Edison Glienke
São Pedro de Alcântara, SC
Estas foram as primeiras palavras de Jesus aos seus discípulos, após a Ressurreição. Eles estavam em Jerusalém, escondidos, temerosos, à margem do desespero. Por fora, temiam os Judeus, que mataram seu Mestre, e possivelmente matariam também seus seguidores. Por dentro, corações cheios de dúvidas, culpas, temores, arrependimentos. Definitivamente não era tempo de paz. Jesus sabia. Exatamente por isso escolheu essas palavras para se manifestar aos seus amados naquela sala em Jerusalém. Em nossa Bíblia, consta que Jesus disse: PAZ SEJA CONVOSCO! Isto foi escrito pelo evangelista João em grego. Mas sabemos que Jesus não falava grego, mas hebraico. Então, creio, se a Bíblia tivesse sido escrito em hebraico, o verbo utilizado seria “dabar”, o mesmo verbo utilizado na criação do mundo, em Genesis. Lá, o Criador “disse” (dabar): “haja luz! E houve luz.” A palavra do Criador, em si, carrega o poder de criar do nada (ex nihilo). Quando Deus fala, junto com a Sua Palavra está o cumprimento real de sua vontade, que passa a acontecer. Assim, quando Jesus diz (dabar): “Paz seja convosco”, isso imediatamente cria uma paz nos corações de seus amados, que não pode ser explicada. “Deixo com vocês a paz, a minha paz lhes dou; não lhes dou a paz como o mundo a dá. Que o coração de vocês não fique angustiado nem com medo” (Jo 14.27), diz Jesus. Pois a Paz de Cristo é outra coisa que a paz do mundo. Todos os temores, angústias, culpas, desesperos, perseguições, arrependimentos, fraquezas, doenças ou morte que se podem ver externamente e estão, de fato, presentes na vida dos amados de Jesus, passam a conviver simultaneamente com uma paz interior, baseada na Palavra/ordenação do Criador/Salvador. Em meio a tudo isso, Ele cria do nada uma “paz que excede todo entendimento humano” (Fp 4.7). Não é preciso mudar a situação. Ele muda o coração. Diante da Palavra de Cristo, o Espírito de Deus acalma o ânimo, tira o medo, traz conforto, segurança, alegria, esperança. Assim acontece durante toda a vida dos cristãos, quando ouvem atentamente a voz de Deus, seja anunciada por outro cristão, seja em sua leitura individual da Bíblia.
Não há promessa nenhuma de que os seguidores de Cristo terão alguma vantagem nesta vida em relação aos que desprezam a Deus quanto às situações de angústias, lutas, perseguições, sofrimento…. Ao contrário. Jesus disse: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo passais por aflições…” (Jo 16.33). Os discípulos de Jesus, reunidos em Jerusalém naquele dia, foram todos (com exceção de João, exilado na Ilha de Patmos) perseguidos e mortos de forma violenta: crucificados, serrados ao meio, decapitados, apedrejados… Mas eles tinham Paz. Nem mesmo a perseguição e a morte eram capazes de lhes tirar do coração o que Cristo havia criado em seu íntimo. A Palavra de Cristo permanecia ativa por obra do Espírito Santo em suas mentes, de modo que nada podia abalar-lhes a verdadeira paz e esperança.
Diferentemente do mundo, cuja paz tem relação com conforto, dinheiro, segurança, saúde, e coisas semelhantes, os cristãos não precisam destas coisas. Isto fica muito claro diante de uma ameaça de catástrofe, como foi a pandemia do Covid, ou diante do diagnóstico de câncer, ou quando os idosos descobrem que suas vidas estão terminando. Os “cidadãos do mundo” (nas palavras de Agostinho), se desesperam e nada é capaz de dar-lhes paz nestas situações. Então, tenho observado, no seu desespero, tentam negar a morte e fugir dela com todas as coisas (dinheiro, curas milagrosas, religiosidade…) que possuem. Perdem o resto de suas vidas na tentativa de negar para si mesmos que a morte os está à espreita. Ao contrário, os cristãos sujeitam-se a tais situações cheios de paz, bom ânimo e esperança. O apóstolo Paulo chega a zombar do poder da morte de amedrontar aos cristãos: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1Co15.55). Nem a morte, nem o mundo, nem os nossos pecados têm mais o poder de ameaçar ou amedrontar os nossos corações. Aceitamos tudo que vier em paz de espírito, isto é, naquela Paz que o Espírito de Cristo nos dá, que nada tem a ver com a situação presente.
“Pois estou convencido de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem demônios, nem o presente, nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 8.38-39).
Vem, Senhor Jesus, e dá-nos a tua Paz!