Por que procuramos por padrinhos? Você já se questionou por que pais escolhem pessoas para se colocarem diante do altar na condição de padrinhos da criança a ser batizada? E o que direciona os pais na escolha dos padrinhos?
Mas antes disso é importante relembrar, em poucas palavras, qual a razão do Batismo. Palavras estas que transcrevo da Dogmática Cristã, de John T. Mueller: “De acordo com a Escritura, o Batismo não é mera cerimônia ou rito eclesiástico, porém um meio da graça verdadeiro… pelo qual Deus oferece e transmite às pessoas os méritos que Cristo adquiriu para a humanidade por sua satisfação vicária” (At 2.38).
O Batismo é Sacramento. Um dos meios pelos quais Deus quer trazer pessoas para junto de si e levá-las para o Céu. A partir do Batismo, mesmo um recém-nascido, em sua ingenuidade e incapacidades, torna-se cristão, nova criatura, de real e verdadeira fé em Cristo Jesus.
Lutero vê isto como o início de uma caminhada junto ao Salvador. Por isso, quanto ao Batismo, ele diz: “Quando os filhos de Israel desejavam voltar à penitência, relembravam, antes de tudo, o êxodo do Egito. E com essa lembrança voltavam a Deus que os havia libertado… Quanto mais devemos nós recordar nossa saída de nosso Egito”. E continua: “Por isso compreenderás que tudo o que fizermos nessa vida para servir à mortificação da carne e à vivificação do espírito diz respeito ao Batismo”.
Sob esta ótica, toda a vida cristã é uma repercussão do Batismo. O que acontece é que assim como um ser humano, por sua natureza pecaminosa, não procura a Deus, tampouco deseja servi-lo, assim também uma criança não vai até a pia batismal por conta própria, senão levada pelos pais e padrinhos.
É cumprimento da ordem de Jesus: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19).
O problema é que, por vezes, este versículo é isolado. Com prontidão os pais vão à procura de padrinhos, agendam a data do Batismo, procuram uma roupinha para o bebê… mas fica por isso. Ao contrário do que disse Mueller, faz-se do Batismo uma “mera cerimônia ou rito eclesiástico”.
Porém, o texto de Mateus não acaba ali. Jesus continua: “Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.20a). É certo que o Batismo cria a fé; mas na sequência vem o ensino. Agora a criança precisa aprender sobre esta fé. Precisa saber melhor a respeito do seu Salvador. Precisa aprender as virtudes cristãs e, com palavras e exemplos, toda sorte de boas obras. Ter sua fé alimentada para que possa crescer espiritualmente. Agora é a hora de conhecer o que Jesus ensinou.
Estando a congregação de acordo com o Batismo, e sendo parte da família de Deus para dentro da qual o batizando é trazido, torna-se responsável pelo cuidado espiritual daquela criança. Toda a congregação, como família cristã, abraça o batizado no Reino da Graça, ao qual agora ambos pertencem.
No entanto, a primeira responsabilidade é dos pais, que são representantes do próprio Deus na terra. São a primeira autoridade sobre os filhos, tendo, por isso, o dever de esmerarem-se pelo completo bem-estar deles, de modo a não permitir que lhes seja privada, de modo algum, a esfera espiritual. Porém, fazer-lhes conhecer “o caminho em que devem andar” (Pv 22.6).
Também Martin C. Warth lembra que “a regeneração que teve início em nosso Batismo está ainda em desenvolvimento e será completada somente no Último Dia”. Mas, e quando os pais falham em sua nobre e abençoada (embora não tão fácil) tarefa de educar cristãmente seus filhos? Ou, ainda, se vierem a falecer? É aí que entram os padrinhos.
Padrinhos não são testemunhas de uma cerimônia apenas. Muito mais do que isso, são pessoas que testemunharam uma obra divina. E sendo testemunhas disso, tornam-se também responsáveis pelo cuidado espiritual do afilhado. O que se espera de um padrinho é que ao menos ore pelo seu afilhado. Vindo os pais a faltarem com a educação para uma vida cristã, os padrinhos precisam manifestar-se. Não devem tentar dizer aos pais o que fazer, mas, se necessário, e se chegar a tal ponto, que procurem levar a criança à igreja mesmo com a ausência dos pais – a partir do consentimento deles.
Por vezes, isso é impossibilitado por razões diversas. A distância, por exemplo, pode obstaculizar a boa intenção de padrinhos que zelam, mesmo de longe, pela alma do afilhado. Nestes casos, a oração torna-se ainda mais importante.
Na escolha de padrinhos, é extremamente importante olhar para o que os candidatos são como cristãos. Ser um bom amigo ou de longa data não é o primeiro parâmetro a ser levado em consideração na escolha de um padrinho. Mas, sim, se são pessoas íntegras diante da vontade de Deus. Da mesma forma, quem recebe o convite para apadrinhar uma criança precisa examinar se terá condições de prestar o devido e esperado auxílio.
Bons padrinhos não são os que dão presentes todos os anos no aniversário do afilhado. São aqueles pelos quais o afilhado se sente amado e aos quais sabe que pode recorrer em qualquer situação (assim como com seus pais). Bons padrinhos são aqueles que levam a sério a grandiosidade e a preciosidade do Batismo, lembrando todos os dias o milagre que tiveram o privilégio de testemunhar ante a fonte batismal.
Fontes citadas:
Do Cativeiro Babilônico da Igreja. Martinho Lutero. 2006.
Dogmática Cristã. John Theodore Mueller. 2004.
Fé e batismo em Lutero. Martin Carlos Warth. 2004.
Edenilson Gass
Pastor da IELB – Capanema, PR