Graças a Deus, ainda posso…

Falando com um grupo de idosos, um deles relatou a situação em que se sentia. Apoiando-se sobre seu andador, disse que fazia uns dez anos que ajudava na conservação da limpeza do pátio, que ia sozinho até a igreja e subia ao coro para cantar no coral, que recebia no portão do pátio aos amigos, etc.; mas que agora, depois de um AVC, tudo estava no passado, e que ele precisava do auxílio da família para as menores atividades. Seu olhar mostrava tristeza e desencanto com a vida que levava.

As Escrituras nos trazem exemplos de pessoas que, quando no vigor da vida, eram duma energia inesgotável, mas que, quando idosas, também tiveram problemas físicos muito limitantes. Isaque, quando idoso, ficou cego e muito dependente da ajuda da esposa e dos filhos (Gn 27). No Novo Testamento, o idoso sacerdote Zacarias ficou mudo (ao menos por algum tempo) e não pode exercer mais seu ministério (Lc 1.20). O apóstolo Paulo se chamou de “o velho” (Fm 9) e ainda precisou arcar com “o espinho na carne” (2Co 12.7).

Todos esses, certamente, sentiram muito as limitações físicas. Contudo, será que algum deles reclamou disso? Ao contrário, o cego Isaque ainda cumpriu seu chamado divino de repassar ao filho a divina promessa sobre o Messias. Ele fez isso de coração feliz e cheio de preces a Deus. Zacarias, no silêncio de sua mudez, recusou-se a dar seu nome ao menino, mas pediu uma tabuleta e nela escreveu o nome que Deus deu ao menino: João é seu nome (Lc 1.63). E o velho e enfermo Paulo escreveu: “Aprendi o segredo de me sentir contente em todo lugar e em qualquer situação […]. Com a força que Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação” (Fp 4.12s).

Aqui Deus nos dá as chaves de um viver feliz quando já em idade limitada. O apóstolo, longe de lamentar seus defeitos e resmungar sobre o que já perdeu, afirma que ele ainda “pode” enfrentar as coisas que Deus lhe apresenta na vida, porque conta com a força de Cristo. Firmado nessa força, o apóstolo, enfermo, preso, e, pelo que parece, parcialmente cego, ainda é o servo do Senhor, pelo qual o próprio Salvador continua a escrever cartas aos cristãos (cf. Fm 19). E, em certas ocasiões, quando ele mesmo não as pôde escrever, ditou o texto e algum discípulo as redigiu (Rm 16.22). Além disso, poderíamos mencionar que o apóstolo nunca se deixou desanimar por suas limitações, mas sempre esteve disposto a orar, testemunhar, cantar louvores ou dar algum conselho prático (At 27.31ss).

Você e eu também já perdemos muito de nosso vigor. Sentimos as juntas duras e doloridas. Talvez nossos ouvidos e olhos já não sejam mais tão eficientes. Nossas idas aos consultórios dentários e médicos são muito seguidas e necessárias. – E se eu lhe disser: Por causa da nossa condição de pecadores, nossa vida é assim. Pois caminhamos implacavelmente para o “pôr do sol” de nossa vida terrena. Graças ao amor de Deus a nós, por meio de Cristo Jesus, não precisamos temer as “trevas da morte”, porque o próprio Salvador nos assegura: “Voltarei e os levarei comigo para que onde eu estiver vocês estejam também” (Jo 14.3).

Temos ainda muitas atividades necessárias, seja isso aos nossos queridos ou à sociedade que nos rodeia. Disse alguém, uma vez, que nós, idosos, temos que pagar nossa dívida junto aos mais jovens, e que essa nossa dívida é testemunhar-lhes o evangelho de Cristo, por meio da nossa confissão de fé.

“Ainda posso.” Para nós, idosos, seja esse o lema de vida – ou melhor – o nosso lema de fé. Longe de lamentar nossos defeitos, carreguemo-los “com paciência”. Esse “ainda posso” nos norteie e motive nas tarefas diárias, seja na higiene pessoal e no caminhar vagaroso; seja na leitura das Escrituras e na meditação sobre hinos; seja nas poucas conversas com nossos queridos ou amigos. Que o “ainda posso” nos mova a participar dos cultos e da ceia do Senhor, e do convívio da “comunhão” com os irmãos da fé.

“Ainda posso orar, louvar e agradecer!”

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