Neste mês de outubro, os brasileiros maiores de 16 anos são chamados às urnas. Temos, novamente, a oportunidade de escolher representantes que procuram acomodar interesses, por vezes conflitantes, do que seja o “bem comum” da sociedade. Nesta arena, as visões do que seja um mundo melhor são testadas, tanto de quem governa quanto de quem se dispõe a governar. Em resumo, o momento de nossa civilização permite que nós escolhamos, ativamente, os “príncipes da terra”.
Isso mostra, em primeiro lugar, que o sistema político democrático – onde a vontade da população, cujas visões, valores e objetivos se dividem em partidos – confere, na modernidade, a legitimidade necessária para que a sociedade viva em relativa paz. Afinal, ninguém tolera (no ocidente, pelo menos) um governo escancaradamente tirânico. Parece ser mesmo como aquela frase atribuída a Winston Churchill: “a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros”.
Parece, ao mesmo tempo, convergir com o que está bem assentado em nosso documento jurídico mais importante, ao dizer que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Constituição” (art. 1º, § único, da Constituição de 1988). Este é o sentido moderno de soberania na doutrina política: não na mão de reis ungidos, nem em uma casta, família ou grupo de pessoas de onde emana autoridade, mas do conjunto das forças vivas da nação – que também é a destinatária do bem que se deve buscar pela paz da cidade.
Em resumo: a escolha de nossos representantes é um direito humano, inclusive é o que diz o art. 21.3 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ao dizer que “a vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto”.
Por outro lado, nós, cristãos, somos movidos pela nova obediência que a regeneração do evangelho produz. Nessa obediência, a lei que nos rege é a do amor ao próximo, verdadeira ativação da fé que por graça recebemos de Deus. É esse amor que a todos devemos (Rm 13.8). Também reconhecemos, diferentemente do mundo, que a verdadeira soberania não vem “de baixo”, do povo; na verdade, a fonte da autoridade vem “de cima”, de Deus (Rm 13.1).
Nesse particular, os luteranos se destacam justamente porque enxergam Deus em ação no mundo através das pessoas. Somos chamados (vocacionados) em todas as áreas da vida, e, na cidadania, nosso dever é de servir ao próximo tanto como eleitores – escolhendo representantes que procurem o bem comum que reflita valores que nós entendemos serem essenciais para todos – quanto como candidatos, que se proponham a testemunhar a Verdade que seguimos com sua vida e conduta em uma arena tão difícil quanto a pública.
Que neste mês de outubro possamos exercer nosso amor ao próximo votando com consciência, intencionalidade e entendendo que, apesar daquilo que vemos, é Deus quem governa os dois reinos (o da mão direita, com o evangelho, e o da mão esquerda, com a espada). E que escolhamos candidatos dispostos a serem e fazerem o possível para a promoção do bem e o refrear do mal, até que Jesus, verdadeira esperança nossa, volte e nos leve para a nova Jerusalém, e ali estabeleça seu Reino eterno!
Coluna Direito Religioso, escrita por
Jean Regina @jeanregina
Thiago R. Vieira @tr_vieira