No último final de semana de março, aconteceu, de forma online, o Laboratório de Lideranças da Liga de Leigos Luteranos do Brasil, para o qual foram convidados líderes e pastores de todos os distritos da Igreja, com mais de 90% de participação. Neste evento tive a oportunidade de falar brevemente sobre uma bonita amizade.
Este amigo e nossa história são reais: me refiro ao André Cristiano Mittmann, vice-presidente de Projetos da LLLB, a quem conheço há muitos anos. Considero ele uma pessoa consagrada, da minha absoluta confiança; tanto é que já divide comigo várias gestões de diretorias, eventos, projetos.
Além dessa convivência na igreja, André e eu já viajamos juntos, vimos muitas partidas de futebol, já visitamos nossas casas, conhecemos nossas famílias, já dividimos muitos copos de cerveja. André também já me contratou profissionalmente, como também já tive o privilégio de contratá-lo, porque além de meu amigo é um excelente profissional.
Todavia, o que pouca gente sabe sobre minha amizade com o André, é que nas eleições presidenciais em 2018 votamos em candidatos totalmente opostos, e que em 2022 provavelmente também votaremos em partidos com projetos e discursos absolutamente antagônicos. Mas, surpreendam-se vocês, contrariando todas as estatísticas e expectativas, conseguimos manter um relacionamento respeitoso, com liberdade inclusive de nos enviarmos figurinhas com piadinhas políticas para nossos WhatsApp com indiretas do tipo “Olha o que o seu candidato está aprontando”.
Faço uso desta real ilustração porque estamos nos acostumando a ver amizades se desfazendo por causa de questões políticas; pessoas se afastando de suas igrejas e de sua fé porque não suportaram um posicionamento diferente; cristãos se agredindo publicamente nas redes sociais porque a carapuça de um comentário ácido lhe vestiu; crentes utilizando pré-julgamentos para condenar irmãos com sentenças do tipo “Quem acredita em Jesus não vota em candidato ‘fulano’”!
Martinho Lutero explicou a distinção entre igreja e Estado com a “Doutrina dos Dois Reinos”, na qual ensina que Deus governa o mundo, o reino da mão esquerda, através de governos seculares; e governa o céu, seu reino espiritual, com a mão direita. Assim, Lutero amenizou posicionamentos católicos radicais que rejeitavam qualquer autoridade temporal, e tentava justamente evitar que governantes temporais se intrometessem nos corações dos cristãos e em assuntos de fé.
A oportuna Oficina, ou “insight”, como rotulamos, chamado “Resiliência, Tolerância, Flexibilidade”, teve como mediador outro amigo, o pastor Jonas Lindner, que fechou o Laboratório de Lideranças da LLLB lembrando o texto de João 17, “estamos no mundo, mas não somos do mundo”, apaziguando nossos corações com a certeza de que “com Jesus, em Jesus, nós podemos muito mais”.
Tratamos neste painel sobre a divergência política, pois o tema é atual e nos preocupa, reconhecendo que a polarização, neste ano de 2022, parece maior do que era em 2018. Porém, no dia a dia, o diabo nos tenta, nos provoca, e as discussões podem ter diversos motivos, como o desfecho de uma novela, o cardápio em uma festa na congregação, o chamado de um novo pastor, ou até mesmo sobre futebol.
Aliás, falando em futebol, contei que sou são-paulino e meu amigo André é gremista. Mas essa é uma outra história, uma outra briga, e quem perde com tanta briga é a nossa querida igreja, o nosso sagrado Reino. Melhor continuarmos unidos em Cristo, resilientes, tolerantes, flexíveis.
Ives Moller
Presidente da LLLB