Durante 30 anos da minha vida, sonhei em realizar uma viagem: conhecer a Cordilheira do Andes e o Chile. Porém, ano após ano, outras prioridades surgiam e o sonho desaparecia.
Porém, num belo dia de abril deste ano, num dos meus passeios pelo Facebook, vi o anúncio da empresa de turismo Kleintur, de Sapiranga, RS, oferecendo um pacote de viagem para o Chile. Em conversa com minha esposa Tânia, vendo que tínhamos recursos disponíveis, decidimos que era o momento de realizar o sonhado evento.
No dia 7 de setembro nos juntamos à excursão. No dia seguinte, já estávamos viajando pelas intermináveis planícies dos pampas argentinos. Naquele dia, chegamos à belíssima cidade de Córdoba, a segunda maior cidade da Argentina. De lá, viajamos mais 700 quilômetros pelas planícies argentinas, até chegarmos à encantadora cidade de Mendoza, já aos pés da Cordilheira dos Andes.
No domingo, dia 11, iniciamos a travessia da Cordilheira, vendo a neve nos topos das montanhas. Numa altitude de 3.400 metros, chegamos à fronteira com o Chile. Lá, além dos trâmites de ingresso, tivemos de fazer o teste da Covid. Fomos informados que o resultado seria enviado por e-mail. E o passeio continuou por mais dois dias.
No último dia da excursão pelo Chile, ainda fomos visitar o Vale Nevado, a mais de 3.000 metros de altitude. Quando chegamos de volta ao hotel, havia um papel debaixo porta do quarto, informando que eu estava positivado. E era o único dos passageiros da excursão com este resultado. Foi um susto grande, e bateu a angústia. Tinha que ficar isolado no hotel por mais quatro dias e sozinho, em terra estrangeira. A excursão precisava voltar e não podia esperar por mim, nem a minha esposa. Tinham de voltar. Foram quatro dias de muita apreensão.
No dia seguinte, da janela do quarto do nono andar do hotel, eu via o ônibus da Kleintur Turismo indo embora e eu sozinho no hotel, fora do Brasil, sem poder sair. Foi uma cena forte. Chorei. Será que meu sonho de 30 anos ia terminar em pesadelo? Meu Deus, por que isso estava acontecendo comigo?
Comecei a orar, confiando que Deus teria propósitos. Fiz contatos com amigos e pastores da IELB. Também fiz contatos com um pastor luterano do Chile, Pablo Gonzales. E este acionou luteranos de lá para me trazerem algo para eu me alimentar. O pastor Pablo acionou a senhora Liisa Tino, esposa do pastor James Tino. Liisa me mandou mantimentos e livros para eu ler. Junto já veio a informação de que no Chile estavam orando por mim. Do Brasil também vinham muitos avisos de orações. Comecei a perceber que eu era um cristão privilegiado: duas igrejas estavam orando por mim: IELB e IELCHI.
Enfim, na segunda feira, dia 19, eu já podia sair do isolamento e do quarto do hotel. Mais ainda vivia muita inquietação sobre ser liberado ou não do país. E se a Covid não tivesse passado?
No dia em pude sair do hotel, a esposa do pastor James Tino, Liisa Tino, veio me buscar e me levou para um passeio por Santiago do Chile. Que cidade encantadora! Levou-me também para conhecer uma congregação da IELCHI. É uma casa alugada, onde abrigam estrangeiros vindos de outros países latinos. A igreja de lá é de madeira de pinus, e as laterais são de lonas plásticas. Tudo muito simples.
Lá me encontrei com o pastor James Tino. E numa conversa muito agradável, o pastor me disse que gostaria muito que a IELB enviasse um pastor para o Chile. Foi o momento em que, no meu íntimo, perguntei a Deus: “Foi para isso que me seguraste aqui?”
Certamente vou levar muito tempo até compreender por que Deus permitiu que meu sonho de 30 anos trouxesse tantas inquietações. Se foi para dar o recado do pastor James Tino para a IELB, está aí o recado: “Querida IELB, no Chile precisam de um pastor brasileiro”.
No dia seguinte, recebi a notícia de que deveria ir ao aeroporto de Santiago, pois havia uma passagem para eu voltar ao Brasil.
Voltei, certo de que “o mundo é teu Senhor”, como diz um hino, onde tem maravilhas para serem vistas, e mais certo ainda de que Deus tem propósitos além dos nossos projetos.
Pastor David Karnopp
Vacaria, RS