Artur Charczuk
pastor e psicanalista
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Impossível não escrever sobre o assunto do momento: o morango do amor. A febre virtual é uma versão gourmet da tradicional maçã do amor – e já fiquei sabendo que estão fazendo versões com outras frutas, como a melancia, por exemplo.
O morango do amor apareceu de uma maneira despretensiosa, através de um vídeo nas redes sociais, em que a pessoa saboreava a fruta banhada em calda doce e crocante. Assim, o morango do amor viralizou, aparecendo até em canais televisivos. E o mercado não perdeu tempo, nem dinheiro: o doce amargou no valor. Em Santa Catarina, por exemplo, a caixa de morango, contendo quatro bandejas, era vendida por R$ 20,00 a R$ 25,00. Com o boom do morango do amor, o valor saltou para R$ 35,00 a R$ 50,00. Está sendo inclusive relacionado a uma joia, valiosa e bela, só que comestível.
O fato é que o morango do amor desperta os mais pueris e profundos desejos do sujeito. Observando o movimento dessa trend, impossível não lembrar das primeiras formas de prazer do ser humano. O prazer primordial do ser humano acontece pela via oral. O recém-nascido percebe o real pela boca. O amamentar não é apenas alimentação para o bebê, é muito mais: afeto, segurança, vínculo. E essa experiência primordial deixa marcas na vida adulta, despertando o desejo de repetição, porém, por outros caminhos: na comida, no cigarro, na fala excessiva e por aí vai.
Assim entendemos que o morango do amor, com sua textura que estala em cada mordida e com uma doçura irrecusável, desperta sensações intensas no indivíduo, evocando suas vivências do passado através das fantasias. Isso traz à tona os primeiros cuidados maternos.
Portanto, a febre do doce nada mais é do que a manifestação de um desejo guardado, a vontade de voltar para os primeiros anos de vida, tornando-se um refúgio emocional. É como uma suspensão da realidade presente, sem conflitos, sem dores ou feridas, mas apenas o amor envolto de segurança, tudo completo e sem lacunas. Essa trend mostra o quanto que o ser humano busca preencher seus vazios, suas ausências. É como se, por detrás do morango do amor, seu recheio, está o ser humano e suas complexidades.
Outra questão que podemos observar dessa trend é o efeito manada – quando o sujeito observa todo mundo fazendo a mesma coisa e, para ele não se sentir deslocado ou até com a sensação de que ele está errado por não acompanhar o coletivo, ele também copia. É um comportamento coletivo, em que o indivíduo toma suas decisões a partir das decisões dos outros. Se todo mundo está comendo morango do amor, também vou comer. No final de tudo, é o homem buscando por investimento psíquico.
Esses dias eram as imagens convertidas em um tipo de desenho, depois veio os bebês reborns; agora são os morangos do amor; qual será o próximo? O negócio é aguardar, leitor.
Pois é, o respaldo emocional está em alta no mundo das trends. Conforme a posição que a trend ocupa na vida emocional da pessoa, menos ou mais intensa, percebe-se o grau de suas necessidades.
Obviamente, em uma pós-modernidade líquida e vaporizada, isto é, no final das contas, tudo é imediato e vira imagem, é necessário ter cuidado. As trends são a visibilidade dessa realidade líquida e vaporizada, por isso, elas não podem ser o centro da vida humana, dado que o emocional humano precisa de conteúdos mais profundos, com significados concretos e que deem um suporte diante do mundo e suas padronizações ou suas trends.
Diante disso tudo, bem sabemos que Deus é o nosso maior tesouro. As demais coisas, as ofertas virtuais, as trends e modismos são tudo ilusões, tudo efêmero. Descansar em Jesus Cristo é o alento do cristão. Feliz é o coração que está voltado para o Senhor, para Jesus. Não vou dizer para você não saborear a doçura de um morango avolumado por chocolate e ornando por uma doce calda, leitor, não. Se tiver oportunidade, saboreie, mas consciente de que Jesus, nosso Deus e somente ele, oferece as verdades provindas da eternidade, salvação e perdão.