Trapos de sujeira

Tempos atrás fiquei surpreso com a origem da palavra “cueca”. Não convém explicar aqui, tem palavrão no meio. Só que palavrão não é mais feio como era antigamente, hoje é até “bonito” e comum no linguajar. E na prática. Bem diferente de quando os pais mandavam lamber sabão. Quem sabe, foi por falta de sabão que um senador brasileiro escondeu nas cuecas dinheiro roubado. O fato aconteceu no último dia 14 de outubro, numa operação da Polícia Federal contra dinheiro desviado da saúde na casa do senador. O brabo nesta história é que esta e tantas outras notícias de dinheiro desviado nem chamam mais atenção. E aí começa o problema da corrupção. A roubalheira, assim, é parecida com este vírus que virou pandemia, começa nas intimidades, coisa pequena, mas se alastra e vira isso que hoje nem Lava-Jato consegue resolver.

Mas, se a esperança é a última que morre, é preciso colocar a fé em ação. Sem esperar pelos outros, os governantes, os políticos, por aqueles que cuidam do nosso dinheiro. Ou seja, a esperança de um país com vergonha na cara precisa permanecer viva em mim por meio de atitudes íntimas, lá onde ninguém enxerga. Porque a honestidade é igual à roupa-de-baixo, ela está no coração, na alma.

A Bíblia, por isso, vai bem além quando o assunto é corrupção. Ela diz que “todas as nossas boas ações são como trapos sujos” (Is 64.6). Trapos sujos se referem às roupas íntimas daquele tempo bíblico. Com a força de expressão, Deus expõe nossa condição espiritual igual ao pecado do senador. Uma imundícia íntima reafirmada na carta aos Romanos, que “não há uma só pessoa que faça o que é certo” (3.10). A esperança morreria por último se o texto não tivesse um “mas” igual às propagandas de sabão: “Mas, pela sua graça, e sem exigir nada, Deus aceita todos por meio de Cristo Jesus” (3.23). Foi nisso que o arrependido Davi acreditou quando pediu a Deus: “Purifica-me de todas as minhas maldades e lava-me do meu pecado” (Sl 51.2). Davi também foi flagrado com as “calças na mão” por outro tipo de roubo, da mulher do próximo. O rei se deu conta de que enquanto não confessou o seu pecado, se cansava, chorando o dia inteiro (Sl 32.3). A diferença na vida de Davi, no entanto, é que ele não foi alguém sem juízo como o cavalo ou a mula, que precisam ser guiados com cabresto e rédeas para que obedeçam (Sl 32.9).

É assim que funciona o mundo onde não é o evangelho que comanda a vida das pessoas. Tudo funciona pelo cabresto e rédeas da lei. Por isso a importância da polícia, da justiça, do castigo – daquilo que no Brasil nunca foi levado a sério, e que tem nome, punição. Foi esse tipo de “acostumar-se com a desonestidade” que arruinou com organização política da nação de Israel, tanto que através do profeta, Deus foi bem direto: “Vocês não querem acreditar que o dia do castigo esteja perto, mas o que vocês estão fazendo vai apressar a chegada de um tempo de violência. Ai de vocês que gostam de banquetes, em que se deitam em sofás luxuosos e comem carne de ovelhas e de bezerros gordos! Vocês fazem músicas como fez o rei Davi e gostam de cantá-las com acompanhamento de harpas. Bebem vinho em taças enormes, usam os perfumes mais caros, mas não se importam com a desgraça do país” (Am 6.3-6). O restante da história está registrado na Bíblia para mostrar que Deus não suporta a corrupção, de descrentes e muito menos de cristãos.

Foi isto que Paulo lembrou aos seguidores de Jesus que antes tinham uma vida parecida com a deste senador que segue a lei da esperteza: “Quem roubava que não roube mais, porém comece a trabalhar a fim de viver honestamente” (Ef 4.28). É o jeito para sentir vergonha e ter consciência limpa. Ou, vai chegar a hora quando não tem mais como esconder.

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias Relacionadas

Independência ou morte!

Na cruz, um ato que liberta da morte para a vida

Veja também

Independência ou morte!

Na cruz, um ato que liberta da morte para a vida

Dia de vistoria?

Assista à reflexão do pastor Cesar Rios

Formandos de Teologia conhecem de perto o trabalho das servas

Diretoria Nacional da LSLB dirigiu aula para os estudantes no Seminário Concórdia