Lucas Pinz Graffunder
Pastor da IELB
Novo Hamburgo, RS
Quando a igreja deixa de crer que Deus age de forma real e concreta nos sacramentos, ela inevitavelmente começa a procurar o sobrenatural em outro lugar. E o lugar mais acessível e mais enganoso é o coração humano.
Tirar o sobrenatural do batismo, da santa ceia e da absolvição é, na prática, trocar a ação objetiva de Deus pela oscilação subjetiva das emoções. O que antes era certeza dada por Deus agora vira sensação. E o que era promessa se torna performance: é preciso “sentir” que Deus está presente, “perceber” que o perdão aconteceu, “experimentar” a presença do Espírito. Mas sentimentos variam. Emoções nos traem.
A fé, porém, não se apoia na experiência, mas na Palavra. Como disse Lutero: “Fé é crer na promessa, mesmo quando nada parece confirmar que ela é verdadeira”. É por isso que o consolo do Evangelho não está dentro de nós, mas fora, na cruz de Cristo, proclamada e aplicada nos meios que ele instituiu.
Deus não nos deixou sozinhos, à mercê de nossos estados de espírito. Ele nos deu meios concretos, visíveis, audíveis. Água, pão, vinho, Palavra. Batismo que salva. Ceia que alimenta. Absolvição que liberta. E tudo isso com base na obra consumada de Cristo e não na nossa disposição espiritual.
Quando a igreja abandona essa fé objetiva, ela se torna refém de uma espiritualidade ansiosa, sempre tentando sentir algo para ter certeza de que Deus ainda está por perto. O que deveria ser consolo vira peso. O que deveria ser dom vira dever.
Na teologia da cruz, aprendemos que Deus se esconde onde não esperamos encontrá-lo: na fraqueza da Palavra pregada, na simplicidade do sacramento, na proclamação do pastor, nas mãos trêmulas que distribuem o corpo e o sangue de Cristo. Ali, onde o mundo vê apenas símbolos, Deus age com poder.
Por isso, em tempos de confusão espiritual, a igreja precisa voltar-se àquilo que nunca mudou: Cristo crucificado, presente por meio da Palavra e dos sacramentos. É ali que o céu toca a terra. E é ali que a fé encontra descanso, mesmo quando o coração não sente nada.