Em meio à guerra na Ucrânia, em que acompanhamos em tempo real os tristes acontecimentos e vemos os bombardeios e destruições, recebo, através do presidente da Lutheran Church Missouri Synod (LCMS), Rev. Dr. Matthew Harrison, uma mensagem do bispo da Igreja Evangélica Luterana da Ucrânia – IELU. Acho importante compartilhar com os irmãos para que oremos mais pela paz. A Ucrânia me é muito querida, pois meu pai, Rev. Léo Winterle, nasceu perto de Kiev, a capital, numa época em que muitos alemães lá moravam, muitos dos quais fugiram diante do avanço do comunismo. Os alemães que ficaram foram perseguidos, e a maioria foi morta. Meu avô veio ao Brasil imigrado em 1912, com sete filhos pequenos. (Carlos Walter Winterle)
Mensagem do bispo Serge Maschewski, da Ucrânia!
Prezados amigos,
Envio algumas reflexões sobre a Quaresma.
A Palavra para esta semana vem do evangelho do Domingo Estomihi, 2022:
“Tomando consigo os doze, disse-lhes Jesus: Eis que subimos para Jerusalém, e vai cumprir-se ali tudo quanto está escrito por intermédio dos profetas, no tocante ao Filho do Homem; pois será ele entregue aos gentios, escarnecido, ultrajado e cuspido;
e, depois de o açoitarem, tirar-lhe-ão a vida; mas, ao terceiro dia, ressuscitará. Eles, porém, nada compreenderam acerca destas coisas; e o sentido destas palavras era-lhes encoberto, de sorte que não percebiam o que ele dizia.
Aconteceu que, ao aproximar-se ele de Jericó, estava um cego assentado à beira do caminho, pedindo esmolas. E, ouvindo o tropel da multidão que passava, perguntou o que era aquilo. Anunciaram-lhe que passava Jesus, o Nazareno. Então, ele clamou: Jesus, Filho
de Davi, tem compaixão de mim! E os que iam na frente o repreendiam para que se calasse; ele, porém, cada vez gritava mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim! Então, parou Jesus e mandou que lho trouxessem. E, tendo ele chegado, perguntou-lhe:
Que queres que eu te faça? Respondeu ele: Senhor, que eu torne a ver. Então, Jesus lhe disse: Recupera a tua vista; a tua fé te salvou.
Imediatamente, tornou a ver e seguia-o glorificando a Deus. Também todo o povo, vendo isto, dava louvores a Deus.” (Lucas 18.31-43)
Nesta quarta-feira, a igreja entra no período da Quaresma. Um tempo de arrependimento e oração, de ensino e autoexame.
Nossa Igreja Luterana da Ucrânia entrou na Quaresma um pouco mais cedo este ano. A Ucrânia está em chamas. Os problemas chegaram à nossa terra. No dia 24 de fevereiro, eclodiu a guerra. Terrível, horrível, desprezível! Tiros automáticos de espingardas, bombardeios com granadas, bombardeios com mísseis, sirenes, toque de recolher – tudo isso se tornou nossa realidade. Os mortos, os feridos, as dezenas de milhares de refugiados – uma realidade terrível. E agora, ouvimos as palavras do Senhor a seus discípulos com especial clareza e de uma maneira totalmente nova: “Eis que subimos para Jerusalém, e vai cumprir-se ali tudo quanto está escrito por intermédio dos profetas”.
O Senhor sabia o que o esperava em Jerusalém. Ele sabia que seria traído aos gentios, que seria escarnecido, que seria insultado, humilhado, cuspido, coroado com espinhos em sua cabeça e morto.
Ele sabia sobre a cruz do Calvário. O coração de Jesus estava cheio de medo. Mas, mesmo assim, ele foi a Jerusalém. Foi oferecer-se como sacrifício de expiação pelos pecados do mundo. Foi para trazer paz aos homens.
Agora, nós, no Espírito Santo, seguimos com Jesus o caminho de seu sofrimento e morte.
Os apóstolos não podiam imaginar o que significavam as palavras: “escarnecido, ultrajado e cuspido; e, depois de o açoitarem, tirar-lhe-ão a vida…”. Por que isso tem que acontecer? O que isso significa? Não há uma maneira de evitá-lo? Por que Deus está disposto a sofrer um tal vexame? Os discípulos não entenderam. Suas esperanças para o futuro estavam desmoronando. O medo se instalou em seus corações, assim como nossos corações estão agora.
Uma guerra eclodiu… E nós não entendemos os caminhos de Deus. Por quê? Por quê? Como Deus permitiu que isso acontecesse? Passamos por medo, pânico, frustração. Por que isso aconteceu conosco? Por quê? Kharkiv, Kyiv, Kherson… Por quê?
Os apóstolos levaram algum tempo para compreender o significado do que Jesus tinha dito e feito. O Espírito de Deus tinha que iluminar suas mentes e corações. E então eles começaram a pregar: esta era a única maneira possível de sermos salvos.
Em algum momento também ficará claro para nós porque Deus nos conduz de uma maneira tão estranha, e nós testemunharemos: “O caminho de Deus é para o bem”.
Não temos ilusões… Nossa Igreja já passou perseguições por parte do Estado antes. Sabemos e lembramos como, por ordem da Embaixada Alemã, os serviços do governo ucraniano destruíram nossas congregações. Conhecemos a hipocrisia, o engano e a mesquinhez de nossos funcionários do Estado. Mas distinguimos claramente entre o governo atual e o nosso povo, o nosso país. E agora, a agressão é cometida não contra as autoridades da Ucrânia, mas contra o seu povo.
E nós, a Igreja, com nossos filhos, com nossos irmãos e irmãs, estamos em guarda e prontos para defender nossa pátria até a última gota de sangue. Estamos com medo? Sim. Recuamos? Não! E acreditamos que Deus nos mantém e nos protege.
E não é por acaso que em nossa passagem do evangelho encontramos duas histórias tão diferentes: a predição de Cristo de seu sofrimento e morte, e a cura de um homem doente!
O homem cego nos ensina a ver. Ele ouve Jesus de Nazaré passar. E grita, grita alto: “Jesus, Filho de Davi! Tem misericórdia de mim!” Os discípulos o silenciam; mas ele grita ainda mais alto: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” Cristo está no centro de sua vida: “Jesus, Filho de Davi! Tem piedade de mim!” O Senhor pergunta: O que você quer de mim? Disse ele: “Senhor, que eu possa ver”. Jesus lhe disse: Recupera a tua vista; A TUA FÉ TE SALVOU!
E ele imediatamente recebeu sua visão e seguiu a Jesus, louvando a Deus.
É assim que o homem cego e doente encontra o Deus que tem misericórdia e cura. Um Deus que não passa adiante, mas que ouve o grito de ajuda. Deus, que, ao sofrer, se apressa a mostrar misericórdia para com aqueles que clamam a ELE.
Nosso Senhor crucificado não fica alheio à nossa dor, à nossa necessidade, nosso desespero, nosso medo, nossa fraqueza.
Nosso Deus crucificado venceu a morte e superou a desesperança. Ele fez tudo isso por nós.
Ele percorreu esse caminho para se tornar aquele que pode salvar, aquele que pode ajudar. Em qualquer situação, a qualquer momento. Ele nos dá uma bênção e um futuro. Ele nos recompensa com uma vida plena. E nós acreditamos que o Senhor nos ajudará em nossa luta, o Senhor não nos deixará, mas superará tudo conosco. Portanto, o medo vai embora e olhamos com ousadia para o presente e com esperança para o futuro. E a cegueira vai embora…
A Igreja Luterana da Ucrânia é ativa no trabalho voluntário e diaconal, na defesa de nossas cidades e no cuidado espiritual dos necessitados. Encontramos Deus no sacramento. E nele, Cristo nos cura. Encontramos Deus na oração de nossos irmãos e irmãs. Na ajuda e no cuidado de nossa Igreja.
Quero agradecer, especialmente, aos fiéis da Igreja Luterana – Sínodo de Missouri, e pessoalmente, ao presidente, Rev. Dr. Mathew Harrison, e ao pastor James Krikawa: Deus os abençoe! E a glória do Senhor os acompanhará.
Nós, pelo poder de Deus, venceremos todas as coisas, e o Senhor nos concederá a vitória!
Então, romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR será a tua retaguarda (Isaías 58.8).
Obrigado a todos vocês por sua ajuda e orações!
Em Cristo,
Serge
Fonte: President Harrison’s Ash Wednesday Sermon.
Reproduced courtesy of Reporter. © 2022 The Lutheran Church—Missouri Synod.
Tradução: Carlos Walter Winterle