Não raras vezes escutamos na igreja que um membro deixou de frequentar os cultos por não gostar do pastor. Algumas vezes ouvimos que pastores pediram demissão de suas congregações por problemas de “alinhamento” com a diretoria.
Quantas vezes os pastores tiveram que intervir em questões familiares de seu rebanho por motivos de desavenças entre irmãos, ou entre casais, ou entre pais e filhos.
Nem vou me aprofundar nos conflitos no ambiente de trabalho, com vizinhos, ou na escola, em que sempre se ouve aquela expressão de “não gostar de alguém.”
Andamos muito mal até hoje neste aspecto. Dentro e fora da igreja.
Se você pensava que tudo se resumia a uma questão de “incompatibilidade de gênios” lamento, acho que você e eu estávamos equivocados. Não se trata nem um pouco de não gostar de alguém, não simpatizar, muito menos de “gênios”. Tem a ver com “desconhecimento”.
Perdemos muito tempo em nossas vidas com coisas fúteis e inúteis, e não estudamos o chamado “ser humano”. E o resultado só pode ser um: não nos conhecemos.
Não poderia ser de outra maneira se observarmos que o cristão lê a Bíblia, mas não estuda a Bíblia. Resultado: não conhece seu Deus. O cristão precisa estudar a Bíblia, ler literaturas cristãs, e sob este aspecto somos muito abençoados por termos uma editora com farto alimento.
Precisamos, sim, estudar o ser humano. E para tal, indico a obra maravilhosa do pastor e professor Enio Starosky: Temperamentos & Religião, da editora Kapenke. Disponível também na Editora Concórdia. www.editoraconcordia.com.br
É um livro simplesmente fantástico! Que mudou minha percepção, seja como cidadão, no convívio em sociedade, seja como advogado, trabalhando com pessoas, seja na igreja, exercendo liderança.
Tomo ousadia de dizer que é uma leitura obrigatória para o exercício de liderança na igreja. Pena não ter tido acesso a tal conhecimento alguns anos atrás. A obra, em que pese ser uma tese de doutorado, não é de leitura difícil. É o tipo de livro que diz o óbvio em linguagem científica. Exemplo: nos diz que o problema nos relacionamentos não é devido a gosto ou simpatia, mas de falta de compreensão da diversidade da natureza humana. No livro, este entendimento fica assim descrito:
“Estamos convencidos de que grande parte do sofrimento psíquico, físico e do estresse de nosso mundo resulta de desentendimentos entre pessoas bem-intencionadas e não de divergências irreparáveis. Sendo assim, poderemos melhorar muito a qualidade de nossa vida cotidiana se compreendermos como somos e o modo próprio como reunimos e processamos nossas informações; se compreendermos como chegamos a esta ou àquela conclusão ou decisão e como comunicamos os nossos pensamentos, sentimentos e desejos.”
O problema é que não nos entendemos porque só vemos as nossas diferenças. E somos muito diferentes, é na forma de falar, de pensar, de entender, na cor de pele, no gosto por alimentos. Os seres humanos são de uma diversidade muito grande. E, é só isso que enxergamos: a diversidade. E enxergamos como algo ruim.
Acontece que essa diversidade não é escolha nossa, nem fruto da sociedade, é obra do Criador, e não conseguimos ver isso porque não entendemos com extensão e profundidade o que está escrito em Gênesis 1.26 “Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.
O que significa ser à imagem e semelhança de Deus?
A resposta é simples. Deus não é único? Então, se Deus é único e nos fez à sua imagem e semelhança, isso quer dizer que somos, todos, únicos. O planeta não poderia ter bilhões de “Fabios”. Seria um mundo insuportável e teria entrado em colapso muito antes do dilúvio.
Se cada um de nós é um ser único, isso quer dizer que todos nós somos diferentes uns dos outros. Então, por que você quer que seu próximo seja igual a você? Que pense como você? Que goste do que você gosta? Que tenha as mesmas opiniões que você?
Você está querendo ser Deus e fazer o próximo à sua imagem e semelhança?
Pare já com isso! Pare de querer que as coisas sejam “do seu jeito”, e ao invés de fazer cara de nojo diante da diversidade, louve-a, porque tudo que Deus fez é bom. E esta diversidade foi pensada, planejada, amorosamente desenhada só para você. Então, como diz o prof. Enio em seu livro: celebre a diversidade.
O Criador nos fez únicos. Então comece a entender e a compreender o próximo. E nesse sentido, Temperamentos & Religião nos mostra e ensina que as pessoas possuem temperamentos diferentes, mais precisamente quatro temperamentos básicos, que, combinados, nos dão 16 tipos de temperamentos, tornando os seres humanos uma obra magnífica, complexa e única.
Ao compreendermos como cada temperamento se comporta, se comunica e atua, passaremos a entender que Fulano e Sicrano não são “chatos”, mas foram, de forma única, moldados pelo Criador para que se completem e, juntos, obtenham grandes resultados, seja na igreja ou fora dela.
E quando o autor nos apresenta os quatro evangelhos característicos, com quatro temperamentos diferentes, fica tudo ainda mais claro nos relacionamentos dentro da igreja, e poderemos chegar a uma triste conclusão, de que erramos muito no passado, e só não teve consequências piores porque a igreja não é nossa, mas de Cristo, e, de uma forma ou de outra, ele acaba sempre nos conduzindo.
– Ah, se não fosse a cruz, que seria de nós?
Por fim, encerro estimulando você a procurar entender o próximo, nas palavras do prof. Enio, “humanizando as relações e compreendendo as pessoas, porque o compreender é também um ato de admirar, de perceber e acolher outras formas de conceber, de ver e de pensar o mundo do outro; de abrir-se na autêntica postura para o diálogo com o outro; e, sobretudo, de repudiar o espírito de demonizar o diferente e de apegar-se àquele desejo de sempre querer tornar o outro uma cópia perfeita de mim mesmo”.
E se você não conseguir uma fonte para estudar mais sobre isso, apegue-se ao ensinamento maior de Jesus: amar e perdoar. Aceite, suporte, perdoe.
Fabio Leandro Rods Ferreira
Porto Alegre, RS