Já há tempos em que a igreja cristã, para muitos, tem uma grande relação com aquela farmacinha que existe em muitos lares. Sim, aquela gavetinha, aquele balcão da casa onde ficam remédios simples para dor, febre, indigestão. Essa farmacinha está por lá, quietinha, enquanto a vida acontece no lar, cheia de vida. A gente só lembra dela quando os filhos estão com febre, quando o jantar não caiu bem ou quando a cabeça está doendo. E é exatamente essa relação que muita gente está tendo com a igreja cristã.
E quando falo igreja cristã, não falo de um CNPJ em si, de uma instituição registrada em cartório. Falo é da igreja cristã na sua mais nobre definição: o grupo de pessoas que confessam a Jesus como seu Senhor e Salvador. E posso dar um passo à frente para dizer que o próprio Senhor é visto quase como uma farmacinha que há dentro de casa. Está lá. Mas não preciso quando tudo vai bem. Ah, mas quando a dor incomoda, recorro a ele. Não por ter sede de perdão e nova vida, não para beber da água da vida que jorra daqui para eternidade, mas apenas como se fosse um paracetamol espiritual para alguma dor que a vida nos dá.
Algo parecido foi visto com dez leprosos. Isolados, sem amores e dignidade alguma, mendigando e aguardando o dia da morte. Mas a história deles mudou quando clamaram por Jesus. Houve cura. Restauração. Nova vida. Destes dez, qual foi a porcentagem dos que voltaram para colocar-se de joelhos diante de Jesus e reconhecer que ele é Deus e que, aos seus pés, uma nova vida começa? Apenas 10%. Dos dez, apenas um voltou. “Onde estão os outros nove?” questionou Jesus, conforme Lucas 17.17.
A espiritualidade moderna, do coaching e da fé regada à purpurina, desenha uma divindade como um paracetamol genérico na gaveta de casa. Deixa essa divindade lá. Minha vida, minhas regras. Deus é bonzinho para aceitar tudo. Mas quando a dor bate à porta, aí sim, é hora de abrir essa gaveta. Mas quando não me sinto mais febril e estou sem dor, para quê abrir a gaveta da divindade genérica?
Jesus não é genérico. Ele é verdadeiro Deus, verdadeiro homem. Morto e ressuscitado para ser a única forma de restauração. E ele te chama. Chama para cura completa. Restauração verdadeira. Não para ser esquecido lá na gaveta da farmacinha, mas para que vivamos de joelhos aos seus pés. Jesus chama ao discipulado, a um verdadeiro arrependimento, do cortar na própria carne. Do viver uma vida cristã com decisões éticas do carregar a cruz – e não achar que a vida cristã é um mundinho cor-de-rosa de leveza e bem-estar. Jesus te chama com todo o teu ser.
Então fica a dica: Jesus não é o paracetamol genérico na gaveta de casa. Ele te chama. E a pergunta ainda ecoa: “Onde estão os outros nove?”.