Ao lermos a história sobre os diferentes períodos, vamos observar como as coisas eram feitas e ficamos surpresos com as diferenças do passado em relação aos dias de hoje. Neste aspecto entendemos que o perfil do ser humano também é específico para o seu contexto social, cultural, tecnológico e político.
Se observarmos a sociedade a partir da Segunda Guerra Mundial, vamos nos deparar com períodos distintos no desenvolvimento social, tecnológico e político, e as pessoas nascidas nesses períodos fazem parte de diferentes gerações, com as suas características que os identificam. Como os avanços têm se modificado e em níveis muito acelerados, as gerações também tendem a acompanhar o seu momento, configurando tensões entre si. Diante disso, quais são os desafios da família e da igreja ao lidar com as diferentes gerações? E, levando em conta a geração Z, os nascidos de 1995 a 2010, última geração que fechou o seu ciclo, quais são as suas características e como lidar com ela? O que me proponho a seguir é apontar para possibilidades nessa direção, bem como trazer elementos característicos a fim de identificação e análise, visando uma boa compreensão sobre o assunto e sinalizar para um diálogo franco e decisivo da família e da igreja para diminuir as tensões e construir uma relação mais próxima entre as pessoas.
Sobre as gerações, o que sabemos é que antigamente elas se transformavam a cada 25 anos. Hoje, a mudança já acontece a cada 10 anos. Não sabemos quanto ao amanhã, mas a tendência é de que essas mudanças ocorram em espaços de tempo mais curtos, o que amplia os nossos desafios como família e igreja, as quais têm o papel de formação social, ética e cristã.
Características das gerações
Então, quais são as gerações e suas características a partir da Segunda Guerra Mundial, que é o nosso foco neste artigo?
Baby boomers – Esta geração foi marcada pelo grande número de filhos. Como as famílias estavam se organizando novamente após a guerra, os filhos ajudariam os seus pais, especialmente na lavoura. Lembrando que isso foi numa época em que a população rural era considerável, comparada com a urbana. Daí nós entendemos as famílias com muitos filhos. São os nascidos entre os anos 1940 e 1960.
Geração X – São os nascidos de 1960 até 1980 (ou 1985). São identificados como questionadores em defesa de direitos e competitivos no mercado de trabalho. Vamos encontrar este grupo especialmente nos grandes movimentos sociais e políticos dos anos 1980, especialmente em nosso país. São reconhecidos também pelo seu alto grau de maturidade, e se observa neles uma tendência em escolher produtos de qualidade.
Geração Y – Após a geração X, encontramos a geração Y, aqueles nascidos entre os anos de 1980 e 1995. Já estamos em pleno desenvolvimento da internet, um grande fenômeno que ganhou o mundo. Esta geração acompanhou o início da TV a cabo, do computador e do videogame, e se acostumou com o rápido e o instantâneo. Hoje prefere fazer compras sem sair de casa. É mais cômodo.
Geração Z – São os nascidos entre 1995 e 2010, ou seja, os jovens e adolescentes de hoje, entre 10 e 25 anos, todos eles fazem parte da geração Z. Como o nosso propósito neste artigo é refletir sobre essa geração, vamos nos deter nela a partir daqui. Lembrando que estes jovens e adolescentes nunca viram o mundo sem computador, tablet, celular e smartphone, e, quando o assunto é tecnologia digital, sempre estão à frente.
Tensões entre as gerações
Como esses indivíduos são capazes de viver múltiplas realidades por serem uma geração hipercognitiva, isso também é motivo de tensão que eles têm consigo mesmos e com os de gerações anteriores. As suas expectativas estão no presente, no que está acontecendo agora, rompendo com o modelo de gerações passadas, que viviam sempre pensando no amanhã, no futuro, estudar para ter um melhor emprego, por exemplo.
O elevado uso das redes sociais – Facebook, Instagram, WhatsApp e outros meios tem gerado uma ansiedade extrema, especialmente no quesito comparação. O outro é melhor que eu. Por isso a exposição da imagem reflete muita simulação. É uma sociedade do espetáculo, uma autocontemplação, como se o indivíduo fosse sempre o protagonista da história. Ou seja, se no passado, o ator da novela ou filme era admirado pelo seu papel, hoje este foco está naquele que compartilha suas fotos, seus vídeos e suas viagens. O indivíduo contempla-se a si mesmo. Ele é a mídia.
A geração Z tem facilidade em participar das diversas comunidades virtuais, mesmo daquelas às quais a família é contrária. Como há uma liberdade de expressão nas mídias sociais é mais fácil se expor, até porque não haverá o confronto pessoal. Tudo é virtual. Assim como muitos amigos são virtuais. Como as possibilidades de pesquisa e acesso são amplas, na palma da mão, é mais fácil “navegar” e se posicionar, mesmo que isso fuja dos padrões morais, éticos e religiosos. Entende-se que há uma superficialidade das ideias, sem ter clareza para onde isso pode conduzir. A sociedade de hoje, como um todo, tende a viver a superficialidade, porque não tem mais tempo para se aprofundar nas diferentes temáticas e tendências do momento.
