A missão da igreja é mundial

“Conheci pessoas que aos 40 anos de idade não sabem o que é calçar um chinelo. A vida financeira é muito difícil, mas o amor e dedicação para ouvir a Palavra de Deus é impressionante. Foi isso que mais me marcou.” Maíra Plamer

A missão mundial é um compromisso e um desafio permanente das igrejas. E não é diferente quando falamos de Moçambique e Angola. A atuação junto aos países pode ser cíclica, com ênfases diferentes com o passar do tempo. Como a missão da IELB junto aos países envolve também organizações missionárias e igrejas, é necessário que as informações e ações se concentrem em uma coordenação. Desde o início de 2023, além da gestão financeira dos projetos da África, que é feita no Fundo de Apoio a Projetos da IELB (FAPI), também o diálogo conjunto das igrejas e a liderança em implementação do trabalho junto à diretoria da Igreja Cristã da Concórdia em Moçambique estão sob a responsabilidade do coordenador dos Projetos, pastor Airton S. Schroeder. A IELB, com a responsabilidade de promover a educação teológica, tem na pessoa do prof. Leonídio Schulz Görl, o coordenador da Educação Teológica por Extensão, por isso o programa de formação é coordenado pelo Seminário Concórdia, por meio da ETE.

Entre os dias 6 e 25 de junho, a equipe formada pelos já citados e pelo pastor André Buchweitz Plamer, acompanhado pela esposa Maíra, atuaram em Moçambique oferecendo um módulo de Teologia, visitando congregações e projetos, bem como conhecendo aspectos da cultura, espiritualidade e gestão administrativa.

A administração da igreja e dos seus projetos necessita de uma atenção especial, para que tenhamos avanços nesse campo, pois o crescimento numérico da igreja é exponencial e exige uma capacidade de gestão de administração e do ensino a todos os membros.

ETE – Moçambique

Nos dias 12 a 20, foi desenvolvido o Programa de Educação Teológica, quando foram oferecidas três disciplinas do Módulo 7: Religiões Comparadas (pastor Airton), Homilética e Aconselhamento Pastoral (professor Leonidio). As aulas ocorreram no Centro de Formação da ICCM, em Tchola, província de Sofala contando com a presença de 22 alunos e 22 pastores. Os pastores já ordenados sempre participam dos cursos para aprofundamento, bem como apoio na tradução e explicação de conteúdos para a realidade local.

A educação continuada para os pastores ordenados é uma necessidade, e o curso terá este incremento de conteúdo e formação para que o rápido crescimento possa ser sustentado por formação doutrinária sólida que sustente a confessionalidade da jovem igreja luterana em Moçambique. Para tanto, será elaborado um currículo próprio que vise este objetivo, para que, tanto alunos como pastores ordenados, possam continuar seus estudos com vistas ao aperfeiçoamento pastoral.

As atividades em congregações sempre foram acompanhadas pelo pastor local e algum membro da diretoria da ICCM. Nos dois primeiros dias, a equipe da IELB participou, no dia 9/06, culto em Massoda, Beira; dia 10/06, na Congregação Santo André, Gondola, e na localidade de Guidione. Dia 11, deslocou-se até a vila de Sena, Sofala. A partir desta data, para alcançar maior número de visitas, cada um dos pastores brasileiros visitou locais diferentes, em mesmo horário. Dia 14, Airton e André foram de trem até a cidade de Tete, província de Tete. No dia 16, o pastor André foi de mototáxi até Minjale. Dia 17, Airton, em Três de Fevereiro, André, na Congregação São Pedro, de Chemba, e Leonidio, em Asuero (O pastor Airton também visitou os dois lugares após o culto). No dia 18, André, na Congregação São Paulo, em Vila de Sena, Airton, em Murrema e depois Mpango; e o professor Leonidio foi de moto táxi até Nhamgoma Sede, em Mutarara (neste culto, 51 pessoas foram batizadas).

O pastor André, que tem acompanhado o trabalho da IELB em Moçambique desde 2013, desta vez foi acompanhado pela esposa, pois há o plano de enviá-lo com sua família como missionário, em 2024. E a esposa Maíra assim se expressa: “Após dez anos acompanhando a missão bem de perto, este ano tive a oportunidade de acompanhar meu esposo na viagem missionária a Moçambique. Foi uma experiencia enriquecedora e de muito aprendizado com relação ao amor a Deus. Conheci pessoas que aos 40 anos de idade não sabem o que é calçar um chinelo. A vida financeira é muito difícil, mas o amor e dedicação para ouvir a Palavra de Deus é impressionante. Foi isso que mais me marcou. Meu esposo sempre mencionava o amor e a dedicação desse povo para ouvir e aprender mais sobre a Palavra de Deus, mas eu não fazia ideia de como era esse amor e essa dedicação. Em cada igreja que visitei, junto com os pastores, me emocionei na chegada e durante cada culto. A demonstração de um amor e uma gratidão imensa a Deus por tudo o que eles vivem. Com certeza, voltei uma Maíra diferente da que saiu daqui do Brasil. Temos muitas condições no nosso país, muitas oportunidades, e ainda assim vivemos nos encantando com coisas fúteis, reclamamos e muitas vezes maldizemos ao nosso Deus quando enfrentamos algum problema. Ver nossos irmãos, que passam por uma miséria indescritível, serem tão gratos a Deus e demostrar tamanha gratidão e amor, me mudou muito. Existe muito trabalho em Moçambique que nós podemos ajudar. Mesmo longe, podemos auxiliar no projeto DORCAS, Agro-Lutero, apoiando na construção de igrejas, apoiando o desenvolvimento da igreja e o programa de Educação Teológica. Enfim, podemos orar e doar recursos a partir da nossa casa e congregação”.

O pastor André, já com ampla visão sobre o trabalho nos escreve: “A cada local visitado, um grande aprendizado, que, somado à alegria contagiante em receber o evangelho, é assim a Igreja Cristã da Concórdia em Moçambique (ICCM). Igreja viva e que vive tão somente pela graça de Deus. Muitos locais de culto ainda são debaixo de árvores, sem nenhuma proteção contra chuvas e intempéries. Em cada culto acontece um grande festejo, manifestado pelo cantar e dançar, que se mesclam e formam uma unidade de louvor a Deus. Esses fatos têm cativado as pessoas, pois somente o culto cristão é um culto de louvor, e que por ter a presença do Espírito Santo enche os corações abatidos de ânimo e real felicidade. Já os ritos pagãos que muitos praticam sempre trazem um peso sobre as pessoas. O paganismo oprime, só o evangelho gera liberdade. A nossa presença como estrangeiros e a comunhão que se estabelece no culto faz lembrar a comunhão que recomendada no salmo 133.1-2: ‘Como é bom e agradável que o povo de Deus viva unido como se todos fossem irmãos! É como o azeite perfumado sobre a cabeça de Arão, que desce pelas suas barbas e pela gola do seu manto sacerdotal’. Por conta da colonização portuguesa, ainda paira no ar a ideia de que os nzungu (referência aos brancos independente de qualquer país) seriam superiores, criando assim a segregação. Com a pregação do evangelho, e, unidos em e por Cristo, somados ao modo de ser dos brasileiros, as diferenças ficam de lado e existe então um só povo alegre e contagiado pela presença do Espírito Santo.  O cantar, louvar, a atenção para ouvir cada leitura bíblica e, em especial, cada pregação, é como se estivessem bebendo do mais doce mel”.

O que esperam as congregações luteranas em Moçambique?

As congregações luteranas em Moçambique anseiam por crescimento, não somente em números, mas especialmente em qualidade. Os membros, as lideranças, desejam o puro leite espiritual conforme recomendado em 1Pedro 2.2-3: “Sejam como criancinhas recém-nascidas, desejando sempre o puro leite espiritual, para que, bebendo dele, vocês possam crescer e ser salvos. Pois, como dizem as Escrituras Sagradas: Vocês já descobriram por vocês mesmos que o Senhor é bom”. É visível esta sede do evangelho. Este ano visitamos as províncias de Manica, Sofala e Tete, e em cada um destes locais tivemos a oportunidade de estar juntos em comunhão e vimos Deus agindo poderosamente. Sei que para o leitor pode parecer estranha a expressão “Deus agiu poderosamente”, mas no contexto da Igreja Cristã da Concórdia, em Moçambique, isso é possível ver, e por isso falamos e testemunhamos a respeito. O pastor André Plamer, acompanhado pelo presidente da ICCM, pastor João Luis Nota, e o pastor Paulo Mineses, foi até Minjale, uma localidade do Distrito de Mutarara. Chegando, os irmãos já aguardavam para o culto, onde três congregações se reuniram num local, sendo que, de duas dessas congregações, os irmãos andaram por entre as montanhas com os corações e mentes cheios de ânimos para ouvir o evangelho. Nesse culto houve 30 batizados. No dia 13/06, acompanhado pelos pastores Nota, Paulo e o pastor Airton, viajamos 11 horas de trem para celebrar um culto em Tete. Esta congregação já está há quatro anos sem pastor residente, mas nem por isso o povo deixou de se reunir.  Cabe lembrar que além dos 22 pastores e os 22 alunos, as 139 congregações em Moçambique são atendidas pelos líderes leigos, que, dedicados e esforçados, reúnem e pregam o evangelho de modo muitas vezes simples, mas contagiante. O resultado disso é a graça de ver as congregações sendo mantidas e também crescendo.

O que a IELB pode fazer para ajudar?

Aos irmãos e irmãs, às congregações e departamentos no Brasil, pedimos que orem e ofertem com generosidade e alegria em favor da missão em Moçambique, pois muito se pode fazer quando unimos forças em favor do trabalho do Reino de Deus. Que possamos recordar as palavras do apóstolo Paulo em 2Coríntios 9.6-8: “Lembrem disto: quem planta pouco colhe pouco; quem planta muito colhe muito. Que cada um dê a sua oferta conforme resolveu no seu coração, não com tristeza nem por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria. E Deus pode dar muito mais do que vocês precisam para que vocês tenham sempre tudo o que necessitam e ainda mais do que o necessário para fazerem todo tipo de boas obras”.

A participação do pastor Airton Schroeder, representando o presidente da IELB na Conferência Internacional de Relações da Igreja, que reuniu 37 igrejas luteranas confessionais, também foi uma oportunidade de diálogo direto com os líderes das igrejas parceiras que assinam o MOU (Memorandum of Understanding), um documento de acordos para o trabalho conjunto, que tem funções e compromissos. Mas a obra de Deus não se faz apenas com administração e recursos, mas precisa ser sustentada pelas orações da sua igreja. Por isso pedimos, orem pela Missão Moçambique, pela Missão Angola e pelo Projeto Aliança, que tem enviado educadores teológicos da IELB para outros países em solo africano para apoiar o desenvolvimento da igreja.

* Esse texto foi escrito por várias pessoas, coordenado por pastor Airton Schroeder.

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