Artur Charczuk
pastor e psicanalista
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Não tem como fechar os olhos para tal verdade, leitor, isto é, o perfeito da tela é feito por meio do imperfeito do real, assim entendemos. Existe um grande sofrimento por detrás das vidas aparentemente perfeitas nas redes sociais. Entendamos assim: a rede social é um espaço onde o sujeito apresenta uma versão idealizada de si próprio. Você acessa o perfil de alguém, o que você mais encontra lá? Imagens permeadas de tecnologias para melhorar sua qualidade, ou seja, para ficar incrível; felicidade extremada, viagens paradisíacas, corpos de acordo com a referência social, é praticamente uma vida sem problemas.
POR DETRÁS DA TELA
Atrás da tela é uma grande pressão, pois a fachada que o mundo virtual exige é muito pesada, na verdade, ela é feita com camadas de sentimentos de inadequação, insatisfação, ansiedade, tristeza, rejeição e assim por diante. Essa pressão, essa fachada, acontece porque a pessoa quer acompanhar os padrões sociais e quer ser aceita. Portanto, o indivíduo constrói uma imagem que valide a si e que seja aprovada pelos demais. Não é uma caminhada fácil, é caminhar por entre muitas roseiras e colecionar arranhões emocionais, pois a pessoa fica na incessante busca pela perfeição e validação. Tudo isso produz conflitos e sofrimentos internos.
Com uma constante luta entre o ideal e o real, o psicológico fica fragilizado: baixa autoestima, depressão, angústia, etc. Podemos entender as redes sociais como “coliseus modernos”. Um palco narcísico, onde a luta pela atenção e autoadmiração é uma constante. Com a contínua comparação com os outros internautas e a busca desenfreada pelos likes ou curtidas, a pessoa alimenta uma dependência emocional. Todo ser humano quer ser reconhecido, ser amado, isso é muito nosso, é muito nós. A grande questão é quando tal desejo fica distorcido, em outras palavras, ao invés de ser algo natural, ele se torna uma bomba ansiolítica, a pessoa compreende que precisa ser aceita por todo mundo, precisa ser reconhecida por todo mundo, mas sabemos que não é assim. O que fica para o indivíduo? Um vazio psíquico profundo. A aceitação moderna é um fenômeno complexo. Até podemos ver ela sob três aspectos que revelam seus movimentos.
A ACEITAÇÃO E SUA SUPERFICIALIDADE NA MODERNIDADE
No ambiente das redes sociais, aceitação e quantidade estão muito próximas. Podemos pensar nelas até como sinônimas, ou seja, a aceitação virtual é quantificada, dada que ela depende dos likes, dos seguidores, dos comentários e por aí vai. Só que é uma validação superficial, não envolve uma compreensão profunda, mas apenas uma aprovação externa e parca. Essa mesma busca pela aceitação quantificada pode ser compreendida como uma espécie de defesa, uma defesa contra o medo da insegurança e da inconveniência.
Com isso, a procura pela aceitação virtual pode ser uma tentativa de preencher lacunas internas de autovalor ou autoestima.
INTERAÇÕES EFÊMERAS
As interações virtuais são passageiras, rápidas em grande frequência. Um comentário ou uma curtida proporcionam um breve sentimento de satisfação, entretanto, fugaz. Por consequência, relacionamentos breves não permitem vivências duradouras, em outros termos, tais interações não permitem uma conexão proveitosa com o outro. E uma coisa é fato: a natureza do ser humano almeja por relacionamentos substanciosos, profundos e cheios de significados.
O VAZIO EMOCIONAL DE UMA TELA
Uma aceitação alicerçada no efêmero e na superficialidade ocasiona um esvaziamento emocional na pessoa. É que o indivíduo fica dependente das validações, em função disso, ele cai num ciclo vicioso de insatisfações e comparações diárias. Na verdade, todo ser humano sente uma falta, ele sempre busca preencher essa mesma falta, ter um sentido para seu viver. Quando olhamos para o universo das redes sociais, ele exacerba o sentimento de falta, visto que o indivíduo apenas recebe validações não duradouras, às vezes nem autênticas, resultando em sentimentos de isolamento e solidão. Assim sendo, a tela se torna um grande vazio emocional.
Com efeito, a busca incessante pela aceitação nas redes sociais é uma tentativa de tratar os conflitos internos. Quando o ambiente é momentâneo e superficial, o que apenas amplifica é o sentimento de vazio. Portanto, olhar para imagens aparentemente perfeitas nas redes sociais é como uma porta de entrada para um emaranhado de uma complexa teia de sofrimentos e inseguranças. Como está no título deste artigo: redes sociais perfeitas e feitas a partir de vidas imperfeitas. É o ideal versus o real. Por outro lado, quando a pessoa reconhece essa dualidade, quando ela percebe os dois lados da tela, isso ajuda a ter uma navegação mais saudável e autêntica. Com conexões mais genuínas e uma aceitação maior de si e do outro.
CONFIA NO SENHOR DE TODO O TEU CORAÇÃO
“Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (Pv 3. 4-5). Nas miscelâneas ocasionadas na relação entre homem e máquina, aparência e rede social, ideal e real, é perceptível os grandes estorvos que estão acontecendo. Provérbios convida o ser humano a redirecionar seu coração, quer dizer, onde ele está colocando sua confiança? Onde ele está procurando proteção? Segurança? Consolo? Até aqui, já ficou bem perceptível que o homem caminha como um errante no universo virtual, o seu coração não é para estar ali. Em compensação, em Deus o ser humano pode se sentir protegido, seguro.
Sim, o coração do ser humano é para estar sob a orientação e a graça de Deus. Com Deus, com Cristo, o caminho é seguro, não é como os caminhos fugazes e superficiais dos homens, o caminho de Jesus é moldado pela eternidade, pelo amor e salvação que vem da cruz. A confiança em Jesus Cristo é o lugar do coração do ser humano. Assim sendo, confie em Jesus, o Deus que acolhe nossas imperfeições, que nos ama do jeito que somos, que nos vê perfeitos debaixo da sua graciosa misericórdia. “Confia no SENHOR de todo o teu coração.”
REFERÊNCIA
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo da Reforma. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.