Já ouviu alguém dizer essa frase a uma criança? Eu já. Estávamos num parquinho. Meu filho mais novo brincava animado subindo escadas, descendo nos escorregadores… e eu atrás dele, monitorando. Passamos por uma mãe que tentava convencer a filha de uns 10 anos a ir embora dali. A mulher falava alto, constrangendo a menina, e, depois de xingar, usar um adjetivo que prefiro não mencionar, largou a frase em tom de ameaça: Eu vou deixar você sozinha aqui!
Por um instante, parece que a gritaria alegre das crianças silenciou. Olhando a cena, fiquei imaginando quantas e quantas vezes mães e pais usam esse recurso para fazer seus filhos obedecerem. Mesmo que seja em tom de brincadeira.
Ainda impactada pela cena, lembrei que eu já tinha tentado algo parecido certa vez: “Teo, a mamãe está indo, tchau”. Na época não surtiu efeito. E ele, inclusive, me deu tchau, querendo ficar onde estava. Mas, dizer com todas essas letras, eu nunca faria e menos ainda depois do que presenciei.
Não importa o tamanho da birra, a intensidade da manha, nunca podemos dizer que vamos deixá-los sozinhos, é como falar que serão abandonados. Sem contar que se colocarmos em prática a frase dita, estaremos cometendo um crime, de acordo com o Art. 133 do Código Penal: “Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono”.
Já pensou se Deus fizesse isso com a gente a cada deslize nosso? Se nos largasse de mão cada vez que ele nos mostra o caminho, e nós queremos ficar no nosso canto ou seguindo errantes no caminho torto? Ao invés disso, ele nos mandou Jesus, o Emanuel, que significa Deus conosco.
E antes de subir aos céus, Cristo disse aos discípulos: E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos (Mt 28.20b). E avisou que logo depois viria o Espírito Santo, promessa cumprida no Pentecostes.
Aos pais, Deus deu de presente os filhos. Nossa função é dar segurança a eles, dizendo e mostrando que são amados independentemente de suas ações, que estaremos junto deles sempre. Está certo que há vezes que é difícil fazer com que venham conosco. Aí, a sugestão é combinar um horário de saída antes, ir sinalizando aos poucos quanto tempo falta e, quando chegar a hora lembrar que foi o horário que combinaram. Muito melhor do que ameaçar, mentir, é dar limites e ensinar a obediência com verdade e paciência.
Nossos filhos precisam de segurança, amor e respeito. Precisam sentir a paz e a certeza de que nunca vamos deixá-los sozinhos. Assim como o Pai Celeste faz com seus filhos.
Se você está sentindo que ficou sozinho pelo caminho, lembre-se de que Deus está sempre conosco, ao nosso alcance, na Bíblia (Palavra) e nos sacramentos (batismo e santa ceia). E deixe que ele mostre a você o caminho a seguir, assim como Davi expressou no salmo 139:
“1 Senhor, tu me sondas e me conheces. …
3 Observas o meu andar e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos.…
7 Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face?
8 Se subo aos céus, lá estás, se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também”
Aline Koller Albrecht
Jornalista
@alinegk