Camponesa ou rainha?
Nas canções pastoris hebreias, reelaboradas em Cântico dos Cânticos, ouve-se a ternura de vozes femininas. Distante do amado, a camponesa lembra palavras, anseios, buscas, projetos, andanças; exposta, no trabalho, aos calores do dia, o sol tisnou a pele. Vem a voz da rainha, também conhecida como Sulamita. Quem é camponesa? Quem é rainha? O Cântico dos Cânticos faz da camponesa e da rainha uma personagem só. Em toda jovem vive uma rainha.
A cantora
A cantora orgulha-se da pele bronzeada. Lembra as filhas de Jerusalém, alvas por viverem em recintos fechados. Atarefada com rebanhos e vinhas, o canto ritma afazeres. O sol integra a jovem na paisagem, ela vê semelhanças entre sua tez e a cor escura das tendas, morada de gente nômade. Localidades como Cedar e Salma teriam desaparecido, se as dores do peito inquieto não as tivessem guardado na memória. Amor encanta. Dos lábios do Criador procede a palavra que ilumina o universo, lábios rubros buscam o amado, lábios femininos anunciam a Redenção.
O sonho
A hora almejada evoca o sabor do vinho, o odor dos perfumes, a carícia dos unguentos. O nome (shem) sonhado, ecoa no óleo (shemen), a pastora move-se protegida pelo nome amado. O conúbio chama a natureza: mirra, vinhas, relva, cedros, ciprestes, narcisos, açucenas, espinheiros, macieiras, cervas, gazelas…
Sentimentos
De sentimentos falam as cantigas. As emoções (domésticas, campestres, ousadas, sensatas, esquivas, guerreiras) não acontecem previsíveis como o movimento dos quadrúpedes e das aves. O amor inquieta, tranquiliza, ilumina.
A busca
Os caminhos da montanha desembocam nas ruas de Jerusalém. A capital abre-se em labirinto de abalos. A pastora, embora tímida, transforma a metrópole. O rei corre desvairado numa Jerusalém noturna, misteriosa. Por que não recorre a guardas para capturar a fugitiva? O que lhe valeria uma mulher submetida à força? As cadeias do amor prendem com a força da ternura. As circunstâncias ignoram autoridade; na busca da pastora evasiva, o monarca descobre segredos escondidos em si mesmo. Quem o visse, não notaria a dignidade real, perceberia um homem que exulta, busca e sofre. O rei recebe uma mulher livre, pés voluntários aproximam-se de braços anelantes.
A vitória
O amor é forte como a morte. A morte dissolve, o amor ata vidas, constrói continuidades. O amor é forte como a morte, forte é a luta contra a morte. Na tortura imposta ao Redentor, vitorioso é o amor. Paulo escreve epístolas iluminado pelo Crucificado. Lembrado do Cântico dos Cânticos, o apóstolo elabora um hino ao amor, joia da literatura mundial.
Sugestão da redação
Se você tiver interesse em conhecer mais do livro bíblico Cântico dos Cânticos (ou Cantares) de Salomão, sugerimos a leitura da Introdução e o próprio livro Cântico dos Cânticos, na Bíblia de Estudo Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil, a partir da p.1129.
Acesse aqui a versão impressa.