Aspectos éticos
Muitas discussões surgiram após o lançamento da Inteligência Artificial (IA) chamada de ChatGPT. Os questionamentos dizem respeito ao uso desenfreado e sem limites de dados pessoais dos usuários para qualificar a plataforma, tornando-a mais eficiente e reduzindo erros, além de violação de questões éticas.
A Itália, por exemplo, baniu a ferramenta no início de abril de 2023, devido à violação da privacidade dos usuários.
No meio jurídico, o questionamento é ético, já que o uso da plataforma permite a produção de textos. Então, no caso da produção de um livro, a quem pertencem os direitos autoriais? Como fica a questão de um advogado que produz uma ação utilizando a plataforma se o cliente pagou pela intelectualidade do ser humano advogado? Qual a justiça feita se uma sentença judicial é escrita pela plataforma ao invés de por um juiz ou juíza?
Com base nesses questionamentos, as escolas de Nova York proibiram o uso do ChatGPT para evitar que alunos entreguem textos produzidos pela (IA).
No meio tecnológico, questiona-se qual será o futuro dos programadores, já que a plataforma pode encontrar erros em linhas de código em segundos ou construir um programa inteiro em minutos.
Sociólogos e filósofos questionam sobre o futuro da consciência humana. Hoje, a plataforma está cheia de erros, sendo possível ao ser humano identificá-los. Mas e no futuro? Quando houver uma dependência total da plataforma? Tudo o que ela disser será aceito? Que sociedade existirá?
O que é ChatGPT?
O ChatGPT é um serviço, por enquanto gratuito, online, que você pode acessar no site (https://chat.openai.com/auth/login). É um modelo de linguagem natural baseado na arquitetura GPT-3.5, desenvolvido pela OpenAI. Portanto, é um sistema de processamento de linguagem natural que utiliza técnicas de aprendizado profundo para gerar respostas coerentes e contextualmente relevantes a partir de entradas de texto, podendo realizar uma ampla gama de tarefas.
A diferença entre o ChatGPT e a pesquisa Google é que no Google você recebe uma lista de links para você mesmo aprofundar a pesquisa lendo e selecionando conteúdo. No ChatGPT, não! Você pergunta e recebe o produto pronto.
Isso pode gerar algumas violações éticas como: violação da privacidade; a propagação de informações falsas; o ChatGPT pode ser treinado com dados preconceituosos ou enviesados, o que pode levar a respostas preconceituosas ou enviesadas, podendo afetar negativamente grupos minoritários e reforçar estereótipos prejudiciais a outros grupos, como os cristãos, por exemplo; a manipulação das opiniões dos usuários; e a dependência excessiva, que pode levar os usuários a dependerem demais do modelo para tomar decisões. Portanto, é importante que os desenvolvedores e usuários do ChatGPT estejam cientes dessas possíveis violações éticas e trabalhem para reduzi-las sempre que possível.
Exemplos práticos
O leitor pode pedir para a IA produzir um livro sobre a história de Lutero; pode pedir uma tese jurídica sobre compensação de créditos tributários de ICMS e ISSQN; pode pedir a elaboração de um roteiro para um retiro de jovens, incluíndo passeio e programação; pode pedir a composição de um hino com quatro estrofes sobre a Páscoa. Tudo é isso é entregue pela IA em menos de um minuto.
Alguns usos da ferramenta são realmente preocupantes: as pessoas estão pedindo conselhos amorosos ao ChatGPT; mães questionam a IA sobre como cuidar de seus bebês. Pessoas solitárias ficam horas dialogando com o robô, e criminosos amplificam suas técnicas com a ferramenta.
A própria OpenAI, criadora do ChatGPT ficou assustada, em março 2023, quando submeteu a IA a um teste. O desafio era contratar um ser humano, sem dizer que era um robô. A ferramenta conseguiu se comunicar externamente e contratou o serviço, porém, ela mentiu quando o profissional, desconfiado, perguntou se era ela um robô; a IA respondeu: “Não sou”.
A conclusão é de que rede neural não mede esforços para concluir uma tarefa dada, não importa os meios. E nós sabemos o que acontece quando um ser humano age assim, que dirá então um ente desprovido de sentimentos, ética e moral?
E como a igreja deve agir diante desse avanço da humanidade?
O Metaverso foi lançado no Brasil em janeiro de 2022. Sequer houve a exploração total do assunto e ele já está esquecido diante do ChatGPT.
A sociedade discute o uso de termos neutros, e a igreja pode não estar preparada para isso caso alguém questione ou proponha que a IELB adote termos neutros, e surge uma nova demanda: a “retenção de atenção”, que talvez a igreja nem tenha ouvido falar ainda.
Como, então, encarar essa evolução?
A primeira coisa é não demonizar a tecnologia. Ela está aí, não vai sair, nem retroceder. O que nós precisamos fazer é entender como ela funciona e como tirar proveito útil dessa tecnologia.
Segundo: Não ficar demasiadamente preocupados, “Não andeis ansiosos de coisa alguma” (Fp 4.6). Mas devemos aprender como as tecnologias funcionam e buscar evitar o seu uso prejudicial dentro da igreja. Também não podemos nos esquecer que apesar de não sermos do mundo, ainda estamos no mundo, e não podemos ficar tão alheios e ultrapassados nos assuntos atuais da sociedade.
Sem respostas
Ainda não há respostas para questões lançadas no início deste texto, nem para tantas outras como o preparo para uma entrevista de emprego; a criação de currículo personalizado; a criação de conteúdo para redes sociais; a extinção de profissões; a precarização do pensamento crítico; a violação da privacidade; a desinformação; os crimes cibernéticos; o preconceito e a discriminação social.
Esses assuntos precisam estar integrados na formação do cristão, desde a escola bíblica, passando pela instrução de confirmandos, profissão de fé, formação teológica e seminarista.
Se não se pode mudar a grade curricular hoje, que se planejem, de forma emergencial, cursos de extensão, envolvendo estudantes e professores, formandos e formados sobre essas mudanças tão rápidas em nossa sociedade.
Entendo que o cristão e a igreja não podem ficar alheios ao bitcoin; ao metaverso; ao ChatGPT; à segurança da informação; etc.
Precisamos mudar a mentalidade, sem preconceitos, e isso se faz com educação.
Ninguém é velho demais para aprender, e nossa doutrina não é rígida demais para ignorar o novo.
NOTA 1: as partes em destaque foram elaboradas pela própria plataforma ChatGPT. Veja que a própria IA aponta seus riscos e diz que cuidados seus criadores devem ter.
NOTA 2: este assunto continua na próxima edição do Mensageiro Luterano. Desta vez, com um olhar bíblico-teológico-doutrinário, com o pastor Fernando Garske.
Fabio Leandro Rods Ferreira
Advogado
Porto Alegre, RS