Se observarmos esta geração em termos de família, existem características que nos chamam a atenção. Com algumas exceções, os filhos agem como se fossem “reizinhos” ou “rainhas”. Querem que tudo seja feito do seu jeito, e os pais sempre precisam dizer sim. A relação estabelecida é horizontal ou vertical invertida. Horizontal, no sentido de que os jovens querem tratar com os pais de igual para igual. Vertical invertida, quando eles se colocam acima dos seus pais. Ou seja, os pais que tiveram uma formação onde era estabelecida a relação vertical, caracterizada pela obediência e respeito aos pais (sim, senhor!) e às autoridades (professor – aluno; patrão – empregado), têm, diante de si, adolescentes e jovens que não aceitam isso, criando, assim, uma grande tensão entre eles. O mesmo também se observa no mercado de trabalho, onde o jovem quer discutir o projeto de igual para igual com os seus superiores. A tendência da horizontalidade permanece nas novas gerações (crianças de hoje).
Como os jovens da geração Z são mais caseiros, a opção de formar nova família, casar-se e ter o seu próprio imóvel é adiada para mais tarde. A tendência desta geração é ao isolamento e, com isso, tem se verificado o crescimento da doença de depressão e do suicídio. Os números de suicídios entre os jovens assustam e demandam atenção maior. Se no passado os jovens mentiam aos pais para saírem de casa, hoje eles mentem aos amigos para ficarem em casa.
Papel da família
Diante deste quadro, qual o papel da família? O que segue são sugestões para reflexão:
· Em primeiro lugar, não há como os pais de hoje criarem oposição à tecnologia, mas o desafio sempre será o de educar os seus filhos para que tenham um senso crítico no uso dela. A oposição só cria um estresse desnecessário e não vai resultar em nada.
· Os pais continuam implantando a identidade. O adulto precisa ser o melhor modelo para os seus filhos. Apesar da horizontalidade nas relações, os filhos precisam de uma referência de sua casa, e os pais devem continuar exercendo este papel junto a eles, mesmo em meio a tensões.
· Um cuidado que precisa ser observado é acerca das ausências dos pais provocadas pelo seu envolvimento no mercado de trabalho. Os filhos estão cada vez mais sozinhos e “por conta”. Muitos, querendo amenizar a consciência culpada, acabam cedendo aos caprichos dos seus filhos.
· O diálogo sempre é o melhor caminho para se encontrar alternativas na condução do processo educacional na família. Isso fará com que haja um exercício visando a maturidade do indivíduo.
· Como o mercado de trabalho é cada vez mais exigente em todos os sentidos, os pais devem continuar orientando os seus filhos aos estudos e capacitação, inclusive, que tenham fluência em outro idioma.
Papel da igreja
E qual é o papel da igreja em lidar com essa geração? Vou expor em tópicos para ajudar na reflexão:
· Em primeiro lugar, a igreja precisa permanecer desenvolvendo o seu processo de educação cristã continuada. Crianças, adolescentes, jovens e adultos, todos continuam sendo alvos da pregação de lei e evangelho como orientações básicas e necessárias para a sua vida cristã.
· Porém, no que diz respeito à geração Z, a igreja precisa fazer uma leitura de sua realidade, entender suas características e aprender a dialogar com ela, numa linguagem que lhe seja acessível. A igreja sempre deve auxiliar os seus membros a terem respostas aos seus questionamentos a respeito da fé cristã. No entanto, o seu conteúdo bíblico e teológico (de séculos anteriores) não pode ser repassado usando uma metodologia do século 20 para se comunicar com os jovens do século 21. Não tem como falar com as ferramentas do passado. A essência da Palavra de Deus sempre será a mesma, no entanto, a forma de entrega pode ser diferente, até porque há novas temáticas que urgem pela resposta da igreja.
· Isso significa que a igreja precisa repensar o seu papel como educadora tradicional. Precisa ser criativa antes que haja um afastamento desta geração das atividades da igreja.
Algumas sugestões práticas poderiam ser:
· Videoaulas ou cursos online. Não estamos estimulando a forma não presencial, mas dessa forma podemos chegar até eles através da tecnologia. A liderança tem este desafio, em manter atualizada a sua plataforma de ensino, com várias sugestões de pesquisa online sobre os assuntos previamente organizados.
· Sala de aula invertida, onde os jovens são estimulados a pesquisar sobre o assunto e compartilhar com o grupo. Isso significa o uso da tecnologia (celular ou smartphone) nos encontros da instrução de confirmandos e da juventude.
· A igreja pode sempre procurar um espaço para dialogar com os jovens sobre a sua geração.
· Incentivar os jovens a criarem programas de evangelismo (comunidades virtuais), onde eles possam expor o seu testemunho de fé junto aos seus amigos. De tempos em tempos, conversar sobre isso com eles para auxiliar nessa iniciativa.
O apóstolo Paulo diz: “Quando estou entre os fracos na fé, eu me torno fraco também a fim de ganhá-los para Cristo. Assim eu me torno tudo para todos a fim de poder, de qualquer maneira possível, salvar alguns. Faço tudo isso por causa do evangelho a fim de tomar parte nas suas bênçãos” (1Co 9.22,23). Nesta perspectiva, a geração Z é alvo de nossa oração e, acima de tudo, Deus tem nos dado desafios enquanto família e igreja. Não podemos ser negligentes e nem ingênuos. Mas, com sabedoria, contribuir na formação destes adolescentes e jovens. Cristo é para todos, também aos da geração Z.