Túmulo e esperança

Toda perda é dolorosa. Queridos partem temporariamente ou para sempre revestidos de lembranças, eles nos confortavam, conjugávamos forças para enfrentar contratempos, sentíamos prazer no amparo. Os que partem distanciam-se lentamente para abrirem espaço a presenças que voltem a reconciliar-nos com a vida, o luto acompanha os que se reorganizam.

Mulheres do círculo de Jesus procuram na manhã de domingo a sepultura, andam atordoadas pelo impacto dos acontecimentos que obscureceram a sexta-feira anterior, dia de emoções intensas, sucessão de fatos inesperados e incompreensíveis (Mc 16.1-8). Jesus falava de um mundo sem violência, sem dor, sem humilhações. De repente a voz acolhedora silencia. Por que o condenaram à morte? Por que o torturaram na cruz?

Concluído o repouso sabático, passos incertos movem as mulheres aflitas. O sábado não tinha transcorrido tranquilo, as horas escoavam lentas, sem passado nem futuro, sem esperança. As seguidoras de Jesus andam para homenagear o corpo do Profeta, trazem aromas. Movem-se desarvoradas, cabeças enlutadas, vidas vazias. Preocupam-se com a pedra que fecha a sepultura. Quando chegam, a cavidade escavada na rocha estava aberta, teria sido arrombada? Onde estava Jesus? Inimigos teriam removido o corpo para evitar que seguidores o homenageassem? Queriam evitar que o sítio se tornasse lugar de peregrinações? Túmulo vazio, sonhos vazios! A ausência doía mais do que o desaparecimento de um amigo, elas tinham edificado a vida sobre palavras e prodígios, Jesus garantia ser o cumprimento de promessas feitas aos descendentes de Abraão, à humanidade.

Um projeto de vida tinha desabado. O assombro cega, elas não veem ninguém, não entendem nada, correm, distanciam-se do vazio, do túmulo vazio, melhor um corpo inerte do que nada. Fogem de medo, sentimento que não as tinha atormentado na presença de Jesus, a fala que as encantava não era feita de palavras ocas, as palavras de Jesus eram calorosas, densas. A convivência com Jesus fundamentava a confiança, com Jesus elas estavam seguras. O túmulo vazio esvazia palavras, esvazia a vida. O que esperar? Por que viver?

A decepção foi tanta que resolvem não dizer nada a ninguém. Dizer o quê? Lembram que em lugar de Jesus tinham visto um rosto estranho, um jovem (neaniskos). Seria uma alucinação? Nada do que a aparição espantosa tinha dito fazia sentido. Em lugar das palavras de Jesus, ouvem declarações de um jovem que nunca tinham visto. O jovem move os lábios para reavivar a esperança, os que se arrastam presos ao que já foi não participam do poder que renova tudo. As palavras do jovem derrubam resistências, as mulheres compreendem, aos poucos, que o sábado vazio tinha separado o velho do novo, o sepulcro vazio ilumina vidas, as mulheres veem com outros olhos, entram num universo de sentido, percebem que o ganho supera perdas; em lugar do luto, a festa da vitória, o sepulcro vazio ilumina o universo, aviva a sede de infinito. Os discípulos, iluminados pela mesma luz, pisam no vestíbulo de novos tempos.

Conformar-se com o abismo não significa originalidade, não somos para a morte, o corpo desfeito em pó não é o fim, a sepultura deixou de ser apavorante, o túmulo vazio é o fundamento de acontecimentos imprevistos. O Cristo ressurreto remove a pedra para que a vida irrompa. O significado flui do desespero à esperança, no corpo vivo reside o sentido da vida. A vida futura não é outra vida, é esta vida renovada. Em lugar do Ressurreto que se ausentou, aparece o Espírito Santo, organiza-se o corpo de Cristo, união dos que creem. Na ceia instituída por Cristo festeja-se a presença viva do Crucificado, recebo, unido a outros, o corpo de Cristo. No corpo de Cristo, Deus constrói um mundo que renasce todos os dias.

A luz do primeiro dia da semana propaga-se como saudação à vida, a alegria anima horas de trabalho, o Cristo ressurreto vive em braços e mentes operosas, a vida não é meio a um fim, traz o sentido em si mesma.

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