O canto congregacional é parte essencial dos cultos cristãos a tal ponto que nem imaginamos que poderia ser diferente. No entanto, no transcorrer da Idade Média, o coro foi tomando lugar do canto congregacional. Coube a Lutero a iniciativa de fazer com que o canto congregacional fosse restaurado, de maneira que o povo tivesse, novamente, a oportunidade de cantar nos cultos.
O próprio Lutero começou a compor hinos. Em 1523 surgiram seus primeiros hinos, dentre os quais, o “Vós crentes, todos, exultai” (Hinário Luterano, 376), que foi o primeiro hino “luterano” para canto congregacional. Diversos outros foram compostos em 1523. Eles foram editados em folhas avulsas. Mas, em 1524, portanto, há 500 anos, surgiu o primeiro hinário com uma coleção de oito textos de hinos e quatro melodias. O nome desse hinário iniciava com Etlich Cristlich lider (“Alguns hinos cristãos”), e seguia num título bastante comprido. Popularmente ficou conhecido como Achtliederbuch, que significa “Livro de Oito Canções”. Esse pequeno hinário foi editado em Nuremberg por Jobst Gutknecht. Após a edição desse primeiro “hinário”, muitos outros hinários surgiram, aumentando o número de hinos.
É significativo lembrar que o início modesto de um pequeno hinário com apenas oito hinos serviu de motivação para que novos hinários surgissem nas mais diversas denominações cristãs, a partir de 1524. Desde então, os hinários passaram a imprimir nas mentes e nos corações a Palavra de Deus. Desde então, as letras dos hinos trazem esperança, conforto e salvação, deixando em nossa memória o plano de Deus para a humanidade. Os oito hinos do Achliederbuch fazem parte da hinódia cristã, e boa parte deles estão ainda nos hinários atuais. Dos oito hinos do Achtliederbuch, quatro são de Lutero, três de Paul Speratus e um de autor desconhecido. Segue a lista dos hinos desse primeiro hinário (quatro deles constam no Hinário Luterano):
Nun freut euch, lieben Christen gmein (“Vós crentes, todos, exultai!” – HL 376) – Lutero
Es ist das Heil uns kommen her (“Agora temos salvação” – HL 373) – Paul Speratus
In Gott gelaub ich, dass er hat – Paul Speratus
Hilf Gott, wie ist der Menschen Not – Paul Speratus
Ach Gott vom Himmel sieh darein (“Atende-nos ó Deus dos céus” – HL 241) – Lutero
Es spricht der Unweisen Mund wohl – Lutero
Aus tiefer Not Schrei ich zu dir (“Das profundezas clamo, ó Deus” – HL 349) – Lutero
In Jesus Namen heben wir an – Anônimo
De maneira geral, os hinos que surgiram no tempo da Reforma usam a primeira pessoa do plural (“nós”) expressando o canto congregacional. Esses hinos evitam a primeira pessoa do singular (“eu”), pois são hinos com a mensagem objetiva da graça de Deus para conosco, tendo como centro a justificação pela fé. Esses hinos não apelam para a emoção como sendo central na vida cristã. Ao contrário, esses hinos mostram a iniciativa de Deus em buscar o pecador e oferecer-lhe o perdão assegurado pela obra de Cristo e registrado em sua Palavra.
Quando hoje ainda cantamos alguns hinos do primeiro “Hinário Luterano”, nós nos juntamos à igreja de Cristo que, através dos séculos, tem a mesma esperança de perdão, vida e salvação. Essa igreja de Cristo continuará a cantar, geração após geração, os hinos do passado e continuará a compor novos hinos até a entrada na igreja triunfante.
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