta. Não há como não levar em conta as atitudes dos cristãos no seu comportamento público. O primeiro capítulo leva em conta as influências, as transformações da sociedade, os impactos sobre os valores cristãos no meio rural e urbano. Autores seculares constatam essas transformações.

O segundo capítulo trata da função pública da igreja, mostrando o Caminho a todos, sem distinção. O Caminho é o encontro da graça divina personalizada na pessoa de Jesus. Jesus vai ao encontro do desencontro iniciado lá no Éden, quando Adão e Eva fugiram da graça divina. A voz divina, através da Palavra, desfaz o caos produzido pelo ser humano. Sua sobrevivência depende do apego à revelação divina e da manutenção da comunhão cristã.

O capítulo três destaca a função pública do cristão. Não pode estar escuro o lugar onde o cristão está. Os cristãos devem ser os protagonistas na sociedade em atitudes e vivência. Eles podem contribuir imensamente para a teologia pública, levando as pessoas a reencontrarem-se com a ética cristã, pois, afinal, ninguém é uma ilha. E ainda: não se pode esconder a luz debaixo da omissão cristã.

O capítulo quatro trata do equipamento divino dos cristãos, os dons, o aproveitamento dos dons, inclusive o desenvolvimento de dons que a pessoa nem imaginava, a convicção de que cada cristão é um instrumento escolhido por Deus e a disponibilidade em servi-lo. O incentivo de aproveitamento dos dons começa nas crianças. O futuro da igreja necessariamente começa pelas crianças e passa pelos adolescentes e jovens. A formação dos futuros leigos necessariamente começa na infância, continua entre os adolescentes e jovens. A igreja tem um grande desafio: o envolvimento destes seus filhos nos serviços do Senhor. Os dons não são seus: eles são de Deus. Ele é o Doador de todas as coisas.

O capítulo cinco trata especificamente dos leigos. Destaca sua liderança, o cabeça da família. É importante a sua formação como sacerdote, que começa no culto. A Igreja Luterana oferece formação, por exemplo, na escola bíblica infantil, ajuda para a família, nas escolas confessionais, nos departamentos dos confirmandos, jovens, mulheres, homens, nos congressos, nos workshops. Destaca o leigo como sacerdote real. Destaca o desempenho do sacerdócio real do leigo em seis aspectos, conforme a sugestão de alguns teólogos.

O capítulo seis foi escrito a pedido do ex-presidente da LLLB (Liga de Leigos Luteranos do Brasil), Juliano Schneider Belz, sobre o meu ministério pastoral (Eduvino Krause Filho), em Ponto Alto, Domingos Martins, ES, durante os 45 anos completados em 2021. O texto foi escrito com base nas informações das estatísticas da Paróquia São Lucas, de Ponto Alto, e crônicas da Paróquia, com breve descrição dos principais eventos de cada ano. Tomei a liberdade de escrever na primeira pessoa do singular, como um resumo das memórias do trabalho desenvolvido em Ponto Alto. É o capítulo que tem menos citações de autores.

Este trabalho seria publicado no primeiro semestre de 2021, com a distribuição de um exemplar para cada leigo no Congresso Nacional dos Leigos Luteranos em agosto. A pandemia foi o principal impedimento dessa realização.

Cada autor escreve com a finalidade de contribuir de alguma forma para o bem comum da igreja e da sociedade. Esta contribuição retrata as leituras dos autores citados. O reformador Martinho Lutero é a inspiração deste trabalho sobre ética e teologia nos diversos aspectos apresentados.

Lutero trouxe uma grande contribuição para a igreja e a sociedade, sobre a ética cristã, a partir dos Dez Mandamentos. Ele escreveu sobre esse assunto e publicou o texto de um sermão sobre as boas obras em 1520. Vale a pena aprofundar o estudo sobre esse tema num escrito “Das Boas Obras”, em Obras Selecionadas, v.2, dedicado ao príncipe-eleitor João Constante.

Todos estão sujeitos às influências do comportamento antiético da sociedade. O cristão vive no cenário da obscuridade de Deus em tempos líquidos: tudo muda rapidamente, e a tendência é o abandono dos dogmas. Isso está causando muitos desencontros entre fé e vida cristã. Tempo semelhante foi anunciado pelo profeta Isaías, no capítulo 9: a terra seria afligida pela escuridão ética, porque o povo havia perdido suas referências: havia perdido o Senhor, a igreja do Antigo Testamento (AT), a religião do AT, sofrido influências dos assírios que invadiram o norte da Palestina, perdido suas referências de vida, perdido a luz divina.

Quando Jesus Cristo iniciou o seu ministério na Galileia, nos confins de Zebulom e Naftali, terra dos gentios, ali brilhou a luz divina: “O povo que vivia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte resplandeceu-lhes a luz” (Mt 4.16). A igreja é detentora das reservas éticas contidas nas Sagradas Escrituras. O sermão do monte, proclamado por Jesus Cristo, é considerado por muitos, do ponto de vista ético cristão, o maior sermão que a humanidade já ouviu. Contém importantes ensinos sobre o reino dos céus. O reino dos céus é o governo de Jesus Cristo na vida das pessoas. O foco da atenção do leitor do sermão é a segunda parte das bem-aventuranças pronunciadas por Jesus (Mt 5.3-12) onde estão as promessas: são promessas de vida, promessas sobre o futuro. Envolvem toda a vida do cristão: aqui e agora e depois! Na sequência, Jesus afirma que os seus seguidores são a luz do mundo. Os ensinamentos éticos cristãos aparecem em todo o restante do sermão, fundamentados nos Dez Mandamentos. A reação dos ouvintes do sermão foi que as multidões ficaram maravilhadas da sua doutrina.

A sociedade atual está cheia de encantamentos, mas carece muito do encantamento com as maravilhas divinas! Cabe aos cristãos contar e cantar as maravilhas do Senhor e viver o encantamento dessas maravilhas.

Considerando a Palavra de Deus e seu poder transformador; considerando a missão de Deus no sentido integral; e considerando a missão como evento no testemunho oral e nas atitudes coerentes entre fé e vida pública de cada cristão, os cristãos são chamados a reencontrarem-se no propósito de Deus para com suas vidas: são instrumentos de Jesus. Ele chamou a todos os cristãos para a disponibilidade do tempo e dos dons, a fim de proclamar os poderosos atos divinos para a sociedade de qualquer época. Deus chama as pessoas e as capacita para o serviço no seu reino. Em meio às trevas, brilha a luz de Jesus.

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