Provavelmente todos nós já contraímos o coronavírus num daqueles resfriados. O vírus foi identificado há uns 60 anos, que causa uma doença que compromete o sistema respiratório. Mas agora surgiu o novo coronavírus, que já infectou e matou muita gente na China e está aterrorizando o mundo inteiro. O que esta epidemia tem a nos ensinar? Para nós, cristãos, qual é o recado de Deus quando o mundo inteiro está com medo do que pode acontecer? Gostaria de compartilhar algumas reflexões sobre o assunto.
Varíola, tifo, cólera, malária e tantas outras epidemias estão no registro da história humana e na própria Bíblia, identificadas como “pestes”. Para nós, cristãos, são sinais dos tempos conforme recado de Jesus sobre a proximidade de sua volta gloriosa no dia do juízo final. No entanto, se essas doenças são garantias evidentes de um mundo afligido no pecado e nas suas consequências, nós, cristãos, levantamos os olhos aos céus e dizemos: “Nada pode nos separar do amor de Deus, nem a morte…” (Rm 8.38). Apesar do temor que também invade nosso humano coração, não ficamos apavorados, igual aos descrentes. Ao contrário, com as devidas precauções higiênicas e medicinais, buscamos os cuidados daquele que é nosso Protetor. Com o salmista, confessamos que Deus nos livrará de perigos escondidos e de doenças mortais (Sl 91.3). E, se atingidos mortalmente por um vírus ou qualquer outra coisa, ainda assim estamos livres da pior epidemia, tanto que podemos ouvir de Jesus que, apesar da morte, viveremos (Jo 11.25).
Outra coisa que aprendemos com esta epidemia que paralisou a segunda maior economia mundial é a fragilidade econômica dos poderosos. O tigre asiático que tanto se orgulha de seu “made in China”, agora precisa curvar-se diante de um inimigo interno que pode acabar com sua soberania e suficiência. O único jeito para vencê-lo é seguir o caminho contrário no mundo dos negócios, fechar as fronteiras e isolar-se, o que traz grandes prejuízos econômicos. Doenças já abalaram reinados, também castelos individuais, quando pessoas são atingidas naquilo que tanto idolatram, o dinheiro. Por isso, quando a vida está por um fio e a morte assombra, surge a grande oportunidade de reconhecer que o ídolo do jovem rico – que foi até Jesus com o vírus da arrogância – não pode salvar ninguém. Este é um dos recados do céu diante do coronavírus: “Deus derruba dos seus tronos reis poderosos” (Lc 1.52).
Outra lição cai direto em nossa cabeça – nós, seguidores de Jesus. Se, por um lado, precisamos nestas horas tomar todos os cuidados para não sermos contaminados, é bom ouvir outra vez o recado de Jesus na parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37). O sacerdote e o levita passaram pelo outro lado do caminho ao perceberem um homem atirado no chão e ensanguentado. Cumpriram a letra da lei sanitária e religiosa que mandava não ter contato com enfermos para evitar contaminação. Mas um viajante de Samaria preparado com azeite, vinagre e compaixão, tornou-se a enfermaria do coitado. – Quem foi o próximo do necessitado? A pergunta de Jesus no final da narrativa é um aviso às pessoas que lavavam religiosamente as mãos e não se misturavam com estranhos, mas contaminavam-se pelo isolamento longe do Salvador e pelo desprezo ao semelhante. Diante disso, junto com as doenças mortais que se espalham rapidamente, a peste mais nociva é “passar pelo outro lado”. Se as epidemias são sinais do fim do mundo, Jesus adverte que a falta da fé e do amor será a grande marca dos últimos tempos (Mt 24.12). Assim, nada adianta usar máscaras e lavar bem as mãos, se esquecemos o aviso de Jesus: “É o coração da pessoa que faz com que fique impura” (Mc 7.15).
Mas creio que a grande lição desta doença está no testemunho de um pastor de Wuhan ao dizer que o coronavírus é “oportunidade para pregar o evangelho” – bem diferente do que se ouve por aí, que é castigo divino. Numa carta, o pastor, que vive no epicentro da doença, diz que assim como o profeta Jonas pregou o arrependimento a Nínive, “devemos orar pela misericórdia de Deus à cidade de Wuhan”. Desde o tempo da Grande Muralha, a China sempre tentou isolar o bom “vírus” do evangelho, mas tudo em vão quando hoje há 100 milhões de “infectados” pelo Espírito Santo. Pode parecer pouco num país que tem 1 bilhão e 300 milhões de cidadãos, mas, contrário ao coronavírus, que mata, não há remédio capaz de combater o evangelho que salva.
E nessas horas, a história do médico Li Wenliang, vítima do coronavírus, confirma que contra certas epidemias não existe isolamento capaz de combater a contaminação. Foi ele quem alertou sobre a doença logo no início da sua descoberta, mas a polícia de Wuhan o censurou, advertindo que era alarme falso. O governo chinês, que sempre reprimiu ideias contrárias ao regime comunista e à liberdade de expressão, dias atrás enfrentava dificuldades para controlar a revolta do povo, indignado com a morte do médico mártir, tanto que era o assunto mais lido e comentado nas redes sociais entre os chineses. Isso lembra outra história, a morte de Jesus. O médico dos médicos foi censurado pela “polícia” religiosa da época, que não queria saber da epidemia do pecado. Tanto que foi morto, vítima dos nossos pecados. Mas seu sacrifício transformou-se na salvação da humanidade.
E aí surge a melhor lição do coronavírus. E busco então uma das cenas que tanto chamam a atenção nas imagens que estamos vendo pela televisão, dos agentes de saúde, médicos e enfermeiros, com roupas especiais para não serem contaminados pelo vírus. Na carta aos Gálatas (3.27), Paulo diz que “por meio da fé em Cristo Jesus, todos nós somos filhos de Deus. Porque fomos batizados e fomos revestidos com as qualidades do próprio Cristo”. Além de estarmos protegidos contra o vírus do pecado, revestidos com os méritos de Jesus, podemos ir ao encontro das pessoas infectadas e tratá-las com o remédio que tem o poder de curar.
Sem dúvida, são tantas lições deste vírus, e todas apontam para o grande amor de Deus.