Neste ano, o período de Epifania (“manifestação”) é um pouco mais longo: vai de 6 de janeiro até 23 de fevereiro, porque a festa da Páscoa será mais tarde, em 20 de abril. Assim, teremos sete domingos de Epifania. Um tempo até que razoável para aquilo que o calendário litúrgico da igreja se dispõe a nos proporcionar. É disso que vou tratar neste artigo.
Lembro que estamos no ano C da Série Trienal, o ano em que destacamos o evangelho segundo Lucas. Mas na Festa da Epifania (6 de janeiro) sempre temos um texto do evangelho segundo Mateus: o episódio da visita dos magos do Oriente (Mt 2.1-12). Essa é a epifania ou manifestação do Salvador àqueles que vêm de longe.
No Primeiro Domingo de Epifania, o texto do evangelho é o relato do batismo de Jesus (Lc 3.21-22). Em Lucas, o batismo de Jesus serve de pano de fundo para algo diferente. Note que o texto diz que todo o povo foi batizado, Jesus também tinha sido batizado, ele estava orando e, enquanto orava, o céu se abriu. Este é o destaque em Lucas. O Espírito Santo desce sobre Jesus, e uma voz do céu (o Pai) diz: “Você é o meu Filho amado, em você me agrado”. Trata-se, portanto, da apresentação de Jesus para o seu ministério. Diríamos que é a “ordenação” ou “instalação” de Jesus para o ministério messiânico. Jesus tinha então “uns 30 anos” (Lc 3.23).
No Segundo domingo de Epifania, lê-se nos três anos da Série Trienal um texto do evangelho segundo João. Os textos de João são “fortes” na proclamação da identidade de Jesus. Quem é Jesus, de fato? O evangelho de João responde. A leitura para esse domingo é João 2.1-11, “O casamento em Caná da Galileia”. O milagre da água em vinho é sinal, é mensagem. Aponta para os tempos messiânicos (Amós 9.13) e revela a glória (a divindade) de Jesus.
A partir do Terceiro Domingo de Epifania, teremos textos de Lucas em cinco domingos consecutivos. (Essa leitura será continuada mais tarde, no pós-Pentecostes, com Lucas 8.) Em cinco domingos, o resumo do que Jesus fez e quem somos nós em relação a ele.
Em Lucas 4.16-30, que será lido no Terceiro Domingo de Epifania, aparece o “discurso de posse” do Messias. Convidado a ler as Escrituras na sinagoga de Nazaré, Jesus abriu o livro de Isaías e leu o começo do capítulo 61. Em seguida, sentou-se (para começar a ensinar) e pregou o sermão mais curto e impactante de seu ministério: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabam de ouvir”. Jesus cumpre a missão do Servo anunciado no livro de Isaías. “Proclamar o ano aceitável do Senhor” é a sua missão.
No Quarto Domingo de Epifania (Lucas 4.31-44), um resumo das atividades de Jesus: ele ensina (4.31), expulsa demônios (4.35), cura doentes (4.38-40), mostrando que “era chegado o Reino de Deus” sobre nós (Lc 11.20). Jesus se recusa a “abrir um consultório” em Cafarnaum. Era necessário anunciar o evangelho do Reino de Deus também em outras cidades. A leitura do Antigo Testamento (Jr 1.4-10) lembra que esse é o ofício profético de Cristo. A missão profética é arrancar (lei) e também plantar (evangelho).
Lucas 5.1-11, no Quinto Domingo de Epifania, é mais do que uma história de pescaria. Um homem indigno é chamado para ser pescador de gente (note o paralelo com Isaías 6.1-8). E aquela que poderia ter sido a última pescaria no lago da Galileia era um sinal de que a nova atividade (pescador de gente) seria igualmente maravilhosa.
No Sexto Domingo de Epifania (Lucas 6.17-26) temos as bem-aventuranças segundo Lucas, que apresentam a nossa identidade como povo de Cristo. As bem-aventuranças não são tarefas a serem realizadas, mas declarações de Jesus que fazem de nós o que elas anunciam.
Na conclusão desse ciclo de leituras, Lucas 6.27-38 é o Evangelho do Sétimo Domingo de Epifania. Aqui aparece a conduta do povo de Cristo, centrada no amor ao próximo. Também, isso, é “epifânico”, porque mostra ao mundo um povo que ousa ser diferente.
Costumamos ler esses textos um por um, domingo após domingo. Mas é bom olhar para todos eles, porque formam um belo conjunto. Neles temos a identidade de Jesus, a “ordenação” de Jesus, o ofício profético de Jesus, a “instituição” do ministério apostólico, o bem-aventurado povo de Deus, e a vida desse povo. Abençoada Epifania!
Vilson Scholz
Professor de Teologia no Concordia Seminary
St. Louis, USA
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