O Natal e Fim de Ano sempre trazem muita esperança. E, dessa vez, as expectativas do mundo inteiro estão nas promessas do nascimento da vacina. É o advento da cura. É a criança que vem nascer no ventre da ciência. São os infectologistas prontos para anunciar, nos campos da mídia, “hoje nasceu o salvador de vocês, enrolado numa ampola de seringa”.
A espera por este milagre natalino é o anseio de toda a humanidade. Parecida com a expectativa daqueles pastores nos campos de Belém quando foram correndo encontrar o Salvador na manjedoura. Afinal, não faltavam agruras para aquela gente sofrida. A dureza pela sobrevivência junto com as doenças incuráveis encurtava drasticamente a alegria e a expectativa da vida. A média da longevidade não passava dos quarenta anos. Se Moisés reclamou que eles só viviam uns setenta anos e os mais fortes chegavam aos oitenta (Salmo 90), referiu-se a um grupo privilegiado, porque a maioria morria bem antes.
Por isso o Salvador dos pastores de Belém e do mundo inteiro trouxe grande esperança. E não decepcionou. Tanto que num tempo sem a medicina moderna, João testemunha no final do evangelho que muitas outras coisas que Jesus fez não foram escritas porque “nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos”. O apóstolo deveria estar pensando naquilo que já tinha dito, que “Jesus fez diante dos discípulos muitos outros milagres que não estão escritos neste livro”. Indiscutivelmente, a criança no ventre de Maria era a grande promessa, e que se cumpriu na vida sofrida de tanta gente curada em suas enfermidades.
No entanto, bem sabemos que Jesus veio ao mundo para ser muito mais que uma “vacina” que livra de pestes, lepra, paralisia, doenças, fome, e da própria morte física. E aí surge a absurda contrariedade: o remédio que veio para o seu próprio país foi rejeitado pelo seu povo (Jo 1.11). Uma incoerência que resiste aos tempos.
Quando as vacinas contra a Covid-19 estiverem finalmente aprovadas, dizem que elas terão muitos obstáculos pela frente. Um deles é chegar a bilhões de pessoas em todo o mundo, junto com a grande dificuldade do próprio armazenamento. Estas vacinas precisam ser mantidas em temperaturas ultrafrias para permanecerem ativas, o que significa sérios problemas logísticos para o seu transporte até lugares remotos.
Isso lembra a logística do evangelho, tão logo ordenada por Jesus: “Vão por todo o mundo”. É a urgência da imunidade natalina para todos, pois todos estão infectados. Mas o evangelho também depende de sérios cuidados na hora de ser armazenado, tanto na “temperatura” das verdades reveladas como na prática do amor por aqueles que já foram curados. Ou seja, Jesus continua no colo de Marias e na proteção de Josés, pois é a Palavra que se tornou um ser humano e morou entre nós, cheia de amor e verdade (Jo 1.14). Jesus é a vacina que nunca deixou de enfrentar obstáculos. Ou, como disse Paulo, “os judeus pedem milagres como prova e os gentios procuram a sabedoria” (1Co 1.22).
Um exemplo dessas barreiras vem de uma cientista brasileira: “Estamos passando por um momento em que a tecnologia e a ciência vão nos salvar, porque estamos desenvolvendo vacina e medicamentos para tratar o coronavírus”. Ela é chefe da equipe internacional de astrônomos ligados à agência espacial norte-americana, com a missão de encontrar a existência de vida fora da Terra. O empenho desses cientistas, na verdade, não teria qualquer problema se não fosse a rejeição ao Criador da vida – a Vida que não precisou ser encontrada fora do nosso planeta, pois ela mesma se revelou à humanidade.
Resta dizer que todos estamos ansiosos pela vacina contra este vírus que até nos distanciou da igreja. Queremos voltar à nossa vida normal. Mas é bom nunca esquecer o que dizem as Sagradas Escrituras, que se a nossa esperança em Cristo só vale para esta vida, somos as pessoas mais infelizes deste mundo (1Co15.19). Ainda bem que a nossa esperança em Cristo está no verdadeiro milagre de Natal.