O Esperado

Homens religiosos guardavam rigorosamente a lei, acreditavam preparar assim o caminho para a vinda do Messias. Fervorosos observadores de preceitos antigos desenvolviam outros, o conjunto subia a centenas de ordenanças, tolhia a liberdade de muitos. Roma festejava vitórias, façanhas militares eram aplaudidas por milhares. Jerusalém vivia à sombra do passado, recordava tempos gloriosos. Habitantes de Jerusalém esperavam que o passado retornaria engrandecido, aguardavam um futuro que obscurecesse o esplendor do império dos césares, sonhavam com um poder que se estenderia sobre todos os povos.

Paulo coloca ambições de grandeza na categoria do homem velho, tradição de um passado de opressores e oprimidos. (Cl 3.9). Arrogantes não teriam o poder de preparar o caminho da regeneração. O velho homem permanece preso a imagens vazias, a erros consagrados, engana-se a si mesmo, busca renovação onde ela não está, não redime ninguém, nem a si mesmo, não conhece seus limites, pretende realizar o que está acima de suas forças: a reconciliação com Deus. Por carregar peso insuportável, atravessa dias de tormento.

Ao definir o novo homem, Paulo lembra a luz que o cegou no caminho a Damasco. Sem capacidade de se orientar, o apóstolo passou a ver o que olhos não veem, foi-lhe revelado o Menino de Belém. Na manjedoura sorri o homem que é Deus, capaz de subverter todos os valores, capaz de renovar todas as coisas. Reverenciado por gente que passa dias e noites a conduzir rebanhos, Cristo não repete nenhuma eminência passada, não insiste na obediência a leis. Cristo restaura o que o velho homem despedaçou: a união do finito com o Infinito. O céu desce à terra no canto dos anjos, a Criança é a porta que dá acesso ao reino de Deus.

O Messias nasce longe das armas, longe da erudição, longe do culto ao passado. Nova foi a mensagem dos mensageiros do nascido em Belém. O Messias não tinha vindo para renovar exigências, não fortalecia as cadeias que prendem à lei. Os enviados por Cristo pregavam arrependimento, mudança de mentalidade, libertação de imposições, esperança inaugurada com a humanação do Filho de Deus. As palavras revolucionárias que anunciam novos tempos afrontam o estabelecido. Olhos ofuscados por grandezas abrem-se para nova imagem de si mesmos. O apóstolo anuncia tempos em que mulheres não são excluídas, em que vitoriosos não oprimem vencidos, abrigos recebem estrangeiros. Antes de pertencermos a uma nação, a uma classe, a uma família, somos imagem de Deus como se lê na Carta aos Colossenses, 3.9-11. Criaturas renovadas pelo poder renovador de Cristo sabem-se carentes, reconhecem benefícios, conhecem o valor da convivência, operam transformações.

Quem sou eu? Sou mistério para mim mesmo, iluminam-me olhos que redimem, um dia conhecerei como sou conhecido. O novo homem fundamenta-se na Palavra que se fez homem, vê em brilhos o vigor da Luz que vem do alto, ilumina os dias dos que sofrem, socorre desamparados, sabe que o prazer de dar supera o prazer de receber, propaga o Natal. O novo homem volta os olhos ao futuro, irmana-se aos que se batem por dias melhores, volta os olhos ao que ainda não é. O processo de renovação é lento, convoca muitos, atravessa vidas, revigora-se em dias maus, robustece-nos na dor. Natal é dádiva. Movido pelo amor, o novo homem combate o desamparo, a fome, a inimizade.

Muitos Natais aconteceram desde o primeiro Natal. A festa de Natal não é recordação saudosa de outros Natais. Este Natal é diferente de todos os outros. A cada momento renascemos para outras exigências. Repetição é transfiguração, presença do Criador. Deus cria sentido onde não há sentido. Nossa alegria está no mal vencido, vivemos na esperança.

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