Agosto dourado e o aleitamento materno

Inúmeros podem ser os desafios da maternidade, como poucas horas de sono, idas ao pediatra, rotinas que mudam constantemente, visitas da família e amigos, conselhos e informações de todos os lados. Talvez um dos principais pontos, realizado diversas vezes por dia, é a alimentação do bebê. Assim como importante e necessário para o recém-chegado à família, pode ser um momento de maior fragilidade da mãe. O Agosto Dourado simboliza a luta pelo incentivo à amamentação, e a cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno.

Taiana Tuchtenhagen, mãe de Vicente, de 1 ano e 11 meses, é enfermeira e também membro da Congregação Rei Jesus, de Novo Hamburgo, RS. Para ela, o significado da amamentação vai além do que só alimentar o seu filho, “é um momento único de afeto, cumplicidade, dedicação, paciência, carinho e amor. Amamentar é o início do vínculo mãe-bebê fora da barriga, pois é uma entrega de puro amor para um serzinho que espera por esse carinho”.

Walkiria Pinheiro é coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital e Maternidade Dona Regina e da rede estadual de Bancos de Leite do Tocantins. Ela explica que “através da amamentação, a gente também alimenta com tudo de bom, como o toque, olhar, cheiro, batimento cardíaco, amor, carinho. Além de ser repleto de nutrientes, o leite materno é a primeira ‘vacina’ que o bebê recebe, sendo riquíssimo em anticorpos, que o protege de infecções e alergias”.

Walkiria conta que, no entanto, a amamentação pode ser um desafio para muitas mulheres: “Para umas é muito fácil, o bebê já pega no peito e mama logo, mas para outras podem surgir dificuldades na pega, traumas mamilares e até ingurgitamento mamário – que é o famoso peito empedrado”. O banco de leite é um centro de incentivo, promoção e apoio ao aleitamento materno, e pode ser procurado por toda mulher que tenha dúvida ou dificuldade com a amamentação, desde o pré-natal.

Taiana relata que no início da amamentação teve muita dor e muito choro. “Demorou para ser tranquilo e prazeroso. Mas o que me fazia continuar era aquele olhar enquanto ele sugava com força para sair o seu alimento, era o choro que silenciava quando sentia o cheiro do meu leite, e aquela mãozinha que segurava forte meu dedo durante toda a mamada”, lembra.

Redes de apoio

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo por seis meses, sem água nem chá, e complementado com outros alimentos até dois anos ou mais. No Brasil essa média é de apenas 54 dias. As redes de apoio e políticas públicas são de extrema importância para as mulheres que amamentam, e para possibilitar o prolongamento desse período. “Como a gente quer que as mulheres amamentem exclusivamente no peito se nem todas têm o direito de ficar com seu bebê até os seis meses sem trabalhar? Para isso ser possível, licença-maternidade de seis meses deve ser um direito de todas as mulheres. Precisamos também ampliar a licença-paternidade, porque cinco dias é muito pouco para que esse pai esteja presente e possa apoiar essa mãe, principalmente nos primeiros dias, que são tão puxados e difíceis para todo mundo”, esclarece Walkiria.

Segundo ela, as instituições também precisam dar condições para a mulher que retorna ao trabalho, como salas de apoio à amamentação, onde ela possa retirar seu leite para, no final do plantão, levar para casa e, no dia seguinte, deixar para seu bebê. “Essas políticas fazem toda a diferença”, ressalta Walkiria.

Como mãe de primeira viagem, Taiana conta que sempre sonhou com a amamentação, mas chegou a pensar que não iria conseguir. “Os relatos que eu ouvi me encorajaram a continuar com a amamentação, pois o medo era enorme. Por isso foi indispensável minha rede de apoio, que naqueles momentos de tristeza, incapacidade, fraqueza, ela estava ali para me ajudar”.

Já em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Enfermagem, Taiana abordou o aleitamento materno, e isso a fez acreditar que seria a parte mais fácil da maternidade. “Achei que não tinha como dar errado, mas, infelizmente, errei. Já na primeira noite fiz uma fissura no seio, porque ele havia sugado muito e de uma forma errada, e lá vieram dores, choro e cobrança da minha parte de ter fracassado. Mas consegui enfrentar os desafios com ajuda de profissionais da saúde, família, amigos, e por ele (Vicente) eu consegui amamentar e continuo amamentando com muito orgulho até hoje”.

Hoje Taiana trabalha na ala obstétrica de um hospital de Novo Hamburgo, RS, e auxilia outras mães que passam pelas mesmas dificuldades. “O medo da amamentação é nítido em todas as gestantes, que vêm carregadas com muitas informações. Precisamos passar calma e tranquilidade para promover uma amamentação bem-sucedida. Busco estratégias de comunicação para ser entendida, escutar e mostrar que o caminho vai ser árduo, mas não impossível de viver”. Ela acrescenta ainda que é importante lembrar que a participação da família é fundamental para uma amamentação com sucesso.

Taiana conclui dizendo que: “A amamentação é o nosso momento, é o momento de olho no olho, é o momento de afeto, de amor e carinho. Por isso eu digo que vale a pena amamentar. Viva esse momento com o seu filho, viva a experiência única de se aproximar desse amor incomparável por um filho”.

Bancos de leite

Além de auxiliar a lactante com dúvida ou dificuldades, o banco de leite também orienta e ajuda quando a mãe tem uma produção de leite superior à necessidade de seu bebê. Ou seja, depois que o bebê mama no peito e ela sente que pode tirar mais um pouco, ela doa o leite para o banco de leite. “A gente vai na casa da doadora, leva o kit da doação, ensina como a mãe vai retirar esse leite e armazenar, os cuidados higiênicos necessários para não contaminar e esse leite não estragar. E pode doar a qualquer momento, independentemente da idade do bebê. Se ela tem leite sobrando e quer doar, essa doação é sempre bem-vinda”, explica Walkiria.

O leite doado ao Banco de Leite é destinado a bebês prematuros, de baixo peso, com alergias a proteínas heterólogas ou cirurgiados, que normalmente estão internados em UTI neonatal ou unidades neonatais. Walkiria esclarece que “o leite do banco de leite é muito específico para isso e não atende um bebê que esteja saudável em casa. Com um litro de leite, a gente alimenta uns dez bebês prematuros por dia”.

Walkiria também deixa um apelo: “Então a gente conta com o apoio de toda a sociedade. A mãe que está amamentando e tem leite sobrando, seja nossa doadora e ajude a salvar vidas de bebês internados nas unidades neonatais. Que a sociedade apoie as mulheres que estão amamentando, para que consigam vencer as dificuldades. Esse apoio começa em casa, com o companheiro, com a família, se estende aos profissionais da saúde, da atenção básica. As instituições precisam apoiar essas mulheres que amamentam. Os governos precisam de políticas que estimulem e incentivem a amamentação e apoiem a mulher que quer amamentar, para que ela consiga amamentar exclusivamente por seis meses e complemente com outros alimentos até dois anos ou mais. E para que a gente consiga aumentar os estoques dos bancos de leite, incentivar a amamentação faz parte, porque é com a mulher amamentando que a gente vai melhorar nossos estoques”.

O Agosto Dourado simboliza a luta pelo incentivo à amamentação, e a cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno.

*No Hospital Dona Regina, seriam necessários de oito a 10 litros por dia para alimentar 46 bebês, mas o estoque não suporta. Atualmente, o Brasil conta com 223 Bancos de Leite Humano e 215 postos de coleta; a lista pode ser consultada em aqui.

Confira aqui a matéria sobre o projeto Gotinhas em Ação, realizado por crianças para ajudar o Banco de Leite do Hospital Dona Regina, em Palmas, TO, clicando aqui.

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