Preciso admitir: eu pertenço àquela geração que fazia, na verdade ainda faz, piadinhas com isso; que dá um sorrisinho com o canto da boca quando lê um título de duplo sentido como o que escrevi acima; que comenta jocosamente sobre o tamanho do dedo do médico; e que conhece de cor meia dúzia de anedotas sobre a ida ao proctologista – um tabu que parece fazer parte do universo masculino.
Não por acaso, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Centro de Referência de Saúde do Homem, 70% de nós só vamos ao médico se formos acompanhados, e 50% somente procuramos atendimento quando a doença já está em estado avançado.
Assim, vocês já devem ter reparado que a expectativa de vida das mulheres é sempre maior que a dos homens. No Brasil, por exemplo, uma mulher vive em média 80,1 anos, ao passo que os homens vivem sete anos a menos. Boa parte desta diferença se deve a esta crença boba de que “cuidar da saúde não é coisa de homem”.
Mas eis que chega o mês de novembro e somos levados à reflexão sobre a gravidade de nosso preconceito. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, estimam-se no Brasil 65.840 novos casos de câncer de próstata em 2021, ou seja, atingirá 63 homens a cada grupo de 100 mil. Para vocês terem uma ideia do quanto isso significa, essa estimativa é superior aos casos relativos de câncer de mama.
Apelidado de “movember”, uma combinação em inglês de moustache (bigode) e november (novembro), este movimento surgiu na Austrália em 2003, com o objetivo de chamar a atenção dos homens à importância do diagnóstico precoce de doenças. Ou seja, uma reação ao instinto “machão” de nos considerarmos inabaláveis, mesmo diante da infalibilidade da morte.
Não precisamos temer a morte, é verdade! Porém é imprescindível também respeitarmos o dom da vida, e, sendo este um dos maiores presentes que recebemos, precisamos ter responsabilidade com o que nos é dado por Deus; aliás, é muito clara a advertência deixada pelo apóstolo Paulo: “Será que vocês não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo, que está em vocês e que vocês receberam de Deus, e que vocês não pertencem a vocês mesmos? Porque vocês foram comprados por preço. Agora, pois, glorifiquem a Deus no corpo de vocês” (1Co 6.19-20).
“Cuidar do corpo”, assim, nos lembra da importância da prática de exercícios, de uma alimentação mais saudável, do cuidado com vícios e outros abusos, mas, também, da importância de cuidados e exames preventivos periódicos, visitas a diversas especialidades médicas, até porque boa parte das doenças que podem tirar nossa vida chegam de forma silenciosa.
Quando essas campanhas começaram a ser difundidas, seu principal objetivo era uma ruptura de paradigmas sobre a resistência que temos de ir ao médico. Porém, cuidar do próprio corpo, de nossa saúde, não é algo que fazemos por nós mesmos: além de cuidar deste santuário, do presente de Deus, também devemos lembrar daqueles que amamos e que querem nossa companhia pelo máximo tempo possível. Neste Novembro Azul, permita-se este toque de consciência: cuide-se, previna-se, visite seu médico regularmente.
Ives Moller, presidente da Liga de Leigos Luteranos do Brasil