“Muito obrigado por sua amizade. Leve, ao partir, o nosso amor que nunca acabará”. Esse é o trecho da música “Tributo à amizade” (nº 111 do cancioneiro Celebrai*), muito cantada em congressos e eventos da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), principalmente em momentos de despedida dos amigos, reforçando que o que os une é a fé e o amor.
Talvez a despedida seja difícil quando alguém se muda para outro país, mas manter as amizades pode ser transformador. A igreja, assim como o trabalho e a faculdade, pode ser um local para fazer novas amizades, encontrar pessoas com os mesmos interesses e afinidades.
Por motivos e em épocas diferentes, esses brasileiros escolheram outros países para morar. As amizades que aqui construíram ainda são mantidas, mesmo à distância, pois elas os encorajam a continuar atrás de seus sonhos.
*Uma versão da música Tributo à Amizade, gravada por muitos amigos, está disponível neste link: Música Tributo à amizade
“Aqui fizemos novos amigos, mas os do Brasil são os que torceram e ainda torcem muito por nós. É bom dividir nossas conquistas e matar a saudade ouvindo as novidades deles. Se fosse possível, gostaríamos de todos morando aqui conosco. Entendo que quando buscamos amizades, procuramos coisas que temos em comum, e, sem dúvidas, teremos mais facilidade se a pessoa for cristã como nós. Eu penso que isso facilita o contato e para manter a relação. No Brasil, tínhamos mais atividades em comum, visitávamos as casas dos outros irmãos. Aqui as pessoas, culturalmente, têm um círculo de amizade mais restrito, e a aproximação é mais difícil. Antigamente eu dizia que eles eram frios, mas hoje entendo que é cultural, o brasileiro é muito mais aberto a conhecer novas pessoas”. Aline e Gabriel de Almeida Rottmann. Participavam da Congregação São Paulo, Moinho Velho, em São Paulo, SP, e desde 2019 moram em Edimburgo, Escócia.
Ao descobrir a cidadania italiana, em 2006, Hélmer e Flávia deixaram o Brasil e se mudaram para a Itália. Além de fortalecerem a fé, procuraram fazer amigos na igreja, para se familiarizarem. “Tivemos algumas participações na Chiesa Cristiana Protestante in Milano e em uma atividade evangélica aqui em Verbania, mas acompanho muito mais as programações brasileiras online”, afirma Hélmer. O contato com familiares e amigos brasileiros é contínuo, principalmente através de Whatsapp. Sobre as amizades, ressalta: “O calor humano no Brasil é muito mais expressivo! A realidade é que ainda temos tanto para aprender como cristãos convertidos, e nos colocar à disposição de Deus para sermos usados por ele”. Hélmer Marchiori Precilios e Flávia Ferreira da Silva participavam da Paróquia Martin Luther, no Rio de Janeiro, RJ, e desde 2006 moram em Verbania, Itália.
“Constante não é a palavra mais adequada para descrever as amizades que temos no Brasil, devido à distância e à diferença de fuso horário. Mas elas continuam fortes. Muda a frequência, mas mantemos a qualidade das relações. Uma das primeiras coisas que fizemos ao chegar aqui foi procurar uma igreja luterana. Após recebermos a visita do pastor responsável pela comunidade, começamos a frequentar os cultos. Fomos extremamente bem acolhidos, o que nos ajudou a criar novas amizades e facilitou nossa adaptação ao novo país. Principalmente no começo, sentimos muita falta dos amigos, e mantivemos contato frequente para compartilhar as novas experiências e também momentos de angústia, que são normais quando tudo é novo e diferente. Os amigos nos deram muita força para continuar e entender o processo de mudança pelo qual passávamos. Mesmo com a diferença de horário, os amigos-irmãos estavam sempre disponíveis para uma boa conversa e uma palavra de apoio”. Maurício e Ana Saul participavam da Congregação Rei Jesus, em Novo Hamburgo, RS, e desde 2017 moram em Melbourne, Austrália. Hoje são membros da Congregação Luterana St. Johns.
“Migrar sozinho para um país onde a cultura e língua são bem diferentes da sua é um desafio enorme. Saudades e aflições aparecem com mais frequência, mas os amigos estão ali sempre apoiando e incentivando, mesmo que às vezes não entendam a nova realidade de quem mora fora. Mensagens e ligações se tornam algo encorajador, e, na maioria das vezes, saber que mesmo com a distância eles estão ali para ouvir você é algo gratificante e acolhedor. Na época da juventude, sempre fui muito ativa, participei de retiros e congressos, fiz parte de diretorias, ajudava na organização de eventos, e até tentei cantar no coral. Aqui não temos uma congregação, então é mais complicado. Por meus horários de trabalho serem diferenciados, eu não consigo ser tão ativa. Tento participar ao máximo das atividades virtuais. As leituras do Castelo Forte, Cinco Minutos Com Jesus, Mensageiro Luterano e da Bíblia ajudam muito a manter a fé e o relacionamento com Deus. Por mais que não tenhamos uma congregação aqui, ainda assim me sinto próxima e acolhida”. Juliana Schneider de Souza, participava da Congregação São João Batista, em Guaíba, RS, e desde 2018 mora em Swords, Condado de Dublin, Irlanda.
“Muitas vezes um amigo é mais chegado que um irmão. Desde que eu cheguei aqui passei por angústias, aflições, preocupações, dificuldades financeiras, adaptação em algumas áreas, como a maioria dos brasileiros passa aqui. E Deus sempre me manteve firme. Eu sei que tenho amigos que oram por mim, alguns no Brasil, outros que fiz aqui, que oram por mim e pela missão que tenho. Existem muitas igrejas americanas que têm trabalho missionário com brasileiros. A diferença é que essa igreja vira sua família, porque aqui não temos parentes. A amizade verdadeira transcende tempo, distância, momentos bons e ruins. Gosto muito da história dos dez leprosos, que pode também ser compreendida assim: a cada dez pessoas que você ajuda, apenas uma volta para agradecer pelo que você fez. A cada dez amigos que você supõe ter, somente um é verdadeiro. Essa é uma conta que já fiz na minha vida. Muitas decepções, muitas pessoas que achei que eu poderia contar e, quando eu mais precisava, elas já não estavam mais lá. Um amigo verdadeiro não bajula. Ele também está sempre presente, nos momentos bons e ruins. E ele ora e intercede por você. Alexandre Janner, participava da Congregação Bom Pastor, Lapa, São Paulo, SP, e desde 2019 mora em Orlando, Flórida, Estados Unidos.
“Apesar de parecer tão pertinho comparado com outros emigrantes, a adaptação levou um bom tempo. Acho que o mais difícil de tudo foi justamente fazer amigos, criar raízes. Casada com pastor, a participação na igreja foi meio que garantida (jejeje), mas ‘sentir-me parte’ foi um processo. Morria de saudades da JELB, das congregações de Florianópolis e Canoas, dos corais…
No início, os amigos brasileiros foram fundamentais, inclusive nos visitando em Buenos Aires no primeiro ano. Os encontros foram se espaçando, e agora nos vemos, principalmente, quando viajamos ao Brasil. Mas é como se o tempo não tivesse passado, até porque, tem amigos que são mais do que irmãos, então não dá pra perder, né? As conversas de Whatsapp também são menos frequentes, mas a gente dá um jeito de enviar um resumo de 5 minutos volta e meia. Hoje temos uma família adotiva aqui, minha filha Gabriela vive designando ‘abuelas postizas’, primos, tios. Mas a conexão com os amigos brasileiros tem um gostinho diferente, eles são parte da minha história, igreja, cultura e coração. Espero que Deus continue proporcionando esses encontros que fortalecem a fé e enchem a alma de amor”. Amanda Schmiedt Rautenberg, participava da Congregação Cristo Rei, em Florianópolis, SC, e desde 2014 mora em San Bernardo, Argentina.