Ser pastor na pandemia

O tempo de pandemia é atípico para todos nós. É algo que mexe com os sentimentos do indivíduo. O que fazer, como fazer, como se proteger, são algumas das perguntas que surgem. Enfim, cada um tem as suas preocupações, dilemas, certezas ou incertezas com as quais precisa lidar. A pandemia da Covid-19 é algo assustador, pois ninguém tem certeza de nada em relação a como o seu organismo vai reagir caso seja infectado pelo vírus. Dentro deste cenário, temos a figura do pastor, que também não está isento da enfermidade, mas que tem diante de si o desafio de trazer uma palavra, um consolo para todos, especialmente àqueles que mais tem sofrido com esta pandemia.

Como é ser pastor em meio à pandemia é a pergunta de muitos. Vou expor um pouco a partir da minha experiência pastoral. Num primeiro momento, um choque e a expectativa de que a situação fosse por breve tempo. Vimos muitas pessoas assustadas, com medo ou até mesmo neuróticas. Se esperava que a curva desse um salto, mas que logo voltaríamos à normalidade. Porém, vimos que nada disso aconteceu, e o número de mortos, decorrente da Covid, começava a crescer e ainda não deu uma trégua.

Como manter a igreja alimentada pela palavra de Deus passou a ser o grande desafio para os pastores. Cultos on-line, com igrejas vazias, dava um sentimento de muita tristeza. Choro e lágrimas não faltaram neste momento. Mas os pastores precisaram se reinventar. Telefonemas, mensagens através das redes sociais, videochamadas, tudo isso passaram a ser alternativas a fim de suprir a necessidade de consolo através da Palavra. A internet é muito útil para esta finalidade. Se no passado se dizia que a internet era uma maldição, com a pandemia ela se tornou uma bênção. Deus seja louvado por permitir que tenhamos esta tecnologia à nossa disposição. Diante disso, podemos afirmar que não é pela falta de Palavra que as pessoas vão deixar de se edificar espiritualmente. Ela está à nossa disposição, mesmo que seja de forma on-line ou virtual.

Os departamentos tiveram que se adaptar às reuniões on-line. Quem não tinha domínio com as ferramentas digitais teve que aprender a lidar com elas, o que foi bom, por um lado. Mas muitos ficaram à margem, por terem dificuldade em aprender a usar essas ferramentas.

Depois de algum tempo em que as igrejas ficaram fechadas, porque nada podia ser presencial, a grande notícia foi de que agora novamente os membros poderiam se reunir para cultos, com um número limitado de pessoas. Algumas igrejas optaram em ter cultos em diversos horários para atender os interessados; outras limitaram a presença, com inscrição prévia. Mas onde ficaram os membros? Muitos tinham medo de participar e voltaram aos poucos. Outros continuam com este sentimento mesmo depois de mais de um ano de pandemia. Hoje, mesmo sabendo que a liderança vem seguindo os protocolos de segurança, especialmente com preparação dos elementos da santa ceia, distanciamento social, etc., ainda assim há aqueles que dizem: “Ainda não, pastor, está muito forte a pandemia”. Sempre procuramos, enquanto pastor, compreender. Mas nós nos perguntamos para reflexão: o vírus está somente na igreja? O que dizer dos outros espaços frequentados, como: supermercados, bancos, consultórios médicos; restaurantes, locais de trabalho, parques, etc.? Nesses ambientes não tem o vírus? O Deus que nos protege em outros ambientes também nos protegerá na igreja. A religião continua sendo essencial para a nossa formação espiritual. Entendemos que precisamos ter outros elementos para uma reflexão mais complexa, pois se percebe que começamos a encontrar pessoas que se escondem atrás da pandemia para não assumir algum compromisso importante na sua vida.

O pastor tem o desafio de continuar ensinando a Palavra de Deus a todos e orientar as pessoas a se colocarem diante de Deus, pedindo a ele que os proteja e afaste os seus temores. Ninguém está isento da doença, mas cremos que o Senhor Deus sempre nos dará forças para enfrentar toda e qualquer situação, pois “tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). O recomeço das atividades presenciais tem sido um grande desafio a todos. Cultos e departamentos, voltar ao templo, tudo isso tem demandado sabedoria para lidar com este assunto. O perigo do distanciamento é iminente. Por isso redobramos a nossa atenção. Para muitos, hoje, é mais cômodo participar em casa, on-line. Salientamos que o momento de comunhão social é muito importante para todos.

Finalmente, é preciso salientar que o pastor também tem a sua família, e, apesar de tomar todos os cuidados, acaba se expondo, querendo cumprir o seu papel diante de Deus e da comunidade. Nem sempre é compreendido. Se faz visita durante a pandemia, é irresponsável; se não faz, também é irresponsável porque não acompanha os seus membros. No entanto, a grande preocupação do pastor é pelo bem espiritual da sua igreja. Assim como na família, nos sentimos bem quando temos comida à mesa, assim também acontece na igreja, o pastor se sente bem quando sabe que a sua igreja está se alimentando da Palavra de Deus, fortalecendo a sua fé e fazendo uma reflexão madura dos tempos difíceis que vemos para todos se tornarem mais fortes.

Os motivos de solidão e desânimo sempre serão preenchidos pela graça de Deus em sua vida. Pastores e membros podem se apoiar mutuamente. Assim como as famílias são fortalecidas na Palavra e no apoio do pastor, ele também precisa disso para se animar e continuar fazendo o trabalho com amor, apesar da pandemia. Eis o grande desafio de toda a igreja.

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