Angele Fritsch
Psicóloga de adolescentes e adultos
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Ao pensar na reflexão que traria neste espaço tão amado por nós, luteranos, que é o Mensageiro, pedi a direção de Deus para abordar um tema que fosse necessário. Então, ao longo dos meses em que fui formatando o tema, ao mesmo tempo que escutava meus pacientes, o assunto da vulnerabilidade se apresentou como muito importante. Muitas vezes entendida sob um estigma de fraqueza, sabe-se que ela é uma característica inevitável na vida. A boa notícia é que estar, em alguns momentos, mais vulnerável não define a força de uma pessoa, mas merece sua atenção.
À medida que vamos envelhecendo e amadurecendo, passamos a não ter dúvidas do quão desafiadora a vida pode ser. Rupturas de vínculos por separação, a despedida de alguém querido que encerra seu tempo aqui na terra, doenças que mudam a vida exigindo cuidados, problemas no trabalho, grandes preocupações com pessoas importantes para nós, são exemplos de quando nossa vulnerabilidade é exposta. Como consequência, precisamos de alguma ação frente aos problemas. Negar ou sufocar nossos sentimentos e emoções difíceis, fazer de conta que eles não existem, não os tornam menores, pois continuam tendo efeito em nossa vida e podem até piorar.
Deus, que conhece a fragilidade e a força de cada coração humano, além de saber que precisamos dele, já previa a necessidade de recebermos ajuda de outro ser humano ou ainda de um grupo, como a família ou a comunidade de fé. Estes, quando alicerçados em uma espiritualidade saudável, podem nos fortalecer, oferecendo apoio espiritual, suporte, amizade e sentido para a vida. A Bíblia reconhece essa necessidade e incentiva o cuidado mútuo: “Levem as cargas uns dos outros e, assim, estarão cumprindo a lei de Cristo” (Gl 6,2). “Melhor é serem dois do que um […]. Porque se caírem, um levanta o companheiro […]” (Ec 4.9-10). Assim, podemos ver que o compartilhar das nossas dores com outro ser humano é inclusive uma recomendação bíblica.
Quando as pessoas ao nosso redor ou nós mesmos não conseguimos dar conta de momentos de ansiedade ou de outras vulnerabilidades que “gritam”; quando emoções estão em desequilíbrio e fogem do controle racional, procurar um médico ou a psicoterapia, ciência que promove a escuta empática e sigilosa e o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento, pode ser fundamental para que alguns sintomas dolorosos possam obter ajuda e alívio. Dar atenção às nossas vulnerabilidades e dores antes que elas se agravem é sinal de profunda sabedoria, sendo também um sinal de luta e não de fraqueza.
Pessoas que mostram a sua humanidade, seu lado forte, seu lado frágil, costumam se destacar por conseguir ter relacionamentos genuínos. Compartilhar nosso lado “não tão vencedor” com alguém que elegemos, que tenha algo de bondade em sua essência, gera uma conexão profunda. Em outras palavras, confidenciar a alguém de confiança nossa vulnerabilidade ou dificuldade em algum aspecto faz com que a outra pessoa também sinta que pode dividir suas situações de vida mais delicadas, o que gera uma maior proximidade e verdade.
E, para refletir: Você se lembra da última vez que chorou com alguém ou por alguém? Que orou juntamente com uma pessoa ou oraram por você? Geralmente esses momentos nos marcam para sempre, pois são de profunda entrega. É a vulnerabilidade de cada um sendo cuidada por alguém, construindo conexões verdadeiras e pontes, e fortalecendo a vida. Cuidado às nossas vulnerabilidades gera alívio e cura.
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