Sentimentalismo ou pregação da Palavra?

A pregação de Jesus, ao ele iniciar seu ministério, não tinha como mensagem central palavras que queriam emocionar multidões, porém um “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4.17)

O Brasil tem vivido um crescimento exponencial do mundo evangélico. Dados do IBGE de 2022 retratam que cerca de um terço da população brasileira se considera evangélica, e que, na próxima década, o país será majoritariamente de evangélicos. Em meio a tantas denominações, formatos de culto e estilos de ser igreja, vale a pergunta: o que realmente vincula a pessoa em uma igreja cristã?

Brasileiros são latinos. E latinos gostam de experiências que mexam com seus sentimentos. Esse fator parece nortear em rica medida o mundo evangélico brasileiro. Aliás, não há nada de errado em emocionar-se ou demonstrar sentimentos no culto, por exemplo. Porém a supervalorização do sentimentalismo é um caminho duvidoso. Ao ponto de uma pregação ser válida apenas se faz chorar ou despertar um festival de sentimentos… Da mesma forma, o louvor só é cheio do Espírito Santo na medida em que ele for extremamente emocionante. Pregação e louvor que não despertem sentimentos parecem cair na vala do comum. Por isso, vale a pena o questionamento: é o festival de sentimentos que vincula uma pessoa a uma igreja cristã?

Os profetas do Antigo Testamento não tinham por tarefa serem coaching do povo de Deus.  A função deles era: “Assim diz o SENHOR”. A pregação de Jesus, ao ele iniciar seu ministério, não tinha como mensagem central palavras que queriam emocionar multidões, porém um “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4.17). E o discurso de Pedro, no dia de Pentecostes? Repleto de citações dos profetas, com conteúdo, com lei e evangelho, centralizado na ressurreição de Jesus e que Deus o tornou Senhor e Cristo. Ao invés de técnicas para emocionar, Pedro pregou a Palavra, de forma cristocêntrica, bem ajustada e costurada teologicamente.

A Palavra pode, sim, fazer aflorar sentimentos. Mas eles são consequência, e não o centro do crer. Há tristeza na ciência de que somos pecadores. Alegria há no ouvir que nossos pecados são perdoados. Conforto e paz resultam de um crer nas promessas do Senhor. Porém, mesmo quando a Palavra é ouvida, crida e aceita, ali há fé cristã. Mesmo que não haja uma epopeia de emoções.

A pregação da Palavra, quando cristocêntrica, é eficaz. Mesmo que ela não arranque de mim um sorriso ou uma lágrima. O louvor, quando parte da cruz de Jesus, é genuíno – até mesmo quando está um pouco desafinado. E estar com o peito ardendo em fogo, infelizmente, não está na lista dos frutos do Espírito Santo de Gálatas, capítulo 5. Aliás, seria melhor ir a um cardiologista logo. Igreja boa não é aquela que faz do culto um entretenimento, um espetáculo. Mas aquela que se junta aos profetas para dizer: “Assim diz o SENHOR”.

Então fica a dica: em um Brasil evangélico e acentuado nas emoções, é o ensino da Palavra que continua vinculando pessoas à igreja. Caso contrário, pessoas irão migrar de denominação em denominação procurando aquilo que ainda não encontraram. 

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