A imagem irreconhecível das Cataratas do Iguaçu com pouquíssima vazão inundou minha alma de tristeza. Fiz meu estágio de teologia nesta cidade das Três Fronteiras, e os meus olhos sempre se arregalavam ao presenciar tanta beleza diante do turbilhão de águas no meio de exuberante floresta. Mas a notícia de que “o rio Iguaçu está doente e vê a mata nativa minguar” me deixou profundamente consternado.
O que acontece nessa região do Paraná se estende pelo território nacional e todo o planeta. O rio Iguaçu padece às mínguas porque a Mata Atlântica está desaparecendo e provoca um ciclo de secas e enchentes. Ambientalistas explicam que a mata preservada atenua o impacto de secas e temporais sobre os rios. A floresta retém no solo a umidade acumulada pelas chuvas, que preserva as nascentes mesmo na estiagem. Mas, quando as lavouras e pastagens tomam o lugar das árvores, o solo deixa de reter a umidade, e nas estiagens as nascentes têm menos água e até morrem. Na época das chuvas, a água não penetra no solo desmatado e corre direto para os rios, trazendo erosão e enchentes. E no final, quem sofre é aquele que deveria obedecer ao mandamento divino de “cultivar e guardar” o jardim.
E vejam o absurdo. Às custas do desmatamento, o Brasil tornou-se o segundo maior produtor de grãos do mundo, e ao mesmo tempo, campeão da fome. Mais da metade dos brasileiros, ou seja, 117 milhões vivem em situação de insegurança alimentar ou passando fome. Alguma coisa está errada quando o Brasil alimenta o mundo lá fora e um mundo de gente aqui está sem comida.
Nós sabemos qual é a fonte deste pecado. Se as imagens dos satélites não escondem os desmatamentos, não é preciso deste recurso tecnológico para encontrar as causas da degradação do meio ambiente e de todos os estragos no planeta. Os crimes contra a criação divina têm origem aos pés de uma árvore que jamais deveria ser “derrubada” – a do conhecimento do bem e do mal. Foi o seu fruto, a cobiça, que encheu o coração humano de iniquidades ao fazê-lo cair na conversa do pai da mentira: “É certo que vocês não morrerão” (Gn 3.4). Seria o fim de todas as árvores e a morte daqueles que dependem das florestas se não fosse plantado um santo arbusto com a promessa daquele que não diz mentiras: “Ao vencedor darei o direito de se alimentar da árvore da vida” (Ap 2.7).
Mas enquanto a criação ainda estiver sujeita ao cativeiro do pecado (Rm 8.21), é preciso preservar os rios, as matas, os animais. E também denunciar. Como fez um delegado federal afastado por delatar os crimes contra a floresta, e que replicou: “Cantem de alegria todas as árvores da floresta”. Exultou com as palavras ecológicas do salmo 96 depois que a voz dele foi atendida no meio da corrupção.
Mas por que as árvores deveriam cantar de alegria quando sofrem ataques constantes de motosserras? A resposta está no início e no final deste salmo: “Cantem ao Senhor um cântico novo […] porque o Senhor julgará o mundo com justiça”. Não é por nada que as árvores são frequentes símbolos bíblicos para falar de vida e de morte, sobretudo quando a Bíblia diz que o cristão é “como árvore plantada junto a uma corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto” (Sl 1.3).
Resta dizer que não adianta cantar “Ao caminhar por bosques e florestas, ouvindo à brisa pássaros cantar, ou vendo além montanhas altaneiras o teu poder e glórias proclamar”, se as Cataratas do Iguaçu desaparecerem junto toda a criação que Deus nos presenteou. É preciso fazer alguma coisa para que nossos filhos e netos também arregalem os olhos diante das maravilhas da natureza. Afinal, se Jesus não nos revelou quando iremos ver o novo céu e a nova terra, então temos o compromisso de preservar aquilo que ainda enxergamos